“Nosso orgulho tem raça”: Parada Preta em SP celebra corpos negros LGBTQIAPN+

Pela primeira vez evento ocorreu na rua, percorrendo o Bixiga, na região central de São Paulo, e falando da importância da  interseccionalidade 

Evento ocorre desde 2017, mas foi a primeira vez na rua | Foto: Catarina Duarte/Ponte Jornalismo

“Nosso orgulho tem raça”, gritavam em coro os presentes na primeira edição da Parada Preta nas ruas de São Paulo. O evento LGBTQIAPN+ ocorreu nesta quinta-feira (8/6) no Bixiga, local estrategicamente escolhido pela organização pela simbologia e relação com o povo preto. 

A concentração do evento ocorreu a poucos metros da escadaria do Bixiga. O trio elétrico estacionado na rua Treze de Maio chamava a atenção de quem passava e dava o recado: “Respeita as manas, as monas, os pretos. Respeito no Repeat”. O discurso não ficou só na faixa presa ao carro, mas foi repetido por quem pegava o microfone para discursar ao longo do evento. 

“Nós propomos a Parada Preta desde 2017 com o coletivo AMEM, que faz parte do coletivo global no Black Pride em diversos países. Aqui nós tivemos essa ideia de trazer para interseccionar e falar sobre a importância das pessoas negras, desse recorte racial, para pessoas LGBTQIAPN+”, explica Félix Pimenta, 33 anos, membro do coletivo AMEM e um dos organizadores do evento. 

O Black Pride, citado por Pimenta, surgiu em Washington, nos Estados Unidos, em 1991,e se expandiu para outras cidades americanas e ao redor do mundo nos anos seguintes. No Brasil, segundo os organizadores da Parada de São Paulo, o evento também ocorre em João Pessoa (PB). 

Parada Preta percorreu o Bixiga nesta quinta-feira (8/6) | Foto: Catarina Duarte/Ponte Jornalismo

Além do coletivo, a Parada deste ano foi conduzida pela Casa 1 — que entre outras atividades promove acolhimento para pessoas LGBTQIAPN+ em situação de vulnerabilidade —  e da Batekoo, plataforma de entretenimento voltada para a juventude negra e  LGBTQIAPN+. 

“A gente está muito feliz em fazer na rua porque sabemos que o mês do orgulho ainda é pautado no viés branco e cisgênero. É muito importante que cada vez mais a gente consiga construir os nossos espaços, nossas próprias paradas”, afirma Arthur Santoro, 26 anos, um dos responsáveis pela Batekoo. 

 A Parada Preta também contou com a presença de políticos como a deputada estadual do PSOL Carolina Iara. “Se hoje nós estamos com Lula presidente e não com Bolsonaro é porque as pessoas pretas foram votar”, disse a parlamentar em discurso durante a parada. 

Quem também esteve no evento e discursou foi Julio Cezar de Andrade, 38 anos, covereador do mandato coletivo Quilombo Periférico (Psol). “É importante dizer que as nossas corpas são diversas e que elas têm o direito da livre orientação sexual e do direito à liberdade de identidade de gênero”, disse em entrevista à Ponte

A travessia pelo Bixiga contou com apresentações musicais e de DJs como Juliana Andrade, conhecida como Bonde da Juju. A drag queen Márcia Pantera foi uma das performances presentes na Parada, assim como a rapper Karol Conká, que deu uma palinha durante o evento. 

Além de levar a diversidade às ruas, a intenção da Parada Preta é levar informação sobre questões de saúde e violência para a população negra e  LGBTQIAPN+. Assim, serão realizadas atividades até o dia 26 de junho, quando é celebrado o Dia Internacional do Orgulho LGBTQIAPN+ (veja programação completa abaixo). 

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Os organizadores da Parada Preta defenderam que a escolha do local foi intencional. O motivo é o território carregar memória negra “nos moradores, cultura e história”, escreveram os responsáveis pelo evento nas redes sociais. 

Eles argumentam que além de elementos culturais mais recentes, como a presença da Vai Vai no local, a história negra no Bixiga é secular e uma prova disso foi o encontro de vestígios do Quilombo da Saracura, durante as escavações da linha laranja do metrô. 

Confira a programação da Parada Preta

12/06 – 19h às 21h – Oficina de Vogue/ Chant com Star Thita Dengo

13/03 – 14h às 17h – Oficina de Zine com Formigão

15/06 – 14h às 16h – Oficina de Dança Afro com Priscila e Tainara

16/06 – 19h às 21h – Precisamos falar Sobre Sexo Tema: Cheamsex

17/06 – 14h às 16h – Oficina de Leitura e Escrita Poética com Naya do Slam Abri Caminhos

17/06 – 14h às 17h – Oficina de Cuscuz – Sabrina Leite

19/06 – 19h às 21h – Oficina de Samba Rock – Jana Giza

20/06 – 19h às 21h –  Precisamos Falar Sobre Sexo Tema: Prostituição e Pessoas Pretas

22/06 – 19h às 21h – Precisamos Falar Sobre Sexo Tema: Afetividade, sexo e corpos negros

23/06 – 19h às 21h – Oficina de penteado e Trança Afro – Quezia

24/06 – 14h às 17h – Oficina de Acarajé – Sabrina Leite

26/06 – 19h às 21h – Discotecagem para Funk – Dj Lorrany

27/06 – 19h às 21h – Precisamos Falar Sobre Sexo Tema: I = I numa perspectiva preta

28/06 – 14h às 17h – Oficina de Lambe – Ana Mogli

29/06 – 19h às 21h – Precisamos Falar Sobre Sexo Tema: Racismo institucional nas ISTs, HIV e MonkeyPox

30/06 – 14h às 18h – LiteraSampa Afro convida Gabriel Sanpera

30/06 – 19h às 21h – Oficina de Voguing 

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