Terceiro protesto contra tarifa em SP termina com bombas de gás e 4 detidos

    Assim como no ato da semana passada, PM revistou aleatoriamente manifestantes, inclusive jornalistas, e antes mesmo da saída da passeata deteve 4 pessoas

    Foto: Daniel Arroyo/Ponte Jornalismo

    O terceiro ato contra o aumento da tarifa do transporte público, nesta terça-feira (23/1), terminou com quatro pessoas detidas antes mesmo do início da manifestação, marcada para as 17h. Os jovens detidos foram levados para o 3º Distrito Policial e o grupo de manifestantes decidiu seguir em passeata até o local. Contudo,  a polícia e os participantes do protesto não entraram em um acordo sobre o trajeto. O ato tentou sair, à revelia, da esquina da avenida Ipiranga com Rio Branco, na região central de São Paulo, alegando que “ninguém ficaria para trás”. A PM respondeu com bombas de gás lacrimogêneo.

    O trajeto até a sede da Secretaria da Segurança Pública do Estado, no Largo do São Francisco, a primeira proposta de marcha dada pelo MPL (Movimento Passe Livre), tinha sido aceito. Segundo o major Gonçalves, comandante da ação, seus superiores da PM não liberaram a ida do ato até o DP para não atrapalhar “a rota das viaturas e a ida dos cidadãos de bem para registrarem outras ocorrências”, sustentou aos representantes do grupo.

    Foto: Daniel Arroyo/Ponte Jornalismo

    Antes das detenções e de a manifestação começar, parte dos 400 policiais destinados para a operação cercou os participantes na esquina de uma padaria no cruzamento da avenida Ipiranga com a São João, área turística da capital paulista – uma técnica bastante utilizada em manifestações na época da Copa do Mundo de 2014, chamada de envelopamento. Todos que estavam dentro do cordão, incluindo jornalistas, tiveram bolsas e mochilas revistadas. Parte do grupo teve RG pedido pelos PMs e os dados dos documentos foram registrados.

    Foto: Daniel Arroyo/Ponte Jornalismo

    Alguns do jovens tiveram o rosto filmado pelo “Olho de Águia”, serviço da corporação com câmera profissional para registrar as ações. Neste instante, uma manifestante se recusou a falar o nome após pedido de um policial que insistiu e, com nova recusa, decretou a sua prisão – ela carregava um recipiente com vinagre. “Você vai ser detida por bem ou por mal”, afirmou. A Ponte verificou que este policial especificamente estava sem identificação no momento, seja a nominal ou com intercalação de letras e números. A prática infringe lei do próprio regulamento interno de uniformes da corporação, como a Ponte demonstrou em reportagem na semana passada.

    Outras três pessoas envolvidas no ato contra o aumento da tarifa das passagens também acabaram detidas e levadas para as viaturas antes de serem encaminhadas ao 3º DP. Um deles portava spray de tinta, apontado como material “inflamável” pelo comandante. A imprensa não pôde acompanhar a detenção dos quatro, a primeira ocorrida por volta de 17h30 e a última delas cerca de uma hora depois.

    O fotojornalista da Ponte Daniel Arroyo questionou o comandante sobre a determinação de os manifestantes serem proibidos de cobrirem o rosto, como mostrado na imagem acima. “A tropa não está mascarada. Vamos entender o que é máscara e bala-clava [uma espécie de touca ninja contra material inflamável e que protege de intempéries climáticas]. A minha tropa está usando um material resistente a chamas que a gente chama de EPI”, disse o major Gonçalves, responsável pela operação.

    Foto: Daniel Arroyo/Ponte Jornalismo

    Viaturas da Caep (Companhia de Ações Especiais da Polícia) levaram o quarteto até o DP. Porém, falta de informações sobre a chegada ou não dos manifestantes no local fez com que o grupo permanecesse no cruzamento e atrasasse a saída da manifestação. Às 19h10, a reportagem ligou para o 3º DP e, até aquele momento, nenhuma das viaturas com os jovens detidos tinha chegado ao local.

    Foto: Daniel Arroyo/Ponte Jornalismo

    Em determinado momento, sem acordo sobre o roteiro da caminhada, a maior parte dos manifestantes manteve a decisão mesmo repreendidos pelo comandante e marcharam rumo à Rua Aurora, onde os detidos estavam. A cerca de 300 metros do DP, a tropa lançou bombas para dispersar o ato. Alguns dos explosivos com gás lacrimogêneo caíram dentro de um mercado na região.

    Foto: Daniel Arroyo/Ponte Jornalismo

    Parte dos policiais, então, se encaminhou para cercar a entrada da Rua Aurora, onde fica a delegacia. Viaturas da Tropa de Choque e motocicletas da Rocam procuravam parte do grupo que se dispersou após o início da repressão. Dois caminhões do Choque ficaram estacionados em um posto de gasolina na esquina do DP. A ação encerrou o ato.

    A Ponte questionou a Secretaria da Segurança Pública sobre a técnica de envelopamento utilizada antes mesmo do início do protesto, além das detenções e a prática de revista até mesmo dos jornalistas que trabalhavam na cobertura da manifestação. *Em nota, a CDN Comunicação, que cuida da assessoria de imprensa da pasta, informa que foi necessário o uso de munição de efeito moral, já que os manifestantes se negaram a entrar em um acordo com a PM. “Houve tumulto sendo necessário a utilização de munições de efeito moral. Em abordagens policiais, quatro pessoas foram detidas e encaminhadas ao 3º DP, onde a ocorrência foi registrada, ouvidas e liberadas. Com elas foram apreendidos marreta, estilete e outros materiais para atos de vandalismo”, diz a nota.

    *Atualizado às 10h20 do dia 24/01

    Foto: Daniel Arroyo/Ponte Jornalismo
    Foto: Daniel Arroyo/Ponte Jornalismo

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