Tiros e bombas contra um baile reggae na favela

    Policiais militares reprimiram festa na Favela do Belém, em São Paulo. Segundo testemunhas, PMs jogaram bombas em famílias e crianças
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    Policiais com escudos nas ruas da Favela do Belém, após acabar com a festa. Foto: Facebook

    Domingo (3/1) o baile estava cheio na Favela do Belém, em São Paulo. Tinha centenas de pessoas na Rua Nelsom Cruz, gente da comunidade e gente do centro expandido, todo mundo dançando a batida quatro por quatro do reggae, em meio a letras que falavam de liberdade e opressão.

    A festa acabou de repente, por volta das 20h, quando a rua foi invadida por um grupo de homens armados e uniformizados, avançado pela rua atrás de escudos. Era a Polícia Militar do Estado de São Paulo. Os organizadores dizem que tentaram dialogar com os PMs, mas eles não estavam com vontade de conversar. Preferiram argumentar jogando bombas de gás lacrimogêneo e de efeito moral sobre a multidão – a maioria adolescentes e jovens, mas também idosos e crianças.

    “Assim que a gente avistou os policiais chegando de escudos, desligamos o som. Tentamos dialogar com eles, mas já chegaram atirando com bala de borracha e soltando bomba”, conta o músico Johnny Jamaica, 25 anos, do coletivo B13 Sound System, um dos organizadores do evento. “O mais grave é que, como ali é uma comunidade, estava cheio de famílias. O despreparo da polícia foi demais”, diz.

    Por que a PM atacou uma festa na favela? Participantes do baile ouvidos pela reportagem disseram que até agora não sabem. “A gente estava lá bem tranquilão, dançando, e a polícia apareceu tacando bomba de gás lacrimogêneo em todo mundo”, contou uma estudante de 17 anos.

    A Ponte Jornalismo fez essa pergunta para as assessorias de imprensa da Secretaria da Segurança Pública, que tem à frente Alexandre de Moraes, nesta quarta gestão do governador Geraldo Alckmin (PSDB), e da Polícia Militar. Ninguém respondeu (veja abaixo).

    Para Jamaica, que há cinco anos atua como músico, a PM só agiu com tanta violência por estar numa favela. “Sabemos que em bares famosos e luxuosos de alguns bairros requintados de São Paulo, jamais a polícia lançaria bombas de gás em uma multidão de 1000 pessoas ou mais”, escreveu em um texto no site Polifonia Periférica, que termina dizendo “Contra as bombas queremos lançar nossa poesia e nossa sabedoria”.

    À Ponte, Jamaica contou que o B13 Sound System e outros coletivos organizam toda semana festas de reggae em diversas comunidades de São Paulo. “Usamos a música jamaicana com um objetivo social. Fazemos um trabalho sério e não merecemos ser reprimidos”, afirma.

    Cinco perguntas que o governo de São Paulo não respondeu

    1. Por que a PM decidiu reprimir essa festa?

    2. Por que usar bombas de gás lacrimogêneo e de efeito moral contra aquelas pessoas?

    3. Houve uso de balas de borracha? Com qual justificativa?

    4. Policiais de quais companhias participaram da ofensiva?

    5. O comando da PM considera regular a ação dos policiais neste caso? Ou vai apurar se houve excessos?

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