‘A vida pede passagem’: atos homenageiam vítimas de feminicídio no Brasil

    Em SP, manifestação homenageou a bailarina Magó, 25 anos, estuprada e morta em Mandaguari (PR), e Cris Nagô, 43, assassinada enquanto dava aula de capoeira na Paraíba

    Centenas de pessoas participaram de ato em SP | Foto: Sérgio Silva/Ponte Jornalismo

    Com o tema “a vida pede passagem”, grupos de capoeiristas, dançarinos e feministas foram às ruas de diversas cidades do país em atos de repúdio ao feminicídio e em homenagem à bailarina Maria Glória Poltronieri Borges, 25 anos, morta no último dia 26 de janeiro, após realizar uma cerimônia religiosa em uma cachoeira no município de Mandaguari (cidade paranaense a cerca de 400 km da capital, Curitiba), e à capoeirista Cristiana Soares, 43 anos, morta enquanto dava aula de capoeira, em Campina Grande (a cerca de 130 km de João Pessoa, na Paraíba), no dia 1º de fevereiro.

    Segundo organizadores, as manifestações aconteceram simultaneamente em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Garopaba (SC), Ubatuba (SP), Itaparica (BA), além de Santiago (Chile) e Bolonha (Itália). 

    Protesto pedia fim de feminicídios | Foto: Sérgio Silva/Ponte Jornalismo

    Na capital paulista, o ato começou por volta das 15h30, saindo da Praça do Ciclista após a explicação, em forma de jogral, sobre o motivo da manifestação: “Estanos aqui para mostrar que somos muitas, estamos juntas e unidas somos mais fortes. Não toleramos mais o desrespeito às mulheres, o feminicídio, qualquer violência contra mulheres, qualquer discriminação contra mulher, a misoginia, a violência sexual, o machismo estrutural, a impunidade, o silenciamento”.

    A caminhada até o Theatro Municipal, no centro histórico da cidade de São Paulo, passando pela rua da Consolação, foi repleta de girassóis e camisetas com brancas com o rosto de Maria Glória, a Magó, distribuídas por familiares da bailarina.

    Durante a manifestação, mulheres passavam com folhas de abaixo-assinado pedindo maior rigor contra autores de crimes contra a mulher. “A gente está recolhendo assinaturas para que as leis que estão em vigor possam ganhar estrutura nas delegacias e em lugares onde as mulheres possam ir e se sentirem acolhidas, e de certa forma ir contra esses atos de violência que não aguentamos mais”, disse a dançarina Otilia Francoso, de 52 anos, amiga de Magó. 

    Manifestantes carregavam girassóis distribuídos em ato | Foto: Sérgio Silva/Ponte Jornalismo

    Magó foi encontrada morta em uma cachoeira do município no interior paranaense. Segundo a família, a jovem tinha sinais de violência sexual e as investigações teriam chegado em quatro homens suspeitos. Ainda de acordo com familiares, foi realizado exames de DNA para identificar o responsável pelo crime e foi encaminhado para o IML (Instituto Médico-Legal) de Curitiba, responsável por emitir o laudo final.

    Procurada pela reportagem, a Polícia Civil do Paraná disse apenas que “o caso está sendo apurado” e informou que “outros detalhes não serão fornecidos para não atrapalhar o andamento das investigações”. 

    Segundo o pai da vítima, Maurício Borges, a bailarina foi à cachoeira fazer rezas e celebrações religiosas, além de cultivar a natureza, como tinha costume de fazer, por seguir rituais e tradições ancestrais indígenas. No dia que ela foi, o local, que costuma ser vazio, tinha muitas pessoas porque acontecia um treinamento de bombeiros e guardas civis, segundo o pai.

    Magó teria interagido com o grupo que usava o local para treinamento antes de preparar as barracas para passarem a noite acampados. Quando a noite chegou, ainda segundo Maurício, um dos homens que treinava no local viu que a bailarina não voltou e teria chamado os demais membros do grupo para procurá-la. As buscas encerraram quando uma mulher, que seria a responsável pelo local, disse que a jovem estava bem e tinha saído com o namorado. Essa versão deverá ser investigada pela polícia, segundo o pai.

    Durante a manifestação, Maurício destacou a força que a filha tinha e lamentou que “a única luta que ela perdeu na vida foi para esse assassino”. Emocionado, ele disse que “desde que ela se foi, a luta contra o machismo e contra o feminicídio ganhou um novo guerreiro”. 

    Pai de vítima falando com manifestantes | Foto: Sérgio Silva/Ponte Jornalismo

    A outra homenageada da caminhada, Cris Nagô, foi morta por um homem enquanto dava aula de capoeira. Mulher negra e lésbica, segundo amigos, ela foi assassinada enquanto fazia o que mais gostava. 

    As informações preliminares apontam que o suspeito de ter cometido o crime é um ex-aluno dela. Mas a Polícia Civil da Paraíba ainda não chegou a nenhum possível responsável e apura quais teriam sido as motivações do crime.

    Manifestação acabou no centro de São Paulo | Foto: Sérgio Silva/Ponte Jornalismo

    A atriz Dany Oliveira, de 21 anos, destacou que a homenagem a Magó e Cris Nagô, que acontece a um mês do Dia Internacional da Mulher, é importante também para conscientizar outras mulheres. “Elas não foram as primeiras e nem as últimas a serem assassinadas neste país violento contra as mulheres, então é importante esse tipo de ato para as mulheres pensar em como se organizar e se juntar para construir um mundo melhor, além de ser um preparativo para o ato de 8 de março”, afirmou. organizar e se juntar para construir um mundo melhor, além de ser um preparativo para o ato de 8 de março”, afirmou. 

    O ato terminou no início da noite, com apresentações artísticas na escadaria do Teatro Municipal, na região da República, no centro histórico da capital paulista.

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