Morte de adolescente espancado por PMs revolta familiares

    Após quatro dias em coma, Gabriel Paiva, 16 anos, morreu ontem à noite. Segundo testemunhas, menino foi espancado por PM com um pedaço de pau

    Gabriel Paiva, em foto divulgada nas redes sociais

    “Isso não vai ficar assim”, promete um dos irmãos de Gabriel Alberto Tadeu Paiva, 16 anos, na noite desta quinta-feira (20/4), diante da porta do Hospital  Regional Sul, meia hora após receber a notícia de que seu irmão caçula havia morrido, vítima de agressões cometidas por policiais militares.

    “O policial bateu no meu filho até ele entrar em coma”

    Segundo testemunhas, Gabriel foi agredido por quatro policiais militares do do 22º BPM/M (Batalhão da Polícia Militar Metropolitano), um deles armado com um pedaço de pau, na noite de domingo (16/4), durante uma ação da PM que dispersou um grupo de jovens reunidos diante de um bar, no Jardim Domitila, região de Cidade Ademar, zona sul da cidade de São Paulo.

    Gabriel quando estava na UTI, fotografado pela família

    O menino passou quatro dias em coma induzido, com um coágulo no cérebro, num vai-e-vem de hospitais: primeiro, Hospital Regional de Pedreira, depois, Regional Sul, de onde foi transferido de novo para o Pedreira, para ser outra vez levado ao Regional Sul. Ali, não resistiu mais e sofreu uma parada cardiorrespiratória.

    “Isso não vai ficar assim”, o irmão repete. “Por favor, não coloca meu nome na sua reportagem, porque não quero me expor, mas pode dizer que isso não vai ficar assim. Temos testemunhas do que aconteceu. Meu irmão foi espancado pela polícia, e não foi só ele. Vamos até o fim. A gente quer justiça”, disse. A mãe de Gabriel, a comerciante Zilda Regina de Paiva, 46 anos, que estava ao lado, nesse momento não conseguia dizer mais nada.

    Hoje a família passou o dia no Instituto Médico Legal (IML) Sul, no bairro do Brooklin, à espera da liberação do corpo de Gabriel, que passou por uma necropsia.

    Imagem de Gabriel criança divulgada no Facebook por amigos

    A pedido do advogado Ariel de Castro Alves, coordenador da Comissão da Criança e do Adolescente do Condepe (Conselho Estadual dos Direitos da Pessoa Humana de São Paulo), o ouvidor-geral das polícias, Julio Cesar Fernandes Neves, solicitou apuração do caso para a Corregedoria da PM, a Polícia Civil e o Ministério Público Estadual.

    Em nota divulgada ontem, a Secretaria da Segurança Pública (SSP), do governo Geraldo Alckmin (PSDB), informou que as agressões a Gabriel estavam sendo investigadas pelo comando do 22º BPM/M, com acompanhamento da Corregedoria da PM, e pelos policiais civis do 80º DP (Vila Joaniza). Segundo a nota, os PMs investigados foram afastados do policiamento de rua.

    Segundo o conselheiro Ariel de Castro Alves, as investigações 80º DP “só vão se iniciar na segunda-feira, dia 24, após o feriado e final de semana, por falta de estrutura da Polícia Civil”. Ele considerou a demora “lamentável”.

    Moradores da região afirmam que um dos policiais que atacou Gabriel é conhecido na favela como “Negão da Madeira”, pelo hábito de levar em seus patrulhamentos um pedaço de pau para espancar jovens da comunidade. A SSP não comentou essas acusações.

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