No Paraguai, 75 integrantes do PCC fogem de presídio próximo à fronteira

    Governo local suspeita que agentes penitenciários ajudaram na ação, feita através de um túnel: ‘é categórico que houve corrupção’

    Túnel (à esq.) foi cavado de cela, com terra guardada em sacos plásticos (à dir.) | Foto: Polícia Nacional do Paraguai/Divulgação

    Integrantes do PCC (Primeiro Comando da Capital), facção criminosa fundada em São Paulo e que atua em todo o país e na América do Sul, fugiram de um presídio na cidade de Pedro Juan Caballero, no Paraguai, neste domingo (19/1), conforme confirmado pelo governo local. A cidade faz divisa com o Mato Grosso do Sul, no centro-oeste brasileiro.

    Eles cavaram um túnel entre a cela e a parte exterior da cadeia e 75 integrantes da facção fugiram, segundo números divulgados pelo governo a jornais locais. Inicialmente, a fala era de 91 fugitivos. Uma lista divulgada aponta que 40 deles são brasileiros, os demais, paraguaios.

    Os presos cavaram o túnel e armazenaram a terra retirada em sacos plásticos. O material foi deixado em uma cela localizada no pavilhão B do presídio. A movimentação para a fuga, de acordo com o jornal ABC Color, teve início por volta de 4h.

    “É categórico que houve corrupção”, afirmou a ministra de Justiça do país, Cecília Pérez, à rádio ABC Cardinal. “Fizemos uma denúncia de que se oferecia 80 mil dólares (para permitir uma fuga)”, emendou a ministra, em coletiva de imprensa feita após a ação.

    Dos presos, 25 estavam na cela em que se cavou o buraco para a fuga, enquanto os outros 50 ficavam presos em espaços no andar de cima. Jornais paraguaios detalham, através de relatos do Ministério Público que esteve no espaço, que é preciso passar por um portão para chegar de uma área à outra.

    O governo do Paraguai anunciou que o diretor de estabelecimentos penitenciários, Víctor Servián, o diretor da unidade, Christian Gonzalez, o chefe de segurança e os guardas do presídio em Pedro Juan Caballero foram destituídos de suas funções.

    De acordo com o jornal La Naciún, um grupo de 30 carcereiros, entre funcionários do Ministério da Justiça e da empresa de segurança terceirizada Tapití, estão presos no Departamento de Investigações da Polícia Nacional de Amambay, um distrito local.

    “Pedro Juan é uma prisão muito particular onde custa trabalhar pela permeabilidade da corrupção”, descreve a ministra Cecília Perez. “Não pode ser que um poço esteja sendo cavado em sua casa e você não ouça nada. Não pode ser que 75 estejam fugindo e não se veja nada. Aqui existe uma responsabilidade por ação ou omissão”.

    Agora, o governo paraguaio atua para recapturar os integrantes do PCC para, posteriormente, investigar uma “rede de corrupção que facilitou a fuga”, como definiu a ministra da Justiça. Ela colocou seu cargo à disposição do presidente, Mario Abdo Benítez, que teria recusado a sua saída em reunião feita após a fuga.

    De acordo com Sandra Quiñónez, fiscal geral do estado que atua no Ministério Público local, o Paraguai saberá especificamente de quais grupos criminosos os presos são com o tempo, ainda que o governo tenha definido como a fuga como sendo de “integrantes do PCC”. “No decorrer das horas saberemos melhor a que facção esses fugitivos pertencem. Estamos trabalhando claramente na coleta de dados e elementos para a investigação”, disse.

    Ainda há informações de três caminhonetes queimadas na fronteira com a cidade de Ponta Porã, cidade localizada no Mato Grosso do Sul, já no território brasileiro. As autoridades não descartam relação com a fuga no presídio.

    O secretário de Justiça e Segurança Pública do Mato Grosso do Sul, Antonio Carlos Videira, confirmou ações especiais na fronteira com o Paraguai. A segurança é reforçada por um helicóptero da polícia, bem como integrantes do DOF (Departamento de Operações de Fronteira) e da PFR (Polícia Rodoviária Federal).

    Em seu perfil na rede social Twitter, o ministro da Justiça e Segurança Pública do Brasil, Sérgio Moro, declarou que está “trabalhando junto com as forças estaduais para impedir a reentrada no Brasil dos criminosos que fugiram de prisão do Paraguai. Se voltarem ao Brasil, ganham passagem só de ida para presídio federal”, publicou Moro, colocando o país à disposição para ajudar o Paraguai a “recaptura desses criminosos”.

    Reportagem atualizada às 15h10 do dia 19 de janeiro para atualizar informações de carcereiros presos, sobre a ministra da Justiça e ações da polícia brasileira.

    Nova atualização às 15h59 para incluir posicionamento do ministro Sérgio Moro.

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