Ato pede fim de assassinatos de LGBTs aos gritos de ‘ele não’ no centro de SP

    Manifestantes saíram em marcha no centro de São Paulo em memória e por justiça às vítimas que foram assassinadas a facadas sob gritos de ‘Bolsonaro’

    Foto:Daniel Arroyo/Ponte

    “Quantos LGBTs o seu voto vai matar?”. Esta era a pergunta estampada numa grande faixa branca que conduzia centenas de pessoas por um trajeto no centro de São Paulo na noite de domingo (21/10). Nas mãos de várias delas, flores, velas acesas, dedos entrelaçados. Havia a troca de abraços longos e repetidos gritos de “ele não”, “ele jamais”, em referência ao presidenciável Jair Bolsonaro (PSL).

    Foto:Daniel Arroyo/Ponte

    Diversos manifestantes da comunidade LGBT se reuniram em homenagem à travesti identificada como Priscila, assassinada a facadas no centro da capital paulista, e à transexual Laysa Fortuna, também morta por golpe de faca em Aracaju, capital do Sergipe. Os dois casos aconteceram na última semana e testemunhas afirmam que os agressores mencionaram o nome de Bolsonaro durante os ataques.

    Foto: Daniel Arroyo/Ponte

    O protesto foi organizado pelo Coletivo Arouchianos, que há três anos atua no Largo do Arouche, no centro paulistano, em prol da ocupação do território por LGBTs. A marcha saiu do Largo e percorreu até a fachada do bar, na Avenida São João, onde Priscila foi atingida. No local, emocionados, manifestantes deixaram velas, rosas e fizeram um minuto de silêncio pelas vítimas.

    Foto: Daniel Arroyo/Ponte

    Para a ilustradora Suzi Muniz, de 26 anos, a violência contra transexuais e travestis, que já é existente, se intensificou com o apoio crescente à candidatura do militar da reserva do Exército brasileiro. “Há cinco meses eu não ouvia uma ameaça de morte. Vou todo o dia para o meu curso no mesmo horário e no dia da eleição [de 1º turno, em 7 de outubro], eu ouvi duas ameaças de morte: um carro com uma família inteira dentro gritando ‘vai morrer'”, conta.

    Foto: Daniel Arroyo/Ponte

    “Quando a gente passa, as pessoas gritam ‘vai, Bolsonaro’, que é o mesmo que dizer ‘você vai morrer’ porque elas sabem que a gente tem medo do nome dele. Eu tenho medo de ir à padaria comprar um pão, tenho medo de estudar, tenho medo de ir ao trabalho. Eu vou porque preciso sobreviver, mas o medo está constantemente do meu lado como nunca esteve”, desabafa Suzi.

    A militante trans Erica Malunguinho, eleita nas eleições de 2018 a deputada estadual de São Paulo, aponta que a representatividade do candidato legitima retrocessos aos direitos dos LGBTs. “Já existe uma estrutura transfóbica presente na mentalidade das pessoas, a diferença é que elas encontraram um representante e aderem ao que ele diz. A imagem dele autoriza que as mortes aconteçam” pontua. “O que aconteceu [com Priscila e Laysa] mostra que a sociedade não está preparada para conviver com a diversidade e aceitar a sua multiplicidade. É absurdo nós termos que lutar para sobreviver”, completa.

    Foto:Daniel Arroyo/Ponte

    Para elas, apesar do medo, a necessidade de resistência e de ocupar os espaços públicos não pode acabar. “A luta não é só uma opção, ela é necessária. Não dá mais pra ficar em casa, a gente tem que lutar nas ruas porque é nas ruas que a gente está morrendo”, finaliza Erica.

    Durante o ato, um ovo foi lançado em direção às manifestantes enquanto a marcha passava em frente a um prédio residencial e ao DPPC (Departamento de Polícia de Proteção à Cidadania), órgão da Polícia Civil de SP.

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