Rota mata quatro homens após suposto roubo de carro

    Caso aconteceu na zona sul de São Paulo, com nenhum dos policiais feridos na troca de tiros; vizinho confirma ter visto viatura, mas não a perseguição

    Policiais sustentam versão de que suspeitos teriam atirado e, só aí, tropa revidou | Foto: Divulgação/SSP

    Uma suposta troca de tiros entre policiais da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar, a tropa mais letal da PM paulista) e suspeitos resultou na morte de quatro homens na região de Pedreira, periferia na zona sul da cidade de São Paulo. Segundo a versão dos policiais, o quarteto era suspeito de ter roubado um carro e feito uma pessoa refém.

    A chacina ocorreu por volta das 20h da última quarta-feira (4/12). De acordo com o B.O. (Boletim de Ocorrência), os policiais da Rota patrulhavam a região quando foram acionados para acompanhar o roubo de um veículo. Após receber via rádio as características do automóvel, os policiais, ainda segundo o documento oficial da Polícia Civil, encontraram um Fiat Fiorino branco e iniciaram a perseguição.

    No momento que chegaram na Estrada da Servidão, no bairro Campo Grande, os quatros homens teriam descido do carro atirando, segundo a versão oficial. Neste momento, todos os homens foram baleados e mortos no revide dos PMs. O documento não menciona se os homens morreram no local ou se chegaram a ser socorridos a algum hospital. Também não cita quantos tiros teriam sido disparados das armas encontradas com as vítimas.

    Segundo o B.O., o caso teve início após um homem de 31 anos, que trabalha como técnico de refrigeração, ter ido até a região para buscar um produto que havia comprado pela internet, quando foi abordado pelos quatro homens.

    Rua em que a Rota teria trocado tiros com dos quatro suspeitos | Foto: Paulo Eduardo Dias/Ponte Jornalismo

    Por volta das 16h desta sexta-feira (6/12), os corpos dos quatro homens seguiam no IML (Instituto Médico Legal) Sul, localizado no Brooklin, região rica de São Paulo. A reportagem apurou que duas das vítimas já haviam sido identificadas: Diogo de Oliveira Silva e Kayna Matheus Fernandes Escola, enquanto as outras duas permaneciam sem identificação. Enquanto a Ponte esteve no local, nenhum familiar havia comparecido para liberação das duas vítimas em que o nome já era de conhecimento da Polícia Científica.

    A reportagem esteve nesta sexta-feira na Estrada da Servidão no entrocamento com a Rua Canuto Borelli. O local em que houve a suposta troca de tiros é margeado por mato e prédios altos do lado direito. Do lado esquerdo existe um barranco que dá em casas abaixo do nível da rua. A região é tomada por diversas casas simples e ruas estreitas, em que passa um carro por vez, e fica localizada atrás do shopping Interlagos.

    Assim como na maioria dos casos envolvendo assassinatos, sejam eles cometidos por policiais ou não, a lei do silêncio faz com que os vizinhos ou possíveis testemunhas se mantenham calados. Um vizinho do local, que preferiu não se identificar, afirmou que viu quando uma viatura da Rota passou pela Canuto Borelli em direção à Estrada da Servidão pouco depois das 19h, no entanto, não soube precisar se ela perseguia um outro veículo. O homem também informou que, pelas conversas que ouviu na região, os mortos não seriam do bairro, o qual ele classificou como “tranquilo”.

    A Ouvidoria das Polícias acompanha o caso e, segundo o ouvidor Benedito Mariano, “já foi solicitado que a Corregedoria da PM avocasse e afastamento dos policiais para serviço administrativo”.

    Em nota, a SSP (Secretaria de Segurança Pública) informou que as armas dos policiais e as que foram encontradas com as vítimas foram apreendidas e encaminhadas para perícia. “O veículo envolvido no caso também passou por perícia e, na sequência, devolvido ao dono. O caso foi registrado como tentativa de roubo de veículo, resistência e morte decorrente de intervenção policial, no DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), que investiga os fatos”, diz a pasta. A nota também informa que a Polícia Militar instaurou um Inquérito Policial Militar (IPM).

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