Liderado por Bolsonaro, 2021 foi o ano em que a imprensa foi mais agredida no Brasil

Levantamento da Federação Nacional dos Jornalistas mostra que o presidente da República, além de incentivar seus apoiadores serem violentos com jornalistas, também foi o maior causador de ataques à mídia

O presidente da República Jair Bolsonaro (PL) em Paramaribo, no Suriname | Foto: Clauber Cleber Caetano/PR

Desde que Jair Bolsonaro (PL) assumiu a presidência da República os ataques a profissionais de comunicação não param de crescer, indica o relatório Violência Contra Jornalistas e Liberdade de Imprensa no Brasil, elaborado pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj). O levantamento é feito desde a década de 1990, e em 2021 o número de agressões contra a categoria foi a maior da história.

O estudo mostra que apenas no ano passado foram registradas 430 agressões a jornalistas. Para se ter ideia do tamanho da gravidade, em apenas dois anos o número de violência contra a imprensa mais que dobrou. Os dados de 2019 mostram que naquele ano houve 208 agressões. 

A pesquisa deixa claro que o grande causador do aumento de intimidações e agressões contra a mídia parte do próprio presidente. Bolsonaro foi responsável por 147 casos, sendo 129 episódios de descredibilização da imprensa e 18 de agressões verbais a jornalistas. Não à toa, o Distrito Federal aparece como o lugar no país onde o exercício da profissão é mais atacado. 53,54% dos agressões a repórteres que ocorreram no Brasil, em 2021, foram em Brasília.

Correspondente da agência de notícias espanhola EFE, o jornalista Alex Mirkhan atua em Brasília há quase quatro anos e acompanha a rotina do presidente da República e do seu entorno desde o dia da posse, em janeiro de 2019. Segundo ele, cobrir o Planalto se tornou o desafio para toda a imprensa por conta do clima hostil que foi criado contra os profissionais.

“Você tem hostilidade por todos os cantos. Dentro do Palácio, pelos funcionários do governo, pessoas que deviam ajudar no dia a dia da imprensa e não facilitam em nada. Fora a dinâmica do cercadinho, que foi algo realmente novo para muita gente. Aquele foi o período de mais hostilidades diretas, seja pelo presidente ou pelos seus apoiadores que ficavam lá”, relata o repórter.

Na avaliação da presidenta da Fenaj, Maria José Braga, os rompantes de impaciência e agressão de Jair Bolsonaro não são coisas de momentos isolados ou feitos de forma impensada, mas fazem parte de uma estratégia do seu campo político para deslegitimar a imprensa brasileira.

“A extrema direita usa o ataque aos jornalistas como tática de comunicação e política. Isso serve para alimentar a sua indústria de desinformação e é assim que ela consegue manter parte do seu eleitorado, que ainda é apoiador de um governo que é desastroso”, diz Maria José.

O estudo da Fenaj também divide os agressores de jornalistas em dois tipos e ambos têm relação com o presidente. “A má influência de Bolsonaro na questão da violência contra jornalistas pode ser percebida também no comportamento dos cidadãos comuns, que continuaram a figurar entre os agressores, divididos entre manifestantes bolsonaristas (pessoas presentes em manifestações de apoio ao presidente) e internautas/hackers (pessoas que cometeram agressões por meio de redes sociais, quase sempre associadas a reportagens/notícias com críticas ao governo)”, diz um trecho do texto.

O levantamento aponta que manifestantes bolsonaristas foram responsáveis por 20 ataques diretos a jornalistas, o que representa 4,65% do total. Os internautas cometeram nove agressões (2,09%), que somadas aos seis ataques de hackers (três a sites considerados progressistas e três a atividades sindicais) totalizam 15 ocorrências (3,49% do total). 

Eventos chamados pelo presidente durante o ano passado, como a tentativa de golpe ocorrida no dia 7 de setembro,  são situações onde, por estarem em grupo, os bolsonaristas aproveitam para atacar de forma mais intimidadora a imprensa. Alex Mirkhan lembra que o Dia da Independência de 2021 foi um dos momentos mais tensos que teve trabalhando na capital federal.

“Grandes eventos como o 7 de setembro é a materialização  das pessoas que sempre quiserem te agredir com a oportunidade de fazer isso. Todo mundo que estava identificado como jornalista naquele dia foi hostilizado. Eu tomei empurrões, fui puxado pelo pescoço, achei que fosse ser espancado. Precisei da ajuda da polícia para sair da situação”, conta o jornalista,

A situação para quem trabalha na imprensa em 2022 é preocupante. Por ser ano de eleições presidenciais e com o atual mandatário do Palácio do Planalto com a popularidade cada vez mais baixa, a perspectiva é que quando se inicie a campanha eleitoral as agressões contra os jornalistas se intensifiquem. A presidente da Fenaj ressalta a importância das instituições neste momento social do Brasil para que possa ser garantida a liberdade de imprensa no país.

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“A gente espera que as instituições democráticas façam o seu papel esse ano. Nós tivemos uma experiência bastante problemática em 2018 com debates infundados e inúteis do ponto de vista da democracia. A gente espera que não haja mais violência contra jornalista do que o que a gente já tem visto nos últimos tempos”.

A Ponte tentou contato com assessoria de imprensa do Palácio do Planalto, mas não obteve êxito porque o email da reportagem está bloqueado pela presidência, assim como a conta no Twitter.

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