Homenagem valoriza a memória negra de São Paulo

     

     Evento celebra figuras que se destacaram na defesa da igualdade racial, hoje, na Câmara Municipal

    Memória Negra 2

    Quatro jovens lideranças que se destacaram no combate ao racismo serão homenageadas hoje, (1/12), no evento Memória Negra de São Paulo, que ocorrerá na Câmara Municipal de São Paulo, a partir das 19 horas, por iniciativa do vereador Netinho de Paula (PCdoB) em parceria com a SMPIR (Secretaria de Promoção da Igualdade Racial), da prefeitura de São Paulo.

    Os agraciados serão a jovem estudante de direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie Tamires Gomes, primeira mulher negra a ser presidente do centro acadêmico da universidade pelo curso de Direito; o professor de história e militante do movimento negro Douglas Belchior; o músico e mestre Marquinhos Jaca e o empresário Evandro Fióti.

    A celebração pretende reunir os cidadãos paulistanos para refletir sobre a memória da cidade, lembrar os grandes nomes que contribuíram no combate ao racismo e exaltar os novos nomes que somam na luta por uma sociedade mais igualitária.

    Os quatro homenageados são exemplos de determinação. Estão buscando e alcançando cargos e espaços ainda limitados para os negros, como é o caso da jovem universitária Tamires que, antes de assumir o centro acadêmico, realizou com outros colegas grupos de discussão sobre a questão da inclusão social e o combate às desigualdades sociais. Assim como ela, Douglas, Marquinhos e Evandro são pessoas que arregaçaram as mangas por justiça social em uma das maiores cidades brasileiras e de rica diversidade social.

    Racismo cotidiano

    Evandro Fióti é vice-presidente do Laboratório Fantasma, que fundou junto com o irmão Leandro Roque de Oliveira, mais conhecido como Emicida. Fióti é empresário da carreira profissional do irmão músico assim como do cantor Rael. A guinada veio há cinco anos quando o jovem deixou a gerência dentro da rede McDonald’s e tomou as rédeas do seu destino.

    O racismo sempre fez parte do seu cotidiano. Porém, ele nunca esmoreceu. Pelo contrário. Os reconhecimentos dão certeza que, sim, Fióti está no lugar que deveria estar por mérito. Quando fundou sua empresa, em 2009, almejava o desenvolvimento, mas confessa que o crescimento foi maior do que esperava. E hoje comemora a sua realização profissional.

    Para ele, diante das dificuldades da vida e das cobranças diárias, receber essa homenagem e ser referência na Memória Negra de São Paulo é um grande incentivo na luta contra o racismo. Questionado sobre o fato da premiação ocorrer no Estado que foi o último a abolir a escravidão, ele relata que, ainda morador da periferia, ao frequentar espaços da classe média e alta, onde a riqueza é mais concentrada, ele é visto como um extraterrestre. “É muito constrangedor ter que provar e explicar o que você está fazendo no lugar. Eu não tenho que dar satisfação a ninguém. Essas coisas vão calejando a gente e nos deixam mais fortes. As dificuldades deixam claro contra o que lutar e buscar”, explica. “O prêmio é importante nesse sentido também. É um carinho, um reconhecimento muito importante”, conclui.

    Reconhecimento

    Evandro afirma que não se imaginava sendo homenageado junto a pessoas tão qualificadas. “É bom saber que estão vendo o que a gente está fazendo ao longo dos anos, sabe? Demos alguns passos que foram importantes para o movimento musical. Muita gente do mercado se inspira no que a gente fez”. Por isso, acredita, é muito bom “poder ter alguém com o olhar de cima, dizendo ‘esses moleques são guerreiros’. Por ousar, por querer fazer coisas novas e não só ficar restrito ao que seria mais cômodo para a sociedade, a gente toma muita pedrada”, relata.

    Para o empresário, na luta diária contra o racismo, o que mais dói é ver as pessoas da região onde ele mora acreditando que o preconceito racial não existe. “Essa briga é muito difícil. A mídia deturpa muita a informação e constrói uma realidade como se não existisse racismo no Brasil, como aquelas campanhas nos estádios de futebol, como se todos fossem da mesma cor e tal”.

    Segundo Fióti, ao se tirar o foco da discussão, não se encara o problema. De acordo com ele, não se fala, por exemplo, “das pessoas que estão morrendo por conta disso [racismo], da quantidade de jovens barrados na faculdade por conta da cor ou da classe social, da quantidade de gente que não consegue se locomover na madrugada. Não se discute esse tipo de coisa para parecer que não existe racismo”.

    Para mudar o cenário do país em relação ao racismo, ele defende leis, cotas e ações de combate ao preconceito racial. “Elas são necessárias e a eficácia delas a gente vai comprovando com o passar do tempo. Temos que ter cotas para todos os gêneros discriminados”, explica. “Cansa sofrer diversas vezes a mesma coisa por pessoas diferentes”.

    Local: Câmara Municipal, Plenário 1° de Maio, primeiro andar
    Horário: das 19h às 22h
    Data: 01/12/2014

    Já que Tamo junto até aqui…

    Que tal entrar de vez para o time da Ponte? Você sabe que o nosso trabalho incomoda muita gente. Não por acaso, somos vítimas constantes de ataques, que já até colocaram o nosso site fora do ar. Justamente por isso nunca fez tanto sentido pedir ajuda para quem tá junto, pra quem defende a Ponte e a luta por justiça: você.

    Com o Tamo Junto, você ajuda a manter a Ponte de pé com uma contribuição mensal ou anual. Também passa a participar ativamente do dia a dia do jornal, com acesso aos bastidores da nossa redação e matérias como a que você acabou de ler. Acesse: ponte.colabore.com/tamojunto.

    Todo jornalismo tem um lado. Ajude quem está do seu.

    Ajude

    mais lidas