Mãe denuncia perseguição racista contra filho de 10 anos em escola no interior de SP

    Professor de escola pública em Tietê (SP) chamou único menino negro da sala de ‘zé ruela’ e ‘fracassado’ e proibiu outras crianças de falarem com ele, segundo a mãe; coletivo prepara protesto

    Um aluno da Escola Municipal João Marcos Baptista Marcuz, na cidade de Tietê, no interior do estado de São Paulo, deixou de ir às aulas com regularidade há cerca de um mês. Segundo um familiar e uma ativista ouvidos pela Ponte, o garoto negro de 10 anos é alvo de perseguição racista movida por um professor, que o chama de “zé ruela” e “fracassado”, além de isolar o menino das demais crianças da escola.

    A mãe do estudante, uma comerciária de 35 anos, que prefere não se identificar, relata que percebeu uma mudança de comportamento em seu filho há algum tempo, mas não imaginava que o motivo para o garoto estar diferente teria relação com a escola. “A melhor coisa que a gente pode oferecer aos nossos filhos é a educação. Você não espera que seu filho passe por essas coisas na escola”, diz.

    O menino é o único negro de sua turma e, de acordo com a sua mãe, sofre perseguição por parte do professor: “Ele fica dizendo que meu filho nunca vai aprender nada, que ele não tem futuro, que é um zé ruela fracassado”. A mãe afirma que, além das ofensas verbais, a criança é constantemente constrangida e ameaçada pelo professor.

    “Meu filho participa de um projeto social e o professor disse que conhecia pessoas do projeto e ia fazer com que meu filho não pudesse ir mais lá. Ele também não deixou o menino fazer uma atividade com o resto da turma e obrigou ele a copiar a letra do hino nacional. E outra vez ele ordenou que nenhuma outra criança da classe falasse com meu filho ou seria punida”, conta.

    A mãe conta que o filho demorou muito tempo para contar o que estava sofrendo dentro da escola, por considerar o professor uma autoridade, mas que outras mães lhe disseram que as crianças comentavam o que acontecia com o menino. “Elas me disseram que os filhos delas relataram o que meu garoto passava na escola e as crianças não estavam mentindo. Quando fui na escola, a coordenadora me disse que estava ciente do que estava acontecendo.”

    Ela afirma que registrou um boletim de ocorrência contra o professor no dia 22 de setembro e que até poucos dias não tinha sido contatada pela Prefeitura e nem pela escola. Somente nesta semana a Secretaria Municipal de Educação da cidade a convidou para reunião, marcada para a próxima segunda-feira (31). Um ato, organizado pelo coletivo autônomo Anhuma, será realizado na próxima sexta-feira (4/11) pelas ruas da cidade de Tietê cobrando alguma atitude do poder público sobre as agressões praticadas contra o menino.

    “Decidimos fazer essa marcha para relatar o racismo nas escolas da cidade. Isso pode estar acontecendo com outras e feita por outros professores”, declarou um membro do coletivo, que prefere não ter o nome divulgado por temer represálias. “Vivemos em uma cidade muito conservadora”, explica.

    De acordo com o Sistema Estadual de Análise de Dados do Estado de São Paulo (Seade), a cidade de Tietê é formada por uma população onde 75,2% das pessoas se declaram como brancas e 24,4%, como negras.

    Outro lado

    A Ponte tentou contato com a Prefeitura de Tietê por telefone e e-mail, mas não obteve resposta.

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