Motorista de ônibus tem tímpano perfurado em abordagem da PM em Guarulhos (SP)

    Igor dos Santos foi agredido por policiais quando voltava da padaria, segundo a mãe dele; com medo, família saiu do bairro Jardim São Domingos

    O motorista de ônibus Igor Marques Veríssimo dos Santos, 34 anos, estava voltando de uma padaria onde tinha bebido com alguns amigos quando foi agredido por policiais militares na Estrada do Elenco, no Jardim São Domingos, em Guarulhos, na Grande São Paulo, na madrugada da quinta-feira (26/12), segundo denúncia registrada na Corregedoria da PM.

    A viatura que fez a abordagem é a M-15310, ou seja, os policiais, ainda não identificados, pertencem a 3ª Cia do 15º BPM/M.

    Sem entender se estava sendo abordado e o motivo, Igor questionou os PMs, que se irritaram e seguiram com as agressões. Como estava com o celular na mão, conseguiu ligar a câmera e registrar parte do ocorrido. No vídeo, é possível ouvir barulho de spray de pimenta e Igor dizendo: “não fiz nada”. O PM retruca: “Seu cuzão, seu filho da puta você tá todo errado. É daí para pior….Quer dar uma de espertinho. Vai tomar no cu, que não fez o caralho. Sou cego agora?”, diz o agente. É possível ver um rapaz de chinelos, que estava junto com Igor e diz: “Fica quieto, Igor”.

    De acordo com o prontuário do Hospital Notre Dame Intermédica, onde a vítima foi atendida, ele apresentava “múltiplas escoriações na face e região das costelas” e “perfuração do tímpano esquerdo”.

    Segundo a mãe de Igor, a dona de casa Arisleda Marques Veríssimo dos Santos, 60, ele caminhava em direção a sua casa e estava distraído vendo um vídeo no celular, quando sentiu a primeira pancada nas costas. “Ele levou um susto, virou e perguntou: ‘Por que o senhor bateu em mim? Eu não fiz nada, sou trabalhador’. Aí foram agressões e mais agressões”, contou.

    Igor conseguiu acionar a câmera do celular e gravar o número da viatura M-15310; em outro momento, abaixa o celular e grava seus pés quando foi colocado contra a parede | Foto: reprodução

    “A polícia foi embora e ele ficou caído no chão. Quem socorreu foram uns meninos que estavam do outro lado da rua. Aí ligaram para nós, trouxemos o Igor para casa e acionamos o Samu [Serviço Móvel de Urgência]”, relatou dona Leda, que também contou à Ponte que, neste sábado (28/12) Igor deveria voltar ao trabalho, mas está com crises de pânico e não conseguiu comparecer.

    Dona Leda manifesta indignação diante do ocorrido. “Se a policia ia abordar ele, que abordasse, mandasse colocar as mãos para cima, revistasse. Mas não foi isso que aconteceu. Foi uma agressão gratuita, do nada. E o policial ficou ainda mais nervoso quando o Igor disse que iria dar queixa na Corregedoria”, destacou.

    Nesta sexta-feira (27/12), dona Leda e Igor estiveram na Corregedoria da PM para registrar queixa de violência policial, além de passarem na Ouvidoria da Polícia de São Paulo. “A gente não tinha conseguido registrar um boletim de ocorrência, mas o ouvidor [Benedito Mariano] afirmou que vai ligar para nós no dia 3 de janeiro e fazer o registro no 9º DP (Carandiru). Ele disse que precisa ser feito, sim”, afirmou.

    Com medo de alguma retaliação, a família deixou temporariamente a casa onde viviam no Jardim São Domingos, a 5 minutos do local onde aconteceu a abordagem.

    Em nota, a SSP-SP (Secretaria de Segurança Pública de São Paulo), comandada pelo general João Camilo Pires de Campos nesta gestão de João Doria (PSDB), informa que “a Corregedoria da Polícia Militar apura as circunstâncias do caso”.

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