A cultura do Congo e a situação dos refugiados em debate na Matilha Cultural

    Caramante
    Cartaz sobre as atividades na Matilha Cultural – Imagem: Reprodução

    Entre os destaques, um bate-papo com Omana Petench criador da ONG Mungazi

    A Matilha Cultural abre suas portas, neste sábado (8/07), para a cultura do Congo. Comida típica, música e debate estão programados a partir das 18 horas. A ideia desse encontro é discutir a situação dos refugiados no Brasil e sua representação na mídia.

    Para o debate estarão presentes Omana Petench, refugiado do Congo e fundador da ONG Mungazi; a jornalista Silvana Nuti diretora do documentário A Linguagem do Coração; a cineasta Eliane Caffé, diretora do filme Era o Hotel Cambridge e Marcelo Haydu, da ADUS (Instituto de Reintegração de Refugiados).  Para completar, estarão à venda roupas e acessórios africanos. Todos os produtos são feitos por refugiados ou por ONGs que os representam.

    Para abrir a noite, será exibido A Linguagem do Coração que retrata a história de refugiados em São Paulo. Um dos personagens centrais do documentário é Omana Petench, o ex-professor universitário do Congo conta porque escolheu o Brasil para viver:

    “Eu me dei conta que há uma coisa cultural muito importante que foi subtraída pela colonização. Eu vim aqui para o Brasil como refugiado. Politicamente, eu sou um refugiado. Mas, culturalmente, eu não sou. Eu vim a um país que meus ancestrais chegaram como escravos. Agora eu venho livre. Venho livre e sei que tenho de resgatar algo que foi escondido. Ainda tenho de ser capaz de valorizar isso: a cultura e a língua”, diz.

    E em busca desse resgate cultural Omana fundou a ONG Mungazi, que atua na Zona Leste de São Paulo. A proposta da organização está em acolher refugiados, mas também divulgar a cultura africana e a língua suaíli (Swahili).

    Caramante
    O congolês Omana Kasongo Ngandu Petench

    Omana Kasongo Ngandu Petench nasceu em 14 de outubro de 1965, na província de Kisangani, na República Democrática do Congo. Estudou Letras, Ciências e Cultura Africana na Université Nationale Pedagogique, em Kinshasa, a capital. “Eu queria ser professor, mas só poderia virar titular após escrever minha tese. Fui à França para estudar e lá pude olhar meu país com outros olhos. O Congo é um dos países do mundo com os maiores índices de violência contra as mulheres. Também me incomodava o recrutamento de crianças pelas milícias para a guerra. Voltei decidido a refletir sobre essa situação”.

    De volta ao Congo, Omana se tornou professor universitário, casou com Bibiche Tiba Omana, que também dá aulas na Mungazi, e tiveram seis filhos. “Eu voltei ao meu país e não podia aceitar aquela situação. Uma guerra política, que roubava nossas riquezas, recrutava crianças como soldados e violentava mulheres. Criei uma ONG e passei a atuar em defesa dos direitos humanos”, conta.

    A partir de 2008, organizava reuniões e conferências em defesa dos direitos da mulher. Manifestações foram realizadas por todo o país. O movimento cresceu juntamente com a ira do governo. Omana foi preso, torturado e foi feriado a bala – uma tentativa de homicídio frustrada. “O governo não aceitava críticas, muito menos nossas manifestações. Não sei como sobrevivi, mas no hospital, o médico me alertou que não poderia ficar no Congo. Todos pensaram que eu escolheria a França, mas quis vir para o Brasil. Um país que recebeu meus ancestrais”.

    Omana perdeu uma filha, vítima da violência do governo. Chegou ao Brasil em 2013 e teve apoio da ONG Cáritas, associada ao Adus (Instituto de Reintegração do Refugiado) no processo de requerimento do Registro Nacional de Estrangeiros (RNE). Passou um ano sem notícias da família, que só conseguiu vir para o Brasil em abril de 2016.

    “Aqui em São Paulo eu comecei a dar aulas de francês e de história da África e conseguia mandar dinheiro para a minha família lá no Congo. Senti as dificuldades dos refugiados. É muito difícil conseguir emprego, moradia. Temos a barreira da língua. Então, decidi ajudar aqueles que estão chegando”.

    Hoje a Mungazi atende 1365 refugiados, a maioria da África. A ONG atua de duas formas. A primeira é dando apoio aos refugiados recebendo doações e distribuindo roupas, mantimentos e brinquedos. O outro braço é educativo. “Ensinamos e resgatamos a cultura africana. Também ensinamos línguas como o suaíli, inglês, francês e até o português. Gastronomia e música fazem parte das nossas atividades, principalmente com as crianças”. A Mungazi tem uma estrutura básica para atender os refugiados. O próximo passo é angariar recursos para criar um Centro Cultural.

    Serviço:

    Matilha Cultural

    Rêgo Freitas, 542 – República

    São Paulo – Telefone: (11) 3256-2636

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