PMs são denunciados por morte de adolescente no Paraná

    Sérgio Antônio Merege de Mello Filho e Erickson Luís Veras foram denunciados pelo Ministério Público do Paraná pela morte do adolescente Mateus Lima Ferraz da Silva, em fevereiro

    Mateus Lima Ferraz da Silva trabalhando. | Foto: Arquivo pessoal

    Quase dois meses se passaram desde que o adolescente Mateus Lima Ferraz da Silva foi assassinado enquanto pilotava sua moto em direção à casa da namorada e mãe de sua filha, que completava o primeiro mês de vida naquele dia 4 de fevereiro. Aos 18 anos, ele foi assassinado com dois tiros por dois policiais militares. Os agentes alegaram que Mateus atirou contra eles, versão contestada por testemunhas, conforme mostrou a Ponte Jornalismo.

    O Ministério Público do Paraná ofereceu denúncia contra os dois policiais militares. Sérgio Antônio Merege de Mello Filho e Erickson Luís Veras foram denunciados pelos crimes de homicídio qualificado — com a qualificante de utilizar recurso que torne difícil ou impossibilite a defesa da vítima —, posse irregular de arma de fogo com sinais raspados, tráfico de drogas e falsidade ideológica.

    Local do crime. | Foto: Divulgação

    Para o advogado Anderson Ferreira, que atua como assistente de acusação, a maneira como o caso está sendo conduzido tende a levar ao esclarecimento dos fatos que, ressalta, divergem completamente da versão apresentada pelos policiais. “Houve ali a descrição de uma situação que não existiu. Forjaram algo que não existiu”, destaca.

    Ferreira afirma que, apesar de o processo judicial estar em fase inicial, é muito provável que, em um Tribunal do Júri, os policiais sejam condenados pela morte de Mateus. Ouvidos no inquérito policial, em que afirmaram terem revidado a uma suposta agressão de Mateus, o tenente Sérgio Antônio Merege de Mello Filho e o soldado Erickson Luís Veras tiveram a prisão preventiva decretada e estão presos no Batalhão de Polícia de Guarda, em Curitiba, capital do estado, que fica a cerca de 130 quilômetros de Guaratuba.

    Mateus (à esquerda) e Rafael. | Foto: Arquivo pessoal

    Luís Rafael da Silva, irmão de Mateus, destaca o trabalho da Corregedoria Geral da Polícia Militar, órgão responsável pela investigação que culminou na prisão dos policiais. “Nada vai trazer ele de volta, mas estamos lutando por justiça. Recebemos a notícia de manhã, pela Corregedoria. Agora, eles vão esperar o julgamento. Só o fato de a gente saber que já começaram a pagar e assim, rápido, alivia”, diz.

    Segundo o Ministério Público, a apuração da Corregedoria apontou que Mateus foi atingido duas vezes pelas costas. Além disso, a investigação concluiu que, após alvejar o adolescente, os dois policiais plantaram cocaína, maconha e um revólver calibre 38 na cena do crime, na tentativa de forjar uma suposta “resistência”. Os PMs efetuaram 12 disparos de pistola .40, atingindo Mateus duas vezes, um disparo na região do epigastro e outro na região glútea direita, provocando hemorragia interna e externa, apontada como causa da morte no laudo de necropsia.

    Viatura já com o porta-malas aberto. | Foto: Divulgação

    Segundo o promotor de justiça Elcio Sartori, que assina a denúncia, “Sérgio Antônio Merege de Mello Filho e Erickson Luís Veras, de forma dolosa, cientes da ilicitude e reprovabilidade de suas condutas, em comunhão de esforços e de vontades, na qualidade de funcionários públicos, prevalecendo-se dos cargos de policiais militares, fizeram inserir declaração falsa em documento público, com o fim de alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante, posto que forjaram uma cena de confronto armado no intuito de incriminar Mateus Lima Ferraz da Silva e justificar a posteriori os disparos de armas de fogo efetuados contra ele, deveras ‘plantado’ em sua posse um revólver calibre 38, marca Taurus, com número de identificação de arma de fogo raspado”.

    O promotor destaca ainda que os policiais plantaram no local 32 gramas de cocaína e 64 gramas de maconha, alegando estarem em posse do adolescente, afirmação desmentida durante a investigação. “Tudo simulado para fazer parecer que a vítima se tratava de agente criminoso”, completa.

    Mateus foi morto no dia 4 de fevereiro, a menos de uma semana de completar 19 anos e no dia em que sua filha completava um mês de vida. A investigação confirmou, inclusive, a versão dada pelos familiares de que o adolescente saiu de casa com destino à casa da namorada, para visitar a filha. O Ministério Público apresentou a denúncia arrolando nove testemunhas de acusação, uma delas protegida. O processo corre pela Vara Criminal da Comarca de Guaratuba.

    Mateus trabalhando. | Foto: Arquivo pessoal

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