Homens ofendem casais gays e matam rapaz a facadas na Avenida Paulista, em SP

    Segundo uma das vítimas, xingamentos homofóbicos começaram do nada e assassinos fugiram pelo metrô; polícia procura dupla

    Plínio sonhava ter um salão de cabeleireiro em Franco da Rocha | Foto: Arquivo pessoal

    Plínio Henrique de Almeida Lima, auxiliar de cozinha de 30 anos, comemorou o primeiro dia de férias no Parque do Ibirapuera com dois amigos e o marido. Curtiram a sexta-feira (21/12) e voltaram para casa, já planejando como seria o Natal. Dois homens interromperam os planos dos casais gays com ofensas homofóbicas e, no fim, mataram Plínio com uma facada.

    O caso aconteceu por volta de 22h nas esquinas da Avenida Paulista com a Avenida Brigadeiro Luís Antônio, local movimentado de São Paulo neste horário – a região é composta por bares. Plínio, o marido e o casal de amigos, também gays, estava andando quando as ofensas começaram. Um das vítimas relata à Ponte.

    “Estávamos voltando do Ibirapuera, passaram dois caras e começaram a mexer com o marido dele e meu namorado. Estavam provocando, tinha teor homofóbico. Já falaram antes e deram esbarrão no meu namorado. Deixamos passarem, mas eles continuaram”, conta Henrique Souza, 30, assistente administrativo.

    O encontrão motivou os homens a continuarem provocando. Foi quando um a das vítimas se irritou, começou a discutir e o agrediu, segundo relatado no B.O. (Boletim de Ocorrência) do caso. Um dos homens era “menor, baixinho e gordinho”. Na sequência, um deles puxou a faca e acertou um golpe no tórax de Plínio.

    “Nem vimos de onde saiu a faca”, relembra Henrique. “Eu e meu namorado fomos atrás e ele falou: ‘Vem vocês agora’. Foi quando pedi socorro em um bar, ninguém fez nada, ninguém tentou segurar. Os dois correram para a estação Brigadeiro e sumiram. Foi quando voltei para trás, o marido do Plínio estava lá dizendo que ele morreu”, continua.

    Os assassinos conseguiram escapar sem dificuldades e agora são procurados pela polícia. Segundo a SSP, o caso foi registrado como homicídio no 78º DP, na região dos Jardins. “Equipes da delegacia analisam as imagens das câmeras de segurança do Metrô e dos vídeos do celular de uma testemunha e dos prédios da região. Diligências estão em andamento para localizar e prender os autores”, explica a pasta.

    Questionada sobre se tratar ou não de um crime de discriminação e homofobia, a SSP aponta que, “neste momento, todas as hipóteses são investigadas”.

    Extrovertido e sonho do negócio próprio

    Além de ajudante de cozinha, Plínio trabalhava como cabeleireiro nas horas vagas. Seu sonho era justamente conseguir dinheiro para abrir o próprio negócio em Franco da Rocha, cidade onde morava com o marido. Os dois estavam juntos há sete anos e há quatro se casaram no papel.

    “O Plínio era uma pessoa muito feliz, todo mundo gostava dele. Era trabalhador, tinha as coisas dele e estava conquistando aos pontos. Ele sempre falava em montar o salão dele, terminar de montar a casa pra viver com o marido, comprar um carro… Vários sonhos”, conta o amigo.

    Henrique o conhecia há dois anos, tempo suficiente para se aproximar do jeito brincalhão de Plínio. “É uma pessoa que recebia todo mundo bem, de coração bom. Ninguém tinha o que falar dele”, relembra, dizendo nunca ter relato do amigo sofrer outros casos de homofobia.

    “Ele sempre se reconheceu como gay, não tinha nenhum problema com isso. Até então, andava de mão dada com o marido onde quer que fosse. Não sei falar de algum outra situação de discriminação que ele tenha vivido. Junto comigo, nesses dois anos, não”, diz.

    Familiares lamentaram a morte do jovem ajudante de cozinha pelas redes sociais. Camila Nascimento, prima de Plínio, relembrou que ele a ajudou a superar a perda de um namorado e agora estava lidando com a morte do primo.

    “E hoje acordo com essa notícias que perdemos você, primo. Perdemos para a ignorância, intolerância e falta de respeito com a escolha do próximo. Primo, lembro do nosso último encontro: foi por acaso, mas foi maravilhoso. Caramba! Como rimos aquele dia no trem, rimos de tudo e de todos”, relatou Camila. “Ficarei com essas lindas lembranças suas, te amo. Vai em paz”.

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