Bloco de carnaval Ilú Obá De Min homenageia Marielle e famílias que lutam contra o genocídio

Tradicional cortejo afro que abre carnaval de rua da cidade de São Paulo, nesta sexta-feira (9/2), terá como tema o enredo Irúgbìn: Família Franco – Marielle, a fim de celebrar a memória e as sementes que a parlamentar deixou

Banner de divulgação do Bloco Afro Ilú Obá De Min | Imagem: Reprodução/Instagram

O bloco afro Ilú Obá De Min mergulhou na ancestralidade e na luta contra o genocídio da população negra para buscar um futuro diferente na edição deste ano do tradicional cortejo que abre o carnaval de rua da cidade de São Paulo. Com o tema Irúgbìn: Família Franco – Marielle, o grupo de percussionistas formado majoritariamente por mulheres negras vai se apresentar nesta sexta-feira (9/1) no centro da capital, trazendo como destaque o legado da parlamentar que foi brutalmente assassinada no Rio de Janeiro em 2018.

Irúgbín [lê-se irubim] significa sementes em iorubá”, explica a diretora artística Mafalda Pequenino, que atua no bloco desde a fundação, há 19 anos. “Simboliza as sementes que Marielle plantou, que a gente já vem colhendo lindamente, e também a nossa ancestralidade mais antiga, porque quando a gente está falando de ancestralidade é reverenciar a continuidade.”

Mafalda destaca nos temas figuras negras que são importantes tanto para a negritude quanto para a sociedade como um todo, mas esse legado só existe porque as famílias estão a frente e não podem ser esquecidas. “A gente estende essa reverência não só para família Franco, que é guardiã dessa memória, desse legado de Marielle, mas a gente estende também a reverência a todas as famílias pretas, todas as famílias negras, todas as famílias afro-brasileiras que lutam diariamente contra a necropolítica”, aponta.

Na edição deste ano, além das alas de movimentos negros, feministas, LGBTQIAPN+, o bloco terá uma específica para os movimentos de familiares de vítimas do Estado. Nela, estarão o Movimento Independente Mães de Maio, o Movimento de Mães de Osasco e Barueri e o Movimento de Familiares das Vítimas do Massacre em Paraisópolis.

Maria Cristina Quirino, uma das integrantes do Movimento de Mães de Paraisópolis e que perdeu o filho de 16 anos no massacre em 2019, conta que nunca tinha ido a um bloco de carnaval antes. “Eu até fiquei em choque [com o convite] porque ainda é muito difícil assimilar esse lugar da cultura como um espaço de luta”, revelou. “Quando eu entendi que o bloco faz um carnaval mais político, eu tive a certeza de que é importante estar junto fazendo o nosso papel de visibilizar as mortes dos nossos filhos. Nosso país é genocida, é o caso da Marielle, é a letalidade policial no Rio, em São Paulo, na Bahia. A gente tem que trazer essa realidade para a sociedade ver”.

A diretora artística Mafalda Pequenino aponta que é uma forma de ocupar espaços negados e ressignificar as dores. “A nossa luta é diária, mas é uma celebração também porque cada dia que a gente levanta, a gente tendo o nosso corpo e as nossas corpas negras como alvo, é uma celebração de poder estar em pé e de poder lutar”, afirma. “Elas vão com as camisetas estampando os rostos dos filhos e filhas delas. É um momento de muita emoção porque a gente vai transformar morte em vida. Em África, se você pegar momentos fúnebres, momentos de enterros, eles estão dançando. Mas a gente quer dizer ‘pare de nos matar’. Se derrubou, a gente levanta. A gente não acredita que existe morte. Só existe morte quando há esquecimento.”

E, ainda, a importância de serem os protagonistas da própria história. “Quem criou o racismo não foi a gente. Quem criou o racismo foi a branquitude. Mas a gente não quer falar sobre a branquitude. A gente quer falar sobre nós. A gente é invisibilizado o tempo todo. As nossas histórias são invisibilizadas o tempo inteiro”, aponta.

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O bloco vai fazer duas apresentações. A primeira é na sexta-feira (9/1), às 19h na Praça da República, na região central, em que são esperadas as participações de Antônio Francisco da Silva Neto e Marinete Silva, pais de Marielle, e Luyara Santos, filha da vereadora. O percurso deve se encerrar no Largo do Paissandu, também no centro.

A outra é no domingo (11/2), às 14h em frente à Cia Livre de Teatro, localizada na Rua Conselheiro Brotero, nº 195, no bairro da Barra Funda, na zona oeste da cidade. O evento vai terminar em frente ao galpão do Armazém do Campo do Movimento dos Sem Terra (MST), no centro.

Ambas são gratuitas e as concentrações iniciam uma hora antes.

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