Polícia mata morador dentro de ocupação do MTST em Aracaju (SE)

    Pela quarta vez a PM de Sergipe invade o local, dizem moradores; polícia alegou que denúncia anônima teria apontado que havia armas no espaço

    A ocupação Valdeci Teles, em Aracaju, foi invadida pela Polícia Militar de Sergipe na noite desta terça-feira (15/3). A operação teve como saldo uma pessoa morta e quatro presas. Moradores do local acusam a PM de chegar atirando e agindo com truculência contra os moradores. Os policiais alegam que foram até o local após denúncia de que havia armas dentro dos barracos que seriam utilizadas em assaltos.

    Imagens feitas pelos militantes do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) mostram parte da abordagem violenta feita pela polícia, além de moradores segurando cápsulas de projéteis que foram disparados pelos policiais. Segundo o coordenador da ocupação, Diego dos Santos, esta é a quarta vez que a PM sergipana invade o local com o argumento de combate a criminalidade.

    “Estamos ocupando este terreno há dois anos e toda vez que a polícia vem aqui é desse jeito. Já chegam atirando e chamando todo mundo de vagabundo. Aqui tem trabalhador, criança e idoso. Eles não têm nenhum cuidado com isso. Inclusive o rapaz que morreu ontem não era bandido, trabalhava no Mercado Municipal aqui de Aracaju”, informa Diego.

    https://ponte.org/violencia-sergipe-interior-capital/

    De acordo com o coordenador da ocupação Valdice Teles, o nome do morador morto pela polícia é William Goiânia, e tinha 20 anos de idade. Na ação, o próprio Diego Dos Santos foi detido pela polícia junto com outra liderança do local e mais duas mulheres. Após prestar depoimento na delegacia, todos foram soltos e retornaram para suas casas.

    “Eles tinham que dar alguma satisfação pelo que eles fizeram, por isso nos prenderam. Eles dizem que desacatou a polícia. Não teve nada disso. Eu chameio as pessoas para que saíssem dos seus barracos e fossem para a parte mais alta do terreno para se protegerem. As casas aqui são feitas de madeira e lona. Como eles chegaram atirando, era mais perigoso ficar dentro de casa”, explica Diego.

    O coordenador ainda informa que nenhuma das ações feitas pela polícia no tempo que a ocupação existe teve como justificativa alguma tentativa de reintegração de posse. A comunidade se formou justamente no período da pandemia, momento em que as desocupações de residências e mandados de despejo estão proibidos pela justiça.

    https://ponte.org/pm-mata-sem-teto-e-reprime-ato-que-pediu-justica-em-mg/

    “Dizem que esse terreno pertence ao dono de uma gráfica e que deve milhões de IPTU para prefeitura. Era tudo mato aqui. Nós que arrumamos e demos uma função social para o espaço. Há quatro meses foi a última vez que fizemos uma contagem e existiam 300 famílias morando aqui, mas hoje certamente tem mais. Muita gente que está nas ruas e não tem onde morar vem nos procurar para morar aqui”.

    Segundo Diego dos Santos, o clima de insegurança e apreensão tem tomado conta dos moradores porque eles sabem que a qualquer momento a PM pode voltar causando mais estragos à ocupação. “Eles saíram daqui fazendo ameaças. Dizendo que da próxima vez que voltassem iria ser pior”.

    A Ponte entrou em contato com o coronel Fábio Machado, responsável pela assessoria de comunicação da Polícia Militar de Sergipe. Ele informou que a posição da corporação sobre os fatos ocorridos na ocupação estavam em um texto publicado no site da PM. 

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    Segundo a polícia sergipana, “ao chegar ao local, as equipes policiais visualizaram um grupo que, ao perceber a aproximação dos agentes, fizeram disparos de arma de fogo. Um dos suspeitos, acabou sendo atingido, foi socorrido ao Huse, mas veio a óbito. A operação resultou na apreensão de uma arma de fogo”.

    O texto também diz “que foi disparado um alarme para alertar criminosos sobre a presença da polícia no local. Esse outro grupo responsável por esse alerta também incitou moradores para dificultar a operação. A ação policial também resultou na prisão de responsáveis por liderar a ação que dificultou a interceptação dos criminosos”.

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