Aluna sofre agressão transfóbica em escola de Mogi das Cruzes (SP)

    Caso ocorreu na manhã desta quarta-feira (09/02), após vítima de bullying tentar reagir. Secretaria de Educação de São Paulo diz que mobilizou equipe especializada

    Uma estudante do ensino médio da rede estadual de ensino foi vítima de transfobia na manhã desta quarta-feira (09/02). O caso aconteceu na escola Galdino Pinheiro Franco, na cidade de Mogi das Cruzes, região metropolitana da cidade de São Paulo. A aluna, que teve seu nome e idade preservados, foi alvo de agressões físicas e xingamentos por parte de outros adolescentes.

    Cansada de sofrer bullyng, a vítima decidiu revidar as ofensas e sofreu agressão coletiva. Vídeos gravados pelos jovens que estavam na escola mostram uma confusão generalizada dentro e fora da sala de aula, onde vários alunos partem para cima da aluna trans. A briga ocorreu na hora do intervalo e o estopim para o início do embate foi a reação da estudante após ter sido atingida por uma garrafa de água jogada contra ela.

    https://ponte.org/casal-denuncia-transfobia-em-atendimento-medico-em-sergipe/

    “Recebemos essa denúncia através das redes sociais e estamos tentando, por diferentes modos, fazer contato com a vítima e com a família para dar o acolhimento necessário e cobrar providências por parte do poder público”, afirma a presidente e fundadora do Fórum Mogiano LGBT, Regina Maria Tavares.

    Professora aposentada, Regina ressalta que um dos fatores que podem ter contribuído para que as agressões contra a estudante acontecessem é o fato da escola onde ocorreu o episódio de transfobia ter passado a ser de ensino integral e não ter mais turnos divididos. 

    “Não houve consulta à comunidade para fazer essa mudança. O espaço físico da escola é muito grande e acredito que não tenha funcionários suficientes que deem conta de contornar uma situação como a de hoje. Uma escola que já tem histórico de machismo e LGBTfobia, passando a ser de período integral de uma hora para outra, acredito que só vá piorar a situação”, argumenta.

    Retorno às aulas presenciais e discurso de ódio nas redes

    O chefe de gabinete da Secretaria Estadual de Educação de São Paulo, Henrique Pimentel, defende o ensino em período integral na escola de Mogi das Cruzes, salientando os benefícios que isso pode trazer para os estudantes, sem deixar de levar em conta os casos ocorridos no passado dentro da unidade de ensino. 

    “Essa escola tem um histórico de violência”, diz. “A gente acredita que o estudante ficando um período maior dentro do ambiente escolar traz resultados positivos na convivência com ambiente escolar tendo uma série de atividades durante todo o dia.”

    De acordo com Henrique Pimentel, foi acionada a patrulha escolar da Polícia Militar para levar a estudante em segurança para casa e a secretaria está em contato com a família para prestar os atendimentos necessários. Ainda pela manhã foi acionada uma equipe do programa Conviva SP. Essa é uma ação da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo (Seduc) criada para identificar vulnerabilidades de cada unidade escolar, para a implementação do Método de Melhoria de Convivência, além de atrelar ações proativas de segurança.

    https://ponte.org/a-escola-que-fechou-os-olhos-para-os-abusos-contra-uma-menina/

    O episódio de agressão ocorre no terceiro dia após a rede estadual voltar em sua totalidade ao modo presencial, após um longo período de ensino à distância e suspensão das aulas.

    Para Regina Maria Tavares, o retorno após tanto tempo, mais a legitimação do discurso de ódio cada vez mais amplificado nas redes sociais, podem ajudar a entender a causa das agressões sofridas pela jovem.

    “Eles passaram muito tempo trancados dentro de casa, mas tem também o fato que vivemos um momento que é fomentado a todo instante o ódio e a intolerância contra pessoas LGBTQIA+. Claro que isso não vem de hoje. Eu fui aluna nos anos 1970, período da ditadura militar, e havia essa perseguição contra as mulheres trans. Parece que estamos vivendo tudo de novo.”

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    Henrique Pimentel é enfático ao informar que a Secretaria de Educação de São Paulo não irá tolerar novos episódios como os ocorridos em Mogi das Cruzes. Ele lembra que os professores e funcionários receberam capacitação antes do início do ano letivo com foco no público LGBTQIA+.

    “A Seduc acolhe essa população. Hoje temos mais de mil alunos na rede que são tratadas pelo seu nome social. A escola é um lugar de pluralidade, de ideias, de evidências e que tem que ser acolhedor e seguro para todos os estudantes. A gente acredita muito que a pluralidade faz parte do convívio escolar e isso é um tema central do nosso currículo”.

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