Ritual comandado pelo Padre Luciano Borges, pároco da favela, relembra os nomes e as memórias dos mortos após ação da PM em baile funk
Três levas de balões formavam grandes adereços em frente a Paróquia São José, localizada no coração da favela de Paraisópolis, zona sul da cidade de São Paulo. As pessoas reunidas ali celebravam a vida e lembravam das nove vítimas do massacre ocorrido em Paraisópolis uma semana antes, na madrugada do dia 1º de dezembro.
As mortes de jovens entre 14 e 23 anos motivaram o encontro religioso. Mais do que a tristeza, reinou no local a vontade de relembrar as nove vidas perdidas decorrente de uma ação da PM através de rezas e cânticos.
“Viemos celebrar a vida e quem se foi”, resumiu o padre Luciano Borges, que liderou a cerimônia, acompanhada por aproximadamente 200 pessoas na Rua Itajubaquara, onde fica a sede da paróquia e de outras igrejas evangélicas.
Parte dos balões carregavam os nomes de Bruno Gabriel dos Santos, 22 anos, Marcos Paulo Oliveira dos Santos, 16, Denys Henrique Quirino da Silva, 16, Mateus dos Santos Costa, 23, Eduardo da Silva, 21, Luara Victoria Oliveira, 18, Gabriel Rogério de Moraes, 20, Dennys Franca, 16, e Gustavo Cruz Xavier, 14.
O pisoteamento teria acontecido após uma moto furar bloqueio da PM, invadir o baile e disparar contra os policiais, que revidaram. A confusão causada no baile da DZ7, que tinha cerca de 5 mil participantes, culminou com o pisoteamento dos nove. Vídeos mostram ação truculenta e agressões por parte dos policiais, mas nenhum mostra moto entrando no baile ou garrafas jogadas na tropa, conforme a versão oficial.
Nenhum integrante das nove famílias esteve presente no local. Segundo Frei André, outro religioso que atua na comunidade, todos foram convidados para relembrar de seus entes, mas preferiram fazer o ritual em suas próprias regiões. Todos os mortos moravam fora de Paraisópolis, seja em bairros de São Paulo ou em cidades da região metropolitana.
Em alguns momentos as pessoas presentes não seguraram a emoção, demonstrada em choro, na mão esticada aos céus ou ao ajoelharem para rezar. O pedido era por paz e garantir com que a juventude tenda o direito mais básico: o da vida.
O espaço em que a missa foi celebrada fica aproximadamente 800 metros distante de onde as nove vítimas do massacre de Paraisópolis morreram. O beco entre as ruas Ernest Renan e Iratinga, cercado pelos policiais na madrugada do dia 1º de dezembro, está agora revestido de grafites em suas paredes. São críticas contra a polícia, o governador João Doria (PSDB) e pedidos pelo fim da violência.