Ex-comandante da PM de Goiás é condenado após morte de policial que escoltava sua amante

    Coronel Carlos Antônio Elias foi preso após condenação do Tribunal de Justiça ao ordenar que policial acompanhasse amante para compras em São Paulo. Sargento morreu na cidade de Embu das Artes (SP), em 2010, ao evitar assalto

    Coronel Elias comandou PM goiana entre 20 de novembro de 2008 e 31 de dezembro de 2010 | Foto: Renato Conde/O Popular

    O sargento Paulo Ricardo Moura Rezende não teve nenhuma dificuldade para chegar a São Paulo em um VW Gol Power na cor vermelha, 1.6, com placa NFZ-3711 de uso restrito às atividades da SSP (Secretaria de Segurança Pública do Estado de Goiás) depois de sair de Goiânia por volta de 4 da manhã no dia 5 de julho de 2010, uma segunda-feira. A ida sigilosa, contudo, nada tinha a ver com o serviço da PM. Rezende garantiria a segurança da empresária Joice Pereira de Azevedo, apontada como amante do comandante-geral da PM goiana à época, o coronel Carlos Antônio Elias utilizando a viatura descaracterizada. O Tribunal de Justiça aceitou a denúncia do Ministério Público do Estado de Goiás (MPGO) e condenou Elias, que foi recolhido na quinta-feira (21/9) em um alojamento na Academia da PM, em Goiânia.

    No dia seguinte, Joice e o sargento foram sacar R$ 10 mil em uma Agência do Banco Itaú, no Centro Histórico de Embu das Artes (SP). Despreocupada, afinal estava na companhia de um experiente policial, a empresária foi abordada pelo assaltante Mássimo Souza quando saía do local. O sargento reagiu e trocou tiros com o ladrão que o acertou quatro vezes. Um tiro na cabeça matou Rezende no local. O assaltante, mesmo ferido com um tiro na perna, conseguiu se arrastar até uma viela conhecida como Jardim Silvia, onde foi preso. Antes, porém, jogou a arma em um córrego.

    Apesar de uma operação para abafar o caso, o ex-comandante não conseguiu deixar de vir à tona o uso de serviço e recursos da Secretaria de Segurança para proteção da mulher. Foi instaurado um Inquérito Policial Militar (IPM), de número 2011.01.00012, para averiguar como se deu o caso envolvendo o coronel.

    Além do ex-comandante-geral da PM goiana, foram denunciados Henrique Stefli de Souza e Abílio Rocha Neto, que era chefe de gabinete do Comando-Geral e a própria empresária Joice Pereira de Azevedo pelo crime de Improbidade Administrativa. O art. 303 classifica o crime por “apropriar-se de dinheiro, valor ou qualquer bem móvel, público ou particular de quem tem a posse ou detenção, em razão do cargo ou comissão ou desviá-lo em proveito próprio ou alheio”.

    Condenação no TJ ocorreu por improbidade administrativa, embora o ex-comandante está preso | Foto: Renato Conde/O Popular

    No texto da decisão do Tribunal, De Souza, que ocupava o cargo de Ajudante de Ordens do comando-geral, confeccionou ordem de Serviço inserindo falsa declaração de que o sargento estava a serviço da Corporação Militar “na tentativa de justificar o peculato-desvio”, afirma o inquérito. “Procurou o denunciado Abílio, chefe de gabinete do Comando-Geral, solicitando que assinasse tal documento, o que foi feito, tornando-o apto a produzir efeitos, agindo em coautoria”, prossegue.

    Quando soube da morte do sargento, segundo depoimentos obtidos pela Ponte no IPM, o ex-comandante-geral da PM determinou que o Capitão Stefli de Souza viajasse a São Paulo com o cabo Altair Paulo Soares. A ida, também sigilosa, era para “buscar o corpo do sargento e retirar da delegacia a arma e o veículo oficial que se encontravam retidos”, como diz o texto da denúncia do MPGO.

    O cabo Altair Soares retirou o veículo, mas permaneceu em São Paulo. Ele terminaria a missão dada pelo coronel Elias ao sargento assassinado: esperaria Joice terminar as compras. O próprio cabo afirma isto em depoimento. Os dois saíram de São Paulo em 7 de julho e chegaram a Goiânia no dia seguinte. Segundo o Ministério Público, viagens com escolta de PMs, usando carros e honorários, foram feitas ainda para Brasília, São Félix do Araguaia (MT) e, inclusive, para visitar os pais da empresária.

    Na denúncia, o promotor Fernando Aurvalle Krebs concluiu: “Tal ato traduz-se em ato de improbidade administrativa, uma vez que o requerido agiu dolosamente ao determinar que a segunda requeira fosse escoltada por policiais militares, utilizando-se de veículos da PM, inclusive fora do Estado de Goiás, com o único objetivo de proteger sua amante”.

    Outro lado

    A reportagem telefonou para a defesa dos réus, mas não conseguiu retorno.

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