Caminhada pela Vida e pela Paz volta às ruas da zona sul de SP após dois anos

Ato foi do Jardim Ângela ao Cemitério São Luiz nesta quarta (2) de Finados para lembrar os mortos pela violência do Estado e quem morreu na pandemia de Covid-19

Caminhada ateve início na Igreja do Santos Mártires, no Jardim Ângela | Foto: Gil Luiz Mendes / Ponte Jornalismo

O Dia de Finados começou com chuva e muito frio no Jardim Ângela, na zona Sul da cidade de São Paulo, mas nada que impedisse a 27ª edição da Caminhada pela Vida e pela Paz, após dois anos sem que o evento ganhasse as ruas por conta da pandemia. A manifestação, que ocorre há quase três décadas, relembra as vítimas da violência do Estado e este ano rememora aqueles que se foram por conta da Covid-19.

“Há mais de 20 anos que caminhamos pela vida e pela paz. Começamos em 1996, quando o Jardim Ângela foi considerado o lugar mais violento do mundo. O bairro estava sempre no jornal por conta disso, e claro que isso veio junto com muito racismo e preconceito”, conta Regina Paixão, coordenadora do Fórum de Defesa da Vida.

Regina lembra que a ideia de criar a caminhada anualmente partiu do Padre Jaime, antigo pároco da Igreja dos Santos Mártires, localizada no bairro. “Ele dizia que estava cansado de enterrar jovens da comunidade no cemitério São Luiz. Por isso que a nossa caminhada começa aqui na igreja e vai até lá. Porque é lá que estão enterrados os nossos jovens.”

A mobilização dos moradores, junto com os movimentos sociais locais e as igrejas da comunidade, foi responsável para que o quadro de violência vivido no passado diminuísse e equipamentos públicos fossem inseridos na comunidade para aumentar o acesso a direitos no território.

“Através da nossa luta conseguimos trazer para cá o Hospital do M’boi Mirim, as bases comunitárias da PM, a cobertura total das UBS. São muitas as conquistas, mas a gente também quer continuar marcando essa data para que ela seja lembrada como um momento de resistência, porque a gente viu recentemente o atual presidente falando que todos os moradores de favela são bandidos e a gente não pode aceitar isso”, enfatiza Regina Paixão.

O ato, que saiu do Jardim Ângela, passou pelo Jardim Thomaz, Parque Santo Antônio, até chegar ao cemitério São Luiz, teve a presença de movimentos sociais e de mães que perderam seus filhos pela violência de agentes do Estado. 

Maria Cristina Quirino é mãe de Denys Henrique, um dos nove jovens mortos em Paraisópolis após uma ação da Polícia Militar para encerrar um baile funk em 2019. “Venho aqui para continuar lutando pela memória do meu filho e renovar as minhas forças na busca de justiça pela morte dele.”

Políticos também participaram da caminhada e se mostraram esperançosos com o futuro do país e a defesa dos direitos humanos com a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) como presidente do país. O deputado federal reeleito Paulo Teixeira (PT-SP) afirmou que ainda vai retomar direitos que foram perdidos nos últimos anos. “Temos que ir em busca do direito ao trabalho, ao acesso à renda, uma educação de qualidade e uma segurança pública cidadã no país”.

A caminhada terminou com um ao ecumênico entre evangélicos, católicos e umbandistas. Além de orações, uma procissão foi feita, onde cruzes levavam nomes de pessoas que foram mortas por conta da violência ou da Covid-19. Assistentes sociais que atuam na região receberam uma homenagem da comunidade pelo trabalho exercido durante o tempo de pandemia.

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“Todo mundo é parecido quando sente dor e sofre de saudades por alguém que se foi. Quando a gente se junta no amor, nesta comunhão e vai para rua, isso é uma benção de Deus. Mesmo nessa chuva a comunidade se fez presente e protagonizou um momento linda” afirmou o pastor Levi Araújo ao final do ato.

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