‘Mestres da Reportagem’: o Brasil pela trajetória de 43 nomes do jornalismo

    Organizado pela professora e jornalista Patrícia Paixão, a série de livros foi escrita por 84 estudantes de jornalismo de várias universidades de SP


    Coautores no lançamento | Foto: Bianca Barbalho/Raphael Drop

    Um projeto que começou em 2012 com o lançamento da primeira edição, “Mestres da Reportagem” volume II e III demorou mais de 2 anos para ser lançado. Patrícia Paixão, idealizadora e organizadora da série de livros, trabalhou nos últimos anos para elaboração do projeto, que conta com 84 escritores, em sua maioria alunos dela, de ao menos 4 universidades de São Paulo, além de colaboradores do Paraná e Goiás. “A maior contribuição desse projeto é registrar a história das pessoas que estão ajudando a contar a história do país, pois o jornalismo conta a história do Brasil e do mundo”, explica Patrícia.

    Professora e jornalista Patrícia Paixão durante o lançamento | Foto: Bianca Barbalho/Raphael Drop

    Entre os 43 jornalistas entrevistados pelos alunos coautores dos livros, estão nomes de jornalistas do jornalismo tradicional e do jornalismo independente. Abel Neto, Andre Caramante, Audálio Dantas, Bruno Paes Manso, Bruno Torturra, Cristiane Segatto, Daniela Arbex, Denise Fon, Fausto Salvadori Filho, Heródoto Barbeiro, Laura Capriglione, Leonardo Sakamoto, Letícia Duarte, Lourival Sant’Anna, Maristela Crispim, Mauro Naves, Michelle Trombelli, Tai Nalon, e Zuenir Ventura, são alguns deles.

    Uma das jornalistas perfiladas é a repórter Kátia Brasil, cofundadora da Amazônia Real, agência de direitos humanos que aborda temas das populações tradicionais da Amazônia. Em entrevista à Ponte, Kátia falou das dificuldades de fazer jornalismo independente na região Norte do país. “A gente tem que saber: somos independentes de que? Surgimos pra ampliar as vozes das populações tradicionais da Amazônia, algo que não acontecia na imprensa. Vendo isso no dia a dia a gente observou que essa população [negros, pobres, indígenas, quilombolas, ribeirinhos] quase não aparecia, quando aparecia era na versão do governo, era como se a palavra do índio não valesse, o que vale é a do poder público. A gente trabalha muito com os repórteres pra escutar essas pessoas”, explica Brasil.

    Jornalistas entrevistados no lançamento | Foto: Bianca Barbalho/Raphael Drop

    Além das dificuldades financeiras para se manter no jornalismo independente, Kátia Brasil enfrenta  diariamente as ameaças locais. “As pessoas que denunciam crimes ambientais são ameaçadas, era o governo que tinha que cuidar da nossa floresta, mas eles acabam não tendo cuidados com os polos industriais. Muitas populações tradicionais precisam dessas águas dos rios, além de mexer com o equilíbrio da natureza, também mexe com o equilíbrio humano. Essas pessoas foram fortes o suficiente de denunciar, fazer protestos nas ruas. O governo nunca nos responde. Isso é uma ameaça ao nosso trabalho, o silêncio do governo. O jornalista não pode ter medo de ameaça, se não ele não vai pra rua”, enfatiza Brasil.

    Três dos fundadores da Ponte, André Caramante, Bruno Paes Manso e Laura Capriglione foram perfilados, assim como Fausto Salvadori, que ainda integra a equipe.

    Patrícia Paixão começou a lecionar em 2006 e já passou pelas universidades FAPSP, Rio Branco, Anhembi Morumbi e Mackenzie. “Foi através dos meus alunos que eu aprendi a ser uma pessoa menos preconceituosa, mais plural, a ver outros pontos de vidas. No primeiro ‘Mestres da Reportagem’, por exemplo, na introdução, eu usava o termo masculino para travestis, mesmo eu na época defendendo a causa, mas eu ainda tinha uma cabeça que não era correta. Foi um aluno, o Wallace Leray, que veio me falar há uns dois anos que não era legal eu usar o artigo masculino e por causa disso eu entendi que usar o artigo masculino era desmerecer a luta das travestis”, conta Paixão.

    A professora explicou para a Ponte o processo de escolha dos coautores. “O principal critério era: alunos que tenham tesão pelo jornalismo, que não estivessem fazendo só por nota e sim por gostar de jornalismo. A maioria dos eram meus alunos, que vieram da FAPSP (Faculdade do Povo, fechada em 2015) e os alunos que estão nessas faculdades novas (Mackenzie, Anhembi Morumbi e Rio Branco). Outros foram me procurando por meio do meu blog Formando Focas, eu já tinha contato virtual com eles, que pediram então para entrar no projeto”.

    Para Patrícia, o segredo para manter uma boa relação com os alunos é a proximidade, tratá-los como amigos. “Quando eu comecei a dar aula, várias pessoas me falaram fórmulas de como eu deveria ser como professora. A maioria delas falavam que eu devia ter um distanciamento em relação aos alunos, pois quando o aluno percebe que você é mais amigo ele pisa em cima de você. Mas eu nunca consegui ter esse distanciamento. Eles são as pessoas que seguram a barra comigo ao longo do ano, eles realmente passam mais tempo comigo do que os meus familiares, se eu considerar que eu fico 4 aulas por dia com aluno em sala de aula e vendo esse aluno toda semana e o ano inteiro“, relembra a professora emocionada.

    Os dois volumes da série “Mestres da Reportagem” foram lançados no Centro Cultural São Paulo no dia 07 de abril, dia do jornalista. A escolha, conta Patrícia, foi proposital. “Por ser o dia do jornalista a gente queria essa data pro lançamento”. Parte da renda arrecadada na primeira impressão dos livros será doada para ONG Conectas de Direitos Humanos.

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