PM reprime manifestação em São Bernardo (SP) e deixa feridos, denunciam moradores

    Filha de comerciante da região conta que policiais jogaram o pai dela contra uma árvore; SSP afirma que polícia foi ao local para conter tentativa de saque a um supermercado

    “Ontem, por volta das 21h recebi uma ligação do meu irmão aos prantos. Motivo: ele e meu pai haviam sido agredidos pela polícia”. O desabafo de Camilla Ramos foi postado nas redes sociais na terça-feira (29/5) e rapidamente viralizou. “Não imaginei que fosse dar essa repercussão. Até fechei o post apenas para amigos”, disse Camilla à Ponte. Segundo ela, na segunda-feira (28/5), na Avenida Poney Club, em São Bernardo do Campo, Grande São Paulo, um grupo de pessoas se manifestava por causa da greve dos caminhoneiros. A Polícia Militar foi acionada e, ao chegar, reprimiu o grupo com violência.

    Camilla conta que o pai tem um comércio nas imediações da avenida e que tudo aconteceu no meio da tarde de segunda-feira (28/5). O local fica relativamente próximo do trecho urbano da Rodovia dos Imigrantes, onde caminhoneiros mantinham a paralisação. Um grupo de manifestantes em apoio à greve se concentrou nas imediações da avenida, quando a PM chegou e para dispersar o grupo lançou bombas de efeito moral e disparou balas de borracha, como mostram as gravações feitas por moradores da região.

    “Meu pai estava com dois clientes na loja e a porta estava entreaberta. Os policiais foram entrando e já agredindo”, conta Camilla. O pai dela foi abordado e levado para o lado de fora do estabelecimento. “Jogaram meu pai contra uma árvore que fica em frente à loja com as mãos para o alto. Ele bateu o nariz e depois bateram nas costelas dele também com o cassetete. Eles estão com medo de falar e com receio de que a polícia volte”, afirma.
    Fotógrafo local Wilian Wildmann registrou a ação e postou nas redes sociais | Foto: Reprodução Facebook/Willian Wildmann
    O fotógrafo e também morador do Jardim das Orquídeas Wilian Wildmann registrou a ação dos policiais e postou, no mesmo dia, algumas horas depois, as imagens na página dele no Facebook. “Grandes emissoras não vem via terrestre registrar o que acontece por aqui, cabe a nós daqui de dentro registrar tudo isso. Apontei minha câmera pra um policial, acredito que a sensação que ele teve foi de eu ter apontado uma glock pra sua cabeça, consequentemente ele revidou com bala de borracha pra dispersar, só que pra trás só pra pegar impulso. Sejamos a mudança que a gente tanto procura”, diz o fotógrafo na postagem.
    Uma moradora de uma travessa da avenida Poney Club conseguiu gravar a ação dos policiais da Força Tática. Um outro morador, que estava no grupo que foi reprimido, também registrou o momento em que a Tropa de Choque chega ao local e começa a lançar bombas de efeito moral e a disparar balas de borracha contra o grupo. Um dos manifestantes teve o abdômen atingido. “No vídeo dá pra ver claramente que quando o choque começou com as bombas, invadindo o bairro, não tinha nenhum ato de vandalismo, como disseram”, conta a moradora.
    Homem que estava na multidão acabou ferido por bala de borracha | Foto: Arquivo pessoal

    A Ponte questionou a Secretaria da Segurança Pública sobre a ação da polícia. A pasta não reconheceu qualquer ação no bairro na segunda-feira (28/5). Em nota, disse que a PM foi chamada na noite de terça-feira (29/5) para conter um tumulto iniciado por moradores das comunidades Jardim das Orquídeas e Bandeirantes, que ameaçavam saquear um mercado, em São Bernardo. “Foi preciso uso de equipamentos de menor potencial ofensivo, para dispersar os moradores.  Após a ação, um policial que estava em apoio próximo à entrada do bairro, foi atingido por um disparo de arma de fogo. Ele foi socorrido ao Hospital de São Bernardo, onde permaneceu internado. A ocorrência foi registrada pelo 3º DP de São Bernardo do Campo e será investigada pelo 8º DP, responsável pela área. A PM acrescenta que possíveis irregularidades nas condutas dos policiais devem ser relatadas à Corregedoria para que as denúncias sejam devidamente investigadas”, diz a nota.

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