Justiça decreta prisão de suspeitos de matar fundador da Mancha

    Ponte divulgou nome errado de suspeito, a partir de informação incorreta passada pela polícia

    A Justiça decretou a prisão temporária de dois suspeitos de envolvimento no assassinato de Moacir Bianchi, 48 anos, fundador da Mancha Verde, principal torcida organizada do Palmeiras.

    Bianchi foi executado com 22 tiros na madrugada do último dia 2. Ele estava em seu carro, aguardando a abertura do semáforo na avenida Presidente Wilson, no Ipiranga, zona sul, quando um atirador desceu de um veículo que vinha logo atrás e efetuou os disparos.

    Um homem, cujo nome foi divulgado pela Ponte como um dos suspeitos de envolvimento no crime, não teve, segundo a Polícia Civil, nenhuma participação na morte de Bianchi.

    Policiais do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), unidade de elite da Polícia Civil, apontaram , no entanto, erroneamente, o nome dele como um dos suspeitos.

    Os policiais também informaram à imprensa que ele já havia sido preso anteriormente por envolvimento em um tumulto entre torcedores do Palmeiras.

    O rapaz, realmente, foi detido em 27 de novembro do ano passado participando de tumulto no estádio Allianz Parque, no dia do jogo do Palmeiras com a Chapecoense, pelo Brasileirão de 2016.

    Por conta disso, a Justiça o condenou a prestar serviços à comunidade pelo prazo de 28 horas a serem cumpridos em 30 dias. Porém ele não teve nenhum envolvimento na morte de Bianchi.

    Os nomes dos dois suspeitos pelo assassinato de Bianchi não foram divulgados pelo DHPP nem pelo MPE (Ministério Público Estadual) .

    A Ponte apurou, porém, que o nome de um deles é Marcello Ventola, 38 anos, e que ele é integrante do PCC (Primeiro Comando da Capital).

    Policiais civis alegam que fizeram a confusão com os nomes porque Marcello Ventola se apresentava na Mancha Verde com o mesmo nome do homem acusado erroneamente. Usava nome falso por causa de sua longa ficha criminal.

    Ventola, o novo suspeito apontado pela Polícia Civil e pelo MPE, é um ladrão de condomínios de luxo e de bancos. Integrava a quadrilha responsável pelo furto de R$ 164,7 milhões do Banco Central de Fortaleza, em agosto de 2005, o maior do gênero da história do Brasil.

    Ele chegou a ser preso pela Polícia Federal em 1º de setembro de 2006, na operação “Facção Toupeira”, em Porto Alegre, com outros integrantes do PCC.

    Um deles era Carlos Antonio da Silva, o Balengo, morto em troca de tiros com a PM em novembro de 2008. O confronto ocorreu durante perseguição na zona norte da capital, minutos após Balengo ter realizado um assalto a banco em Guarulhos, na Grande São Paulo.

    O bando havia comprado um prédio na capital gaúcha por R 1,2 milhão. O plano da quadrilha era cavar um túnel do edifício ao Banrisul e, de lá, outro até uma agência da Caixa Econômica Federal, para realizar mais um assalto cinematográfico , dessa vez às duas instituições.

    Acerto de contas

    Segundo o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) de Presidente Prudente, o PCC vai acertar contas com os assassinos de Bianchi.

    Um promotor de justiça do Gaeco disse à Ponte que o serviço de inteligência do MPE tem informações indicando que o PCC não mandou matar Bianchi.

    O promotor afirmou que foi captado um salve (recado) de integrantes do PCC reclamando que a facção não tem qualquer participação na morte do fundador da Mancha Verde e, mesmo assim, teve o nome da organização indevidamente envolvido no crime.

    “Nós interceptamos esse salve. Tudo leva a crer que o PCC não mandou matar o fundador da torcida organizada. Pode até ser que os assassinos sejam integrantes da facção, mas devem ter agido por conta própria, sem consultar o grupo criminoso”, ressaltou o promotor.

    O promotor explicou ainda que, com base no salve interceptado, os integrantes do PCC vão cobrar explicações dos assassinos de Bianchi, tanto nas ruas quanto atrás das grades, caso sejam presos, e inclusive mandou fazer um levantamento para identificar os autores do crime.

    Moacir Bianchi: “Eu vivi intensamente”

    “O PCC não gostou de ter o nome da facção envolvido nessa morte. E isso porque não quer que alguns de seus principais líderes, isolados no RDD (Regime Disciplinar Diferenciado), sejam ainda mais punidos e criticados pela opinião pública”, acrescentou o promotor.

    Três dias antes de ser assassinado, Bianchi apareceu em um vídeo, obtido pelo jornalista Leandro Calixto e divulgado com exclusividade pelo Jornal da Record. Na gravação, ele diz que gostaria que fosse cremado e que ninguém chorasse pela sua morte, pois teria vivido intensamente.

    No dia seguinte ao assassinato, a torcida organizada Mancha Alviverde, que sucedeu a Mancha Verde, fundada por Bianchi, decidiu suspender suas atividades por tempo indeterminado.

    ATUALIZAÇÃO: esta reportagem foi modificada às 19h25 do dia 16/11/2021 para suprimir o nome do homem citado erroneamente como autor do crime, a pedido do próprio citado.

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