Após foto em reportagem da Ponte, moradora da Favela do Cimento (SP) reencontra família

    Jéssica Correia, o companheiro e dois filhos agora vão recomeçar a vida em Curitiba, no Paraná, após pai da jovem vir buscá-los em ocupação na zona leste de São Paulo

    Jessica Correia foi identificada pela família após publicação desta foto | Foto: Daniel Arroyo/Ponte Jornalismo

    A frustrada ação de reintegração de posse na Favela do Cimento, no Belenzinho, zona leste, planejada pela Prefeitura de São Paulo com aval da Justiça, resultou em ao menos 200 barracos queimados, feridos e um morto, ainda não identificado, na noite de sábado (23/3). Mas ao menos uma história, de uma personagem entrevistada pela Ponte, teve um final feliz.

    Naquela noite, os próprios moradores da favela, indignados com a postura do município, iniciaram um incêndio. Eles alegam que a prefeitura descumpriu o que havia sido determinado judicialmente: além do envio de caminhões para a remoção de pertences e pessoal técnico, a presença de assistentes sociais e Conselho Tutelar para orientação. Enquanto os barracos ardiam em fogo, Jéssica Correia da Silva, 24 anos, seu companheiro e os dois filhos, um de 4 anos e outro de três meses, buscaram abrigo em um galpão na rua do Hipódromo, 1.000, a cerca de 600 metros da rua Pires do Rio, onde viviam há quatro anos.

    Em meio a tantas pessoas no local, Jéssica foi uma das que concordaram em contar sua história à reportagem, deixando ser fotografada pelo fotógrafo Daniel Arroyo, da Ponte. Naquele momento, sem imaginar, a imagem de Jéssica chegaria ao seu irmão, morador do interior paulista.

    Ao ver a imagem da irmã amamentando o sobrinho mais novo, Paulo Henrique Correia, 26 anos, se sensibilizou e saiu de Jundiaí até capital para reencontrá-la. Correia pediu dispensa na empresa de construção civil em que trabalha e percorreu, de trem, ao lado da namorada, os 60 quilômetros que separam as duas cidades.

    Paulo Henrique com a Namorada vindo ao encontro da irmã; ao lado, Jéssica e a família indo para o Paraná | Foto: arquivo pessoal

    “Olha, minha irmã está fora de casa há muito tempo. Eu não sabia seu paradeiro há uns dois anos. Eu sou irmão dela só por parte de mãe. Minha mãe não podia me criar, eu vivi pouco com a Jéssica, mas nunca deixei de pensar nela e nem nos outros irmãos. Quando recebi a reportagem fiquei aflito porque sabia que tinha que ir ver como ela e os meus sobrinhos estavam. Deixei o meu trabalho e no outro dia saí de Jundiaí e fui com minha namorada procurar por ela. Não foi fácil encontrar, porque não sabia onde ela estava depois que a casa dela pegou fogo. Quando cheguei onde era a favela estava tudo destruído, não tinha nada. Então eu perguntei para um morador de rua se ele sabia para onde tinha ido os moradores. Foi aí que ele me explicou e acabei encontrando o galpão cheio de crianças e adultos, homens e mulheres deitados no chão, sem água e com poucas roupas. Na hora, só queria saber como minha irmã e os meus sobrinhos estavam. Quando os vi bem, senti uma paz”, disse.

    O rapaz conta que, logo após abraçar a irmã e os sobrinhos entrou em contato com sua mãe, que mora em Curitiba, no Paraná, para relatar o que havia ocorrido. De pronto, ela conversou com a pai de Jéssica que concordou em vir até São Paulo buscar a filha e sua família. “Sou o único que mora em São Paulo, toda a família mora em Curitiba”, contou. Ontem, o pai de Jéssica esteve em São Paulo e, de carro, os levou para a capital paranaense.

    “Graças a reportagem achei minha irmã. O pai dela já veio pegá-la e graças a Deus ela está voltando para a família. Já saiu do galpão e está a caminho de Curitiba [para recomeçar]”, afirmou, aliviado, Paulo Henrique.

    Paralelo ao final feliz de sua irmã Correia encontra tempo para se mostrar chateado com a situação das outras famílias que perderam tudo no incêndio e agora se abrigam no galpão. “Que futuro podemos ter deste jeito? Não é porque um ser humano mora em um barraco que ele é diferente dos demais. Às vezes, a necessidade nos obriga a isso. Eu via a situação das pessoas lá. É triste, porque agora não sabem para onde vão”, lamenta.

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