Jovens culpam PM por tumulto que deixou 3 mortos em baile funk em SP

    Vítima que sobreviveu ao pisoteamento afirma que ação policial foi ‘desproporcional’; Polícia Civil está apurando se há relação entre as mortes e uma tentativa de abordagem próxima do local

    Bruna teve ferimentos nos braços e nas pernas: ‘Foi Deus que me salvou’ | Foto: arquivo pessoal

    Três jovens morreram pisoteados na madrugada de sábado (17/11), no bairro dos Pimentas, em Guarulhos, na Grande São Paulo, durante um baile funk. De acordo com o ativista de direitos humanos Darlan Mendes, as vítimas são Marcelo do Nascimento, 34 anos, Mikaela Maria de Lima Lira, 27, e Ricardo Pereira da Silva, 21. Ele postou nas redes sociais uma nota de repúdio informando que o tumulto foi causado pela ação da Polícia Militar.

    À Ponte também confirmou que a ação policial foi inadequada considerando a multidão que se aglomerava na Rua da Pátria. “As vítimas estão transtornadas, tiveram um filme de terror passando em suas cabeças”, afirmou Darlan, que reiterou a responsabilidade da PM no resultado morte. “A Polícia Militar assumiu o risco de todas as mortes e pessoas com lesões, quando sabia e conhecia o local e realizou o disparo de bombas de gás e bomba de borracha, sabendo que o local era um campo cercado e não teria uma rota de fuga. Ali sabiam que muita gente seria pisoteadas”, criticou.

    O ouvidor das policias de São Paulo, Benedito Mariano, afirmou à reportagem que o órgão vai cobrar apuração sobre o caso. “Nesta quarta-feira, vamos instaurar os procedimentos e acompanhar o inquérito junto da Polícia Civil e da Corregedoria da PM”.

    De acordo com a garçonete Bruna Santos Portugal, 19 anos, que também se feriu, o evento, conhecido como Baile do Vermelhão, acontecia num campo de futebol e estava lotado quando a PM chegou pela Rua Prates. “Eu estava com meus amigos perto do palco e mais ou menos umas 3h, o MC Kapela subiu para cantar e nisso eu só ouvi um ‘olha a polícia!’ e já vieram atirando bomba, gás e todo mundo se desesperou e saiu correndo”, lembra.

    Durante a correria, a jovem afirma que caiu e outras pessoas, inclusive Mikaela, caíram por cima dela. “Ninguém estava entendendo o que estava acontecendo. Machuquei meu braço, minha perna e quando caí no chão, desmaiei”, segue. Bruna conta que só acordou no dia seguinte no hospital, com os ferimentos, o olho vermelho e a dificuldade de respirar por conta do gás lacrimogêneo e do spray de pimenta.

    Três jovens, sendo uma mulher e dois homens, morreram pisoteados | Foto: reprodução

    Felipe Henrique Freitas Rocha, conhecido como MC Kapela, se posicionou via redes sociais afirmando que uma bomba de gás foi lançada em direção ao palco durante a apresentação. “Fui dar um esclarecimento para o pessoal para poder sair do palco e desci, nisso já tinha um corre-corre. A gente desceu pela escada junto com o pessoal, travou tudo lá, pisaram nas minhas costas, ficou boné, microfone, quase fui uma das vítimas”.

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    Para Bruna, a ação foi totalmente desproporcional. “Não sou contra os policiais, respeito muito a profissão, até porque meu primo está estudando e quer ser PM. Meu colega, que é DJ, disse que a polícia só tava passando à paisana, só que teve um grupo de moleques que jogou pedra no carro da polícia e eles reagiram jogando bomba e gás na gente, que estava no baile. Nessa hora da confusão, várias pessoas se machucaram, outras morreram… Foi por pouco, foi Deus na minha vida, porque eu já saí de lá desmaiada”.

    Na segunda-feira (19/11), um suposto vídeo do momento do pisoteamento circulou em grupos de Whatsapp e outras redes sociais, vindo a induzir ao erro até mesmo alguns portais de notícia. Contudo, a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo desmentiu a versão de que o vídeo se tratava desse episódio de Guarulhos, ao descobrir a publicação original, datada de 5 de novembro, em local não identificado.

    Procurada, a Prefeitura de Guarulhos frisou que a Guarda Civil Municipal não participou da ação realizada pela PM e informou que as vítimas foram encaminhadas para o Hospital Municipal Pimentas-Bonsucesso e Policlínica Dona Luiza, mas não resistiram. “O baile funk não tinha autorização para ser realizado. Em diversas ocasiões, a GCM, em conjunto com a PM, realizou ações naquele local para impedir a realização dos pancadões”, destaca a nota.

    Outro lado

    Procurada pela reportagem, a In Press, assessoria terceirizada da Secretaria de Segurança Pública, enviou a seguinte nota:

    O 8º Distrito Policial de Guarulhos investiga a morte de três pessoas após um tumulto, ocorrido na madrugada de sábado (17), durante um baile funk, em Guarulhos. O Setor de Homicídios da cidade acompanha o caso. A PM também instaurou inquérito policial militar para apurar todas as circunstâncias dos fatos e verificar se há conexão entre as mortes e uma tentativa de abordagem, em que os suspeitos fugiram em direção à festa.

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