PM atira em moradores que estavam com crianças durante ação na periferia

    Em ação ocorrida na Favela do Sapé, na zona oeste de SP, pai e filho foram baleados; policiais agrediram produtor cultural e jogaram seu celular no rio

    Dois homens foram baleados durante uma ação da Polícia Militar na Favela do Sapé, na região do Rio Pequeno, na zona oeste da cidade de São Paulo, na noite deste domingo (19/7). A ação foi filmada por moradores e mostra um rapaz caído no chão após ser baleado na perna pelos policiais. Há barulho de tiros e correria. Na sequência, uma pessoa que está gravando grita: “opressão!”.

    No vídeo, é possível ver dois PMs da Rocam (Ronda Ostensiva com Apoio de Motocicletas) ao lado do morador, que foi identificado como um zelador que trabalha na região. A família dele tenta protegê-lo e, aos gritos de “para”, tenta fazer com que a ação policial cesse. Há crianças no local.

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    Um dos policiais atirou de raspão na coxa do produtor cultural Nelson Tobias, 33 anos, que tentava apaziguar o tumulto. Segundo o produtor, o PM ainda deu um soco na sua boca e jogou seu celular no rio. “Eu estava na festa do meu sobrinho e vi que os PMs estavam perseguindo duas pessoas em uma moto. Como a rua estava tumultuada, um desses policiais começou a atirar pra cima para dispersar a população. Foi nessa hora que fui falar pra ele não fazer isso”, conta.

    Logo em seguida, como aparece no vídeo, o PM deu um tiro na perna de um morador e acabou ferindo Tobias de raspão na coxa. O produtor relata que a população começou a jogar pedras nos policiais que, na sequência, dispararam outro tiro, ferindo a perna de outro morador. Tobias conta que, por medo, não foi ao hospital.

    Produtor cultural Nelson Tobias, 33 anos, foi baleado de raspão na perna | Foto: Arquivo pessoal

    Segundo apurado pela reportagem junto à Rede de Proteção e Resistência ao Genocídio, o filho do zelador, ao tentar defender o pai, foi baleado na perna. Ambos foram encaminhados para hospital da região não informado. De acordo com informações de pessoas próximas às vítimas, o zelador está bem, mas o estado de saúde do filho ainda é desconhecido.

    A reportagem não conseguiu apurar o que motivou a abordagem, mas o repórter do Uol Luis Adorno publicou, em seu Twitter, que um PM teria se desequilibrado, virando motivo de riso de um grupo de pessoas que estava na rua e viu a cena. A partir disso, tudo aconteceu.

    Um outro vídeo mostra o momento em que viaturas da PM e helicópteros chegam na favela. Muitos moradores são filmados correndo na via. “Favela ficou como? Feia”, diz um morador que está registrando as imagens. Em protesto contra a ação, moradores colocaram fogo em um ônibus na rodovia Raposo Tavares. Na gravação, é possível ouvir uma voz de mulher dizendo: “É fogo. Colocaram fogo na avenida”.

    A reportagem questionou a Polícia Militar, comandada pelo coronel Fernando Alencar Medeiros, e da Secretaria da Segurança Pública, chefiada pelo general João Camilo Pires de Campos nesta gestão de João Doria (PSDB), sobre a ação e o estado de saúde das vítimas. Até a publicação da reportagem, não havia retorno.

    Reportagem atualizada às 23h50 do dia 19/7 para inclusão do depoimento do morador

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