Idosos relatam sofrer perseguição de PM e descaso da Corregedoria

    Aposentado de 64 anos afirma que corregedor o mandou procurar imprensa para resolver problema com PM no interior de SP

    Idoso afirma que PM jogou pedra em seu carro | Foto: Arquivo pessoal

    Um casal de idosos afirma sofrer perseguição do cabo da Polícia Militar Glaubert Ferreira Barbosa, que atua na cidade de Pirapozinho, interior de São Paulo. Segundo o aposentado Djalma Mariano Oliveira, 64 anos, ele e sua esposa passaram por dois episódios com o militar — o primeiro em março de 2015 e o segundo em fevereiro deste ano.

    Depois do segundo caso, o aposentado disse que procurou a Corregedoria da Polícia Militar, que se recusou a atendê-lo porque ele havia procurado a imprensa no primeiro. “Disseram que eu queria sujar a imagem da Polícia Militar do Estado de São Paulo”.

    No caso mais recente, em 5 de fevereiro, Djalma disse que estava passando pela rodovia Assis Chateaubriand, por volta das 20h, acompanhado de sua esposa, Maria Helena Nunes, 62 anos, quando se deparou com um possível acidente envolvendo um carro, ao lado de duas viaturas paradas.

    Segundo o aposentando, ele parou seu carro pensando que o acidente envolvia um conhecido do casal. O idoso afirma que saiu do carro e foi até o local onde teria acontecido o acidente. Instantes depois, de acordo com Djalma, o PM Glaubert se dirigiu ao carro onde estava Maria Helena e jogou uma pedra contra o veículo.

    Invasão

    De acordo com o aposentado, em março de 2015 o PM Glaubert foi à sua residência, acompanhado de mais um policial militar, procurando por uma pessoa homônima do idoso, dizendo estar com um mandado de prisão por um homicídio que teria acontecido na Bahia. “Era umas 8 horas da noite, eu estava deitado no sofá”, diz o aposentado.

    O idoso conta que foi até o portão para atender os PMs e os questionou se estavam com o mandado de prisão em mãos. “Eu pedi para ver o documento, e ele disse que estava tudo na delegacia. Falou que não estava com nada e que era para ir à delegacia para ver”.

    Djalma afirma que se recusou acompanhar os militares, e voltou para sua residência. A partir disso, o aposentado disse que os PMs levaram o aposentado à força.

    “Eles começaram gritar, perguntando se eu não ia colaborar e dizendo que iam invadir a casa. E invadiram. Pularam o muro, arrebentaram a porta da sala, mas não conseguiram entrar. Abriram um buraco na porta da cozinha, jogou uma bomba de gás. Eu, intoxicado, com os olhos ardendo muito, saí de casa. Eles me agarraram e me levaram para delegacia”.

    Na delegacia, segundo o aposentado, ele foi liberado, pois os PMs haviam feito confusão com os nomes. A aposentado conta que procurou o MPSP (Ministério Público de São Paulo) e a PGR (Procuradoria Geral da República) em busca de indenização para os danos causados pelos PMs. Segundo o aposentado, somente o segundo determinou que a prefeitura fornecesse novas portas. “Depois disso, nada mais foi feito e a Maria Helena nunca foi ouvida”, disse o aposentado.

    O aposentado afirma sentir medo que o PM Glaubert aja novamente contra ele ou sua esposa. De acordo com o Djalma, outras situações mais pontuais aconteceram que aumentaram o medo. “Uma vez estava de bicicleta, e jogaram a viatura em cima de mim. Disso eu não fiz B.O”, disse o idoso.

    Sem Corregedoria

    Quando aconteceu a segunda ocorrência, na rodovia, em fevereiro, Djalma afirma que procurou a Corregedoria da Polícia Militar do Estado de São Paulo — instituição responsável por investigar abusos policiais — para denunciar o fato. O aposentado disse que na primeira ligação foi bem atendido pelo corregedor coronel Levi Anastácio Felix. No entanto, nas ligações seguintes, o aposentado afirma que não foi mais atendido.

    Cerca de uma semana depois da primeira ligação, Djalma afirma que falou com um assistente na corregedoria, o major Zanchetta. Segundo o aposentado, o major teria dito que a corregedoria não iria mais investigar o caso de abuso do PM Glaubert porque em 2015 o idoso havia procurado a imprensa. “Disseram que era para eu procurar a imprensa, já que eu queria sujar a imagem da Polícia Militar do Estado de São Paulo”.

    Na tarde desta sexta-feira (24), a reportagem da Ponte Jornalismo acompanhou duas ligações do aposentado à Corregedoria da Polícia, procurando pelo major Zanchetta. Na primeira ligação, o aposentado foi informado que o PM estava em outro atendimento e não poderia falar. Cerca de dez minutos depois, o idoso ligou novamente e foi informado que o major não estava mais cuidando do caso dele, e que o responsável pela investigação ligaria quando estivesse disponível. Não retornou até o fechamento desta reportagem.

    Outro lado

    A reportagem pediu posicionamento da SSP-SP acerca dos dois ocorridos com o aposentado. Nesta quinta-feira (23/03), a assessoria de imprensa da pasta, que é administrada pela CDN Comunicação, enviou a seguinte nota:

    A Polícia Civil de Presidente Prudente informa que a Seccional do município relatou o inquérito policial, após cumprimento de cota, no dia de 26 de fevereiro de 2016.

    A Corregedoria Auxiliar da Polícia Civil instaurou procedimento administrativo para apurar a conduta dos policiais da Delegacia de Pirapozinho, que foi arquivado após não identificarem indícios de irregularidades funcionais.

    O caso de fevereiro deste ano está em investigação na Delegacia de Pirapozinho. A Polícia Militar apura as circunstâncias do fato e a Corregedoria da Polícia Militar acompanha. É importante esclarecer que não é verdadeira a informação que após ciência da imprensa, o caso não seria mais investigado. Há inúmeros casos que tiveram conhecimento da mídia e que foram solucionados pela Corregedoria. Por fim, cabe ressaltar a importância de denunciar abusos de policiais aos órgãos competentes para que estes possam tomar providências.

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