Emicida comemora dez anos de carreira com gravação de DVD

    “Todo mundo quer fazer um especial da consciência negra, como se nóis não existisse nos outros 11 meses do ano”, criticou rapper durante show em SP

    Emicida na gravação do DVD | Foto: José de Holanda/Divulgação

    Às 19h da segunda-feira, 20, os portões da Áudio Club, casa de shows na Barra Funda, zona oeste da cidade de São Paulo, são abertos. Do lado de fora, uma multidão, mais de 3 mil pessoas, aguardava a gravação do primeiro DVD da carreira de Leandro Roque de Oliveira, mais conhecido como Emicida, em comemoração aos 10 anos do primeiro single.

    Caetano Veloso e Emicida | Foto: Leandro Godoi/Audio

    “Nóiz [sic] vai lembrar do 20 de novembro como uma data de vida, uma data de força, uma data de beleza, uma data de inteligência, uma data de resistência, uma data de superação, tá ligado mano? Contra um mundo podre e viciado, a gente se manteve intacto. Vinte de novembro é isso. Obrigado, Zumbi dos Palmares”, enfatizou Emicida durante a apresentação.

    “Sabe porque o 20 de novembro? Por que o nosso telefone não para quando chega novembro. Todo mundo quer fazer um especial da consciência negra, como se nóiz [sic] não existisse nos outros 11 meses do ano”, criticou o rappper.

    Vanessa da Mata e Emicida | Foto: Leandro Godoi/Audio

    Duas horas depois, às 21h o show começava. De lá até o final do espetáculo, foram mais de três horas repletas de convidados especiais, incluindo Caetano Veloso, Pitty, Karol Conká, Vanessa da Mata, MC Guimê, Rael e o time completo na música “Mandume”, com Drik Barbosa, Amiri, Rico Dalasam, Muzzike e Raphão Alaafin (desta vez a canção contou também com a presença do rapper Rashid, amigo de longa data de Emicida).

    Com público diverso em idade, classe social e etnias, as três horas de show foram bem aproveitadas: cada canção ou participação especial era recebida com entusiasmo e aplausos constantes. As questões sociais e raciais apresentadas por Emicida, aliás, são um dos motivadores de seus fãs.

    Para o designer Diego Cruz, 30 anos, o rap traz a representatividade negra pois “eleva a autoestima da população preta e periférica, inclusive na busca por outros espaços dados como impossíveis. Também reforça essa luta diária bem como busca ressignificar essa data como uma data de vida”.

    Karol Conká e Emicida | Foto: Leandro Godoi/Audio

    A educadora social Roberta Ferreira Domingos, 24 anos, reforça o que o rapper disse sobre a escolha da data. “O Emicida não poderia ter escolhido data melhor. No dia da consciência negra, queremos relembrar que a nossa história, a história dos negros escravizados na senzala, não foi à toa, não foi pequena e não é vitimismo. É uma história de luta, superação e conquistas. Eles ainda ecoam em nossas almas e estamos nessa data, todos juntos, falando através do rap aquilo que eles passaram”, diz Roberta.

    Rael e Emicida | Foto: José de Holanda/Laboratório Fantasma

    Com um repertório inédito, mesclando hits antigos da primeira mixtape “Pra quem já Mordeu um Cachorro por Comida, até que eu Cheguei Longe…”, de 2009, até o último álbum “Língua Franca”, de 2017, passando por uma música inédita em parceria com Karol Conká, Emicida agitou a noite e encheu seu público fiel e animado de boas canções. Triunfo, A Cada Vento, I Love Quebrada, Boa Esperança, Chapa, Alma Gêmea e Levanta e Anda foram alguns hits que levaram agitaram os fãs do rapper da zona norte de São Paulo.

    Foto: José de Holanda/Laboratório Fantasma
    Foto: José de Holanda/Laboratório Fantasma

     

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