‘Morreu trabalhando’, diz esposa de técnico morto durante ação policial em SP

    Perseguição policial terminou com a morte de um suspeito e duas pessoas baleadas sem relação com o crime

    David tinha 28 anos e trabalhava no momento em que foi baleado | Foto: arquivo pessoal

    David Oliveira Leite, 28 anos, atendia o último chamado de trabalho na noite de sexta-feira (10/1) por volta das 20h na Avenida Queiroz Filho, altura do número 1700, nas imediações da Marginal Pinheiros, no Jaguaré, zona oeste da cidade de São Paulo. Técnico de telefonia, ele estava há dois anos na mesma empresa.

    Enquanto David trabalhava, uma perseguição policial estava em curso na região. Em poucos minutos, depois daquele reparo, ele encerraria o seu turno e voltaria para casa. Até que a perseguição cruzou o seu caminho e ele foi atingido.

    Segundo informações da SSP (Secretaria de Segurança Pública), liderada pelo general João Camilo Pires de Campos neste governo de João Doria (PSDB), a ocorrência se iniciou quando policiais militares em patrulhamento foram acionados a respeito de um veículo Ford/Focus, ocupado por quatro pessoas, que estariam praticando assaltos pela região.

    Na perseguição, antes de David ser atingido, uma mulher de 50 anos também foi baleada. Ela foi socorrida pelo esposo e levada ao Hospital da Lapa, de onde foi transferida pelo Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) ao Hospital das Clínicas, onde permaneceu internada em estado grave. A identidade da mulher não foi informada.

    Ainda de acordo com a SSP, um dos suspeitos, Giliarde João da Silva, 27 anos, foi atingido durante o confronto no mesmo momento em que David foi baleado. O técnico de telefonia foi socorrido e encaminhado ao Hospital das Clínicas, mas não resistiu aos ferimentos.

    Giliarde morreu na Avenida Onófrio Milano, na entrada da Favela Nova Jaguaré, por volta das 20h30. Um vídeo obtido pela Ponte mostra o momento do tiroteio na entrada da favela. É possível ouvir ao menos 4 disparos e gritos de “sai, sai, sai”.

    David foi enterrado na manhã deste domingo (12/1) no Cemitério Jardim da Colina, localizado no Jardim Petroni, em São Bernardo do Campo (ABC Paulista). Ele nasceu em Palmeira dos Índios, cidade do interior do Alagoas.

    Em entrevista à Ponte, a dona de casa Karen dos Santos Porto, 28 anos, esposa de David, contou que não teve respaldo das polícias e que nenhuma informação da família foi obtida por meio das forças policiais. O casal morava em Itaquera, zona leste de SP.

    David ao lado dos dois filhos | Foto: arquivo pessoal

    “Eu não sei como vai ser agora, não sei o que pensar. Meu marido morreu trabalhando. Ele já ia largar o turno e ir para casa. Estamos juntos há 5 anos, ele sempre trabalhou nesse ramo, mas estava há dois anos nessa empresa. Ele criava a minha filha de 9 anos como se fosse dele… temos um bebê de um ano e uma menina de cinco”, conta a esposa aos prantos.

    O caso foi encaminhado para o 91º DP (Vila Leopoldina), mas foi registrado no DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa) como morte decorrente de intervenção policial e homicídio simples e resistência.

    A Ponte esteve nos locais do tiroteio e conversou com moradores e funcionários de comércios aos arredores. A reportagem ouviu dois manobristas de uma churrascaria, que fica ao lado do posto, que afirmaram que viram a viatura perseguindo um carro e na sequência ouviram os “pipocos”.

    Em nota enviada pela assessoria de imprensa terceirizada, a InPress, a pasta explicou que “todas as circunstâncias da ocorrência serão apuradas no inquérito policial e no Inquérito Policial Militar (IPM) instaurados pelo DHPP e pela Polícia Militar, respectivamente”.

    Reportagem atualizada às 15h38 do dia 14/1 para correção da informação de que Palmeira dos Índios é uma cidade do Alagoas e não um bairro de Maceió.

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