Polícia levou 363 dias para prender suspeitos de matar Marielle e Anderson

    Sargento reformado da PM Ronnie Lessa e ex-PM Elcio Vieira de Queiroz são acusados de terem praticado emboscada para execução da vereadora carioca

    Negra, pobre, lésbica e periférica, Marielle foi executada no centro do RJ | Foto: Leonardo Coelho/Ponte Jornalismo

    Uma ação da Polícia Civil do Rio de Janeiro com o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), do MPRJ (Ministério Público Estadual do RJ), prendeu dois suspeitos de terem assassinado a vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes, no dia 14 de março de 2018. As prisões acontecem há exatos 363 dias das execuções.

    Segundo informações apuradas pelo jornal Extra, a promotoria aponta que o sargento reformado da Polícia Militar Ronnie Lessa, de 48 anos, e o ex-PM Elcio Vieira de Queiroz, estavam no carro prata que emparelhou com o veículo de Marielle. Queiroz, expulso da corporação, estava na direção, enquanto Lessa teria atirado.

    Ambos foram levados para a DH (Delegacia de Homicídios) da capital, responsável por apurar o crime ao longo deste quase um ano. Os homicídios e a tentativa de homicídio da assessora Fernanda Chaves, que sobreviveu ao ataque, completam exatamente um ano nesta quinta-feira (14/3). Além das prisões, a ação faz busca e apreensão na casa do PM e do ex-PM.

    A promotoria, em trabalho liderado pelas promotoras Simone Sibilio e Leticia Emile, aponta que o crime foi premeditado “meticulosamente” por ao menos três meses. “É inconteste que Marielle Francisco da Silva foi sumariamente executada em razão da atuação política na defesa das causas que defendia. A barbárie praticada na noite de 14 de março de 2018 foi um golpe ao Estado Democrático de Direito”, sustenta a dupla na denúncia.

    Elcio Vieira de Queiroz e Ronnie Lessa, acusados pelas execuções |Foto: Reprodução/O Globo

    O trabalho investigativo chegou nos dois suspeitos com a quebra de sigilo digital do telefone celular do PM Lessa, que acompanhava a agenda de evento dos quais Marielle Franco participava. O policial também pesquisou informações sobre o então deputado estadual Marcelo Freixo (padrinho político de Marielle no Psol) e dados de uma submetralhadora.

    Ainda ficou constatado que Lessa tentou despistar os investigadores usando um celular bucha (registrado em nome de outra pessoa) para não ser ligado à cena do crime. O celular particular do PM estava na zona sul na hora do crime, por volta de 9h da noite do dia 14 de março de 2017. No entanto, os policiais civis da DH se basearam em triangulações nas antenas até chegar ao celular usado dentro do veículo prata que seguiu Marielle e Anderson antes de atacá-los.

    Lessa sofreu um atentado no dia 27 de abril de 2018, quando ele e um amigo acabaram baleados por um homem em uma moto. Registrado como tentativa de assalto, o caso chamou a atenção da polícia do Rio pois o PM da reserva chegou a ser socorrido ao hospital Municipal Lourenço Jorge, na Barra da Tijuca, mas deixou o espaço logo depois sem receber atendimento ou dar explicações. Antes, em 2009, o policial teve uma perna amputada em decorrência de outro ataque, quando uma bomba explodiu na caminhonete blindada que ele dirigia. Desde então, Lessa usa uma prótese e, por conta disso, manca.

    O sargento fez parte do Exército Brasileiro e entrou na PMERJ (Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro) em 1992. De acordo com o Extra, ele foi cedido pela corporação para o quadro da Polícia Civil, atuando na extinta DRAE (Delegacia de Repressão a Armas e Explosivos), na DRFC (Delegacia de Repressão à Roubo de Cargas), na extinta Divisão de Capturas da Polinter Sul e na DAS (Divisão Anti-Sequestro). Ronnie Lessa foi preso no mesmo condomínio em que o presidente Jair Bolsonaro (PSL) tem uma casa, na Barrada Tijuca, área rica do Rio de Janeiro.

    Informações da TV Globo apontam que as investigações foram divididas pela Polícia Civil e o Gaeco. Esta primeira parte focou na identificação dos atiradores, enquanto uma segunda parte investiga os mandantes para o crime. Haverá uma coletiva de imprensa na manhã desta terça-feira (12/3) para detalhas a ação.

    Repercussão

    Freixo, que hoje é deputado federal, cobrou das autoridades a necessidade de descobrir não apenas quem matou, mas os mandantes da morte de Marielle.

    Companheira de Marielle Franco, Mônica Benício fez a mesma cobrança.

    A deputada federal Talíria Petrone (Psol-Rio), amiga de Marielle e uma de suas herdeiras políticas, foi na mesma linha.

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