PMs matam dois suspeitos em ação ‘gravíssima’, define ouvidoria

    Força Tática foi acionada para conter homens que roubaram um caminhão e os mataram sem indício de confronto, segundo ouvidor

    Dois homens morreram baleados por policiais militares da Força Tática na tarde do dia 30 de novembro, no Jardim Iguatemi, zona leste da cidade de São Paulo. O motivo seria um roubo de caminhão e o fato de terem atirado contra os PMs, segundo a versão oficial. No entanto, a Ouvidoria da Polícia questiona o histórico oficial de que houve confronto e cita descumprimento de protocolos da corporação.

    O B.O. (Boletim de Ocorrência) do caso detalha que os PMs Thiago Roberto Esteves da Costa Torres, Elizei Ferreira de Lira e Lucas Chaves Mendes de Sousa foram chamados por um motorista e seu ajudante. Informados sobre o roubo do veículo, o encontraram e teve início uma perseguição.

    Na rua Confederação dos Tamoios, o caminhão parou e os PMs abordaram os suspeitos. Na versão dos policiais, os homens atiraram e forçaram o revide da tropa, que matou ambos, que estariam com um revólver calibre 38. Peterson Algarve laureano, 31 anos, ficou com 12 ferimentos causados pelos disparos, um deles na mão. Já Renan Costa Lins, de 19, tinha dos ferimentos.

    Vídeos obtidos pela Ponte mostram o momento em que os policiais da Força Tática abordam os dois suspeitos. Nas imagens é possível ouvir o som de tiros enquanto um dos homens ainda está dentro do veículo, mas nenhuma imagem que mostra algum dos dois homens com armas nas mãos. O outro rapaz corre para a calçada. Logo atrás, um homem se esconde atrás de um carro e retira seu filho de colo às pressas quando os disparos param.

    Os policiais integram o 38º Batalhão da PM, localizado em São Mateus, extremo leste da capital paulista. Segundo informações da GloboNews, que deu a ocorrência em primeira mão, eles foram afastados da Força Tática e atuarão em policiamento comunitário durante a investigação. Durante a ação o PM Chaves disparou três vezes na direção dos suspeitos, Esteves, cinco, enquanto Lira, um.

    Segundo o ouvidor da polícia, Benedito Mariano, houve uma clara falha de procedimento na atuação destes policiais. “A ocorrência não levou em conta os conceitos do Método Giraldi sobre uso de arma de fogo, que são: necessidade, oportunidade, proporcionalidade e qualidade. É uma ocorrência gravíssima”, define o profissional. O método citado envolve situações em que o PM pode usar sua arma, situação “extrema” na atividade policial. Ele deve atirar duas vezes na direção do abdome do suspeito.

    A Ouvidoria enviou ofício para a Corregedoria da PM investigar paralelamente o caso e avocar as apurações. “Pedi os laudos balístico e necroscópico. Há indícios de que não houve confronto e [a ação policial] colocou em risco a integridade física de terceiros, sendo uma delas uma criança de colo”, prossegue Mariano.

    Sequência da chegada da PM, abordagem, e disparos com homem ainda no caminhão | Foto: Reprodução

    À Ponte, a SSP (Secretaria da Segurança Pública) do Estado de São Paulo, comandada pelo general João Camilo Pires de Campos neste governo de João Doria (PSDB), afirmou que ela e a PM “não compactuam com desvios de conduta de seus agentes”.

    “Por determinação da própria secretaria ( resolução SSP/40), os casos de morte decorrente de intervenção policial são rigorosamente investigados pelo DHPP (Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa) e pelas corregedorias das corporações, com o acompanhamento do Ministério Público e do Poder Judiciário para constatar a legitimidade das ações”, diz a pasta.

    Tanto o DHPP quando a Corregedoria da PM investigam os detalhes das mortes de Peterson e Renan. A secretaria ainda afirma que, de janeiro a outubro de 2019, abriu 2.479 inquéritos para investigar possíveis desvios de condutas de policiais.

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