Homem relata que foi até a Igreja Internacional da Graça de Deus, comandada pelo pastor R.R. Soares, buscar doações mas foi barrado na porta por fiéis e enforcado por segurança
Vivendo há 6 meses sem moradia no centro da capital paulista, Leandro Calixto Barreto da Cruz, 44, e Suelen Domingues, 33, precisam recorrer a doações e ao auxílio de assistência social enquanto procuram emprego. Foi com essa intenção, de procurar ajuda, que Leandro decidiu ir até a Igreja Internacional da Graça de Deus, localizada na Avenida São João, centro da capital paulista, no último dia 13 de novembro, acompanhado da esposa, e acabou sendo expulso do local e agredido por um segurança.
À Ponte, ele relata que foi ao templo no sábado, dia 12, pedir doação de algumas roupas e foi orientado pela pastora Raquel Francelina Gonçalves Santiago a retornar no dia seguinte logo após o horário do culto. Comandada pelo missionário R.R. Soares, a unidade é a sede estadual da Igreja Internacional da Graça de Deus e possui um departamento social coordenado por Raquel que faz doações à população em situação de vulnerabilidade.
Já no local, Leandro foi orientado por dois fiéis e a pastora a aguardar o atendimento fora da sede. “Quando eu voltei no domingo às 13h, os pastores que ficam na mesa da porta da igreja me olharam do pé à cabeça. Talvez viram que eu estava de chinelo, com o pé um pouco sujo e estou com uma ferida no dedo [do pé] com pus. E aí eles falaram assim: ‘espera aí do lado de fora’. E eu falei: ‘aqui não é uma igreja? É um local público né? Por que eu tenho que fica do lado de fora?’”, questionou.
Em seguida, Leandro entrou no local e sentou em uma cadeira enquanto esperava para pegar as doações com a pastora Raquel. “Eu coloquei o pé em cima da cadeira para mexer na ferida e aí esses homens chegaram em mim de uma forma assim, arrogante: ‘pô, tira o pé da cadeira aí rapaz, eu não falei para você esperar lá fora? Vai lá pra fora’. E eu falei ‘eu não vim aqui para arrumar confusão, eu vim aqui porque a pastora falou para a gente vir aqui. Você como pastor, me tratar desse jeito, você não vai para o céu’”, conta.
Leandro diz que na hora os dois fiéis se irritaram com a situação e chamaram um segurança que, segundo ele, atua nos arredores da igreja e já foi visto agredindo pessoas em situação de rua. “Começou uma discussão e ele [o segurança] me deu um ‘mata-leão’ [golpe de enforcamento], me arrastou uns 20 metros para fora da igreja e me deu uma cabeçada na cara. Eu quase desmaiei”, denuncia. Os hematomas no pescoço de Leandro foram constatados em um exame de corpo de delito que ele fez após registrar boletim de ocorrência no 3º DP (Campos Elíseos).
“Eu sofri ali uma discriminação por ser pobre, uma aporofobia. Foi uma crueldade que fizeram, ainda mais dentro de um templo de Deus tratar o próximo assim”, aponta. Sem os donativos, Leandro diz que tomou remédios e ficou com a garganta inflamada por conta da agressão. Segundo ele, sua esposa Suelen também ficou traumatizada e na hora tentou defendê-lo do segurança. Os dois passaram meses morando em uma barraca na rua e atualmente conseguiram vaga em um albergue próximo à Av. São João, com a ajuda do gabinete do vereador Eduardo Suplicy (PT).
Procurada pela reportagem, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) informou que aguarda uma representação criminal da vítima para dar continuidade às investigações.
Outro lado
A Ponte entrou em contato por telefone ao longo da tarde desta quarta-feira (30/11) com a Igreja Internacional da Graça de Deus, mas não obteve retorno.