Policiais perseguem manifestantes após ato pacífico contra Temer em SP

    Protesto anti-Temer ocorreu sem incidentes, mas, no final, quando voltavam para casa, ativistas foram seguidos por 1,2 km e atacados com bomba de gás

    Policiais bloqueiam Avenida Ibirapuera após o final de protesto | Foto: Daniel Arroyo/Ponte Jornalismo

    Após encerrar sem incidentes uma manifestação pacífica contra o presidente Michel Temer (PMDB) na noite de ontem (10/4), manifestantes da Frente Povo Sem Medo, Movimento Palestina para Tod@s (Mop@t) e Marcha Antifascista foram perseguidos por policiais militares, que seguiram os manifestantes ao longo de 20 minutos e 1,2 quilômetro e ainda jogaram uma bomba de gás no grupo.

    Batizado nas redes sociais de Rolêzinho no Jantar do Golpista, o protesto reuniu cerca de 50 pessoas diante do Clube Monte Líbano, no Jardim Luzitânia, na zona sul da cidade de São Paulo, onde o presidente foi homenageado com um jantar promovido por instituições líbano-brasileiras.

    No início do protesto, manifestantes bloquearam avenida com fogo durante 15 minutos | Foto: Daniel Arroyo/Ponte Jornalismo

    Enquanto a Frente Povo Sem Medo atacou as reformas propostas pelo presidente que considera prejudiciais aos trabalhadores, especialmente as da Previdência e da terceirização do trabalho, os palestinos miraram na aproximação do governo federal com apoiadores do governo de Israel e o uso da tecnologia de armamento israelense na repressão aos movimentos populares.

    “Não existe lugar seguro neste ou em qualquer outro país para quem explora o povo. Se o presidente quer fazer um jantar, tem que convidar a PM, porque a gente vai em todos”, atacou Gabriel Simeone, coordenador do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto), membro da Frente Povo Sem Medo. “Quando Israel bombardeava os palestinos, os empresários libaneses que estão aqui nesta noite diziam que era um crime, mas agora que o governo está importando tecnologia de repressão de Israel para tratar os trabalhadores brasileiros como Israel trata os palestinos, está tudo bem para eles. Não está tudo bem!”.

    Fileira de PMs protege jantar do presidente, diante do Clube Monte Líbano | Foto: Daniel Arroyo/Ponte Jornalismo

    A manifestação começou por volta das 19h40, quando parte dos manifestantes colocou fogo em pneus na Avenida Ibirapuera, numa tentativa de tentar atrapalhar a chegada dos convidados do jantar. O bloqueio durou pouco tempo. Boa parte do fogo foi apagado por um motorista que desceu do ônibus com um extintor na mão e, quinze minutos depois, o trânsito já estava normalizado.

    Os manifestantes, em seguida, se reuniram diante de uma das entradas do Clube Monte Líbano, na Rua do Gama. Uma fileira de PMs armados com cassetetes e escudos postou-se diante do protesto. Não houve incidentes. “Sou filha de italiano com cearense, então meu sangue ferve, mesmo, mas a gente não atiça os policiais. A gente está contra o governo, mas respeita os PMs porque eles também estão olhando por nós”, disse a Delmilda Zocatelli, 64 anos e três anos de MTST.

    Fileira de PMs protege jantar do presidente, diante do Clube Monte Líbano | Foto: Daniel Arroyo/Ponte Jornalismo

    Durante uma hora, os manifestantes agitaram a bandeira palestina e cantaram palavras de ordem. Dentro do clube, o jantar prosseguiu normalmente. Temer discursou em defesa das reformas do governo e cometeu um ato falho ao dizer que, no debate sobre a lei que aprovou a terceirização ampla para os trabalhadores, “houve um diálogo entre empresários e empregadores” (na transcrição oficial, o Planalto buscou corrigir o erro, colocando “empregados” entre colchetes).

    Manifestantes diante do Clube Monte Líbano | Foto: Daniel Arroyo/Ponte Jornalismo

    Por volta das 21h10, os manifestantes se reuniram em assembleia, fizeram discursos e decidiram ir embora. Nesse momento, veio a surpresa. Enquanto os manifestantes voltavam para casa, andando pela calçada da Avenida Ibirapuera, começaram a ser seguidos pelos policiais militares que até então guardavam o jantar do presidente. “Eles vão escoltar a gente?”, um manifestante brincou.

    Manifestante diante de avenida bloqueada por policiais | Foto: Daniel Arroyo/Ponte Jornalismo

    Conforme os manifestantes andavam, a situação ia passando de inusitada a inquietante. Sem nenhuma motivação clara, os PMs tomaram a iniciativa de fechar a Ibirapuera no sentido centro. Alinharam quatro viaturas de polícia, uma ao lado da outra, sobre três faixas da avenida, e montaram um cordão com policiais segurando armas e escudos. Os motoristas que estavam atrás da PM buzinaram. Aproveitando a “cortesia” do fechamento da trânsito, os manifestantes passaram a andar pela avenida, alguns agitando bandeiras diante dos policiais.

    Manifestante agita bandeira em avenida fechada pela polícia | Foto: Daniel Arroyo/Ponte Jornalismo

    Durante cerca de 20 minutos, os policiais seguiram os manifestantes que voltavam a pé ao longo de uma quadra da avenida República do Líbano e seis quadras da avenida Ibirapuera. Nos últimos minutos, quando a PM já havia liberado as outras duas faixas da avenida e os manifestantes já caminhavam pela calçada, a PM jogou uma bomba de gás na direção do grupo.

    “A intenção dos policiais era encurralar a gente e bater em todo mundo. Só não fizeram isso porque tinha imprensa filmando”, comentou outro manifestante.

    Outro lado

    A respeito das ações da PM, a Ponte enviou as seguintes perguntas para a CDN Comunicação, responsável pela assessoria de imprensa da Secretaria da Segurança Pública do governo Geraldo Alckmin (PSDB):

    1) Por que a PM acompanhou os manifestantes que voltavam para casa, após o encerramento de um ato pacífico, ao longo de 1,2 quilômetro?

    2) Por que a PM fechou a Av. Ibirapuera?

    3) Por que a PM jogou uma bomba de gás nos manifestantes e jornalistas que estavam ali?

    Atualizado em 12/4, às 0h20 – A assessoria respondeu com a seguinte nota:

    A PM informa que o acompanhamento é realizado para garantir a segurança dos manifestantes e, porventura, do patrimônio público e privado nesse trajeto. Não há registro de uso de nenhuma ação para a dispersão do protesto.

    Foto: Daniel Arroyo/Ponte Jornalismo
    Foto: Daniel Arroyo/Ponte Jornalismo
    Foto: Daniel Arroyo/Ponte Jornalismo

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