‘Questionei a truculência de um PM com um morador de rua e fui agredido’

    Engenheiro conta que foi espancado, trancado em viatura e borrifado com spray de pimenta durante Carnaval em MG

    Lesões causadas pelos golpes dos PMs no rosto e olho de Daniel | Foto: Arquivo pessoal

    Daniel Machado Rodrigues, 33 anos, voltava de um show no carnaval de Belo Horizonte, capital de Minas Gerais, na noite de sábado (22/2) quando viu uma abordagem truculenta da PM. Ao tentar intervir para que os policiais não agredissem uma pessoa em situação de rua, ele virou alvo e foi espancado, como relata.

    À Ponte, o engenheiro civil contou que estava com a namorada indo para o ponto de ônibus por volta de 22h30 e se depararam com um bloqueio da PM. Ao se aproximarem, viram o enquadro feito com agressividade, o que gerou sua revolta.

    “O homem aparentava estar em situação de rua e eu interpelei o motivo daquela abordagem, disse que não podia ser assim. Aí o policial disse: ‘Então você é valentão?’ E começou a me agredir”, relembra Rodrigues.

    Os policiais acertaram golpes de cassetete em sua cabeça e costas, deixando um dos olhos roxo, conforme registros feitos pelo engenheiro. Ele conta que primeiro apenas um PM o espancava, mas depois um grupo que estava no bloqueio também o agrediu.

    “Eu consegui me desvencilhar e correr, estavam me batendo muito. Minha cabeça está cheia de galos. Corri e me pegaram de novo”, contou. Em seguida, uma nova agressão ao ser colocado no camburão: Daniel afirmou que um dos policiais deu um jato de spray de pimenta no chiqueirinho (área traseira da viatura, onde as pessoas são colocadas para transporte) da PM antes da viatura sair.

    Segundo o engenheiro, os policiais andaram e fizeram algumas pausas com o carro antes de levá-lo a um batalhão da tropa. No caminho, mais um engenheiro foi colocado no espaço. Ao chegarem no batalhão, que Daniel não soube precisar qual era, mais violência.

    O homem conta que o efeito do spray o impediu de identificar por quanto tempo ficou na viatura. “Me levaram para o batalhão, um policial chutou meu rosto, meu estomago. Depois me levaram para o João XXIII [hospital]”, explicou, dizendo ter ficado algemado à maca.

    Na unidade, Daniel recebeu atendimento médico e depois os PMs o levaram para a delegacia Ceflan 2, de central de flagrantes, no bairro de Santa Teresa. O engenheiro apontou que seu nome está errado no boletim de ocorrência e que terá uma cópia do documento apenas na quarta-feira (26/2), como informado a ele pela Polícia Civil, conforme explicou à Ponte.

    “O policial me jogou em uma cela, fiquei de 3 a quatro horas com dez presos em quadradinho minúsculo, mal ficava em pé”, disse. Segundo ele, a cabeça ainda doem mesmo quase 18 horas depois das agressões.

    A Ponte questionou a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública de Minas Gerais, administrada pelo general Mario Araújo neste governo de Romeu Zema (Novo), e aguarda um posicionamento.

    A reportagem também solicitou uma explicação da PM-MG e, em nota enviada às 19h deste domingo (23/2), a corporação explicou que Daniel “foi conduzido à Delegacia pelo crime de desacato”. “Segundo o REDS (abreviação de nome de um dos PMs envolvidos na ação), o autor ainda teria agredido policiais militares, tendo um deles sido ferido com maior gravidade, o que causou uma luxação em sua mão direita e o afastou de suas atividades por dois dias”, explicou a PM.

    A corporação ainda salientou que “não coadunar com qualquer desvio de conduta, podendo os cidadãos buscarem os órgãos competentes para denunciar qualquer irregularidade”, disse.

    Atualização às 21h43 de domingo (23/2) para inclusão do posicionamento da PM-MG.

    Já que Tamo junto até aqui…

    Que tal entrar de vez para o time da Ponte? Você sabe que o nosso trabalho incomoda muita gente. Não por acaso, somos vítimas constantes de ataques, que já até colocaram o nosso site fora do ar. Justamente por isso nunca fez tanto sentido pedir ajuda para quem tá junto, pra quem defende a Ponte e a luta por justiça: você.

    Com o Tamo Junto, você ajuda a manter a Ponte de pé com uma contribuição mensal ou anual. Também passa a participar ativamente do dia a dia do jornal, com acesso aos bastidores da nossa redação e matérias como a que você acabou de ler. Acesse: ponte.colabore.com/tamojunto.

    Todo jornalismo tem um lado. Ajude quem está do seu.

    Ajude

    mais lidas