Videorrepórter grava agressão de GCMs contra mulher no centro de SP, e é intimidado por vizinhos

Caio Castor revelou mais uma ação de violência da guarda civil na região conhecida como “Cracolândia”, no centro de SP. Após divulgar o vídeo, autor foi intimidado por moradores

A região conhecida como “Cracolândia”, no bairro de Campos Elíseos, no centro da cidade de São Paulo, registrou mais uma ação de violência da GCM (Guarda Civil Metropolitana) contra dependentes químicos neste sábado (28/5). Desta vez, o videorrepórter Caio Castor, morador do bairro, filmou uma mulher sendo agredida pelos guardas com golpe de cassetete e, em seguida, recebendo spray de pimenta no rosto, sem apresentar nenhum tipo de resistência. 

As imagens, publicadas por volta das 12h, rapidamente começaram a repercutir nas redes sociais, sendo compartilhada inclusive pelo padre Júlio Lancellotti, da Pastoral do Povo de Rua e uma das principais lideranças contra a violência na região. No Instagram, o religioso questionou se “essa é a estratégia de ‘importantes vitórias’ promovida pela Prefeitura de São Paulo”, que está sob gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB). 

O alcance da denúncia incomodou outros moradores do bairro, que iniciaram uma tentativa de intimidação ao videorrepórter que gravou a ação. “Tanta gente sendo roubada, pessoas sem ir trabalhar por causa desses noias, e vem um idiota filmar a polícia”, escreveu uma moradora em um grupo no WhatsApp ao qual a Ponte teve acesso.

Moradora é contrária à denúncia de violência contra GCM no centro de SP | Foto: Reprodução

Ainda no grupo, moradores continuavam dizendo que a publicação de Castor denunciando a violência praticada pela GCM iria prejudicar a população local. “Como pode isso? Dando tiro no próprio pé! Tem momentos que a polícia tem que agir com rigor, sim. Qual é o sentido em divulgar situações sem ao menos inteirar e entender o contexto?”, questionou um morador. 

Conforme a conversa entre os moradores de prédios da região, a preocupação com a divulgação das imagens é pelo fato de a GCM sair do local, já que aparentemente há um acordo para que fique pelo menos uma viatura na rua atendendo aos moradores. 

“Acho o seguinte: ou estamos com a polícia que está nos dando cobertura para poder sair de nossas casas ou aceitamos os usuários na nossa porta, simples assim. A Globo foi acionada e se isso repercutir contra os guardas, o capitão irá tirar todas as viaturas da GCM e ficará só a militar, que não serve para nada, como eles já falaram, pois não tem autoridade para ir para cima”, escreveu uma moradora. 

Outra moradora foi em tom ainda mais ameaçador: “Se a GCM sair daqui, esse morador vai ter problema sério”. Na sequência, outra concorda: “Nossa, vai ter mesmo”. Outro afirma torcer para que Castor seja “agredido ou esfaqueado nas ruas por esses noias”. 

No final da tarde, o grupo de moradores organizados deixou o WhatsApp e foi para rua. “Por volta de 18h, olhei para baixo do meu prédio e tinha pelo menos umas 15 pessoas, incluindo um cara mega raivoso falando que ia entrar na minha casa. Eu estava com a minha esposa e minha filha, e nós ficamos desesperados”, conta Castor. 

Com o grupo à porta de seu prédio, o videorrepórter decidiu ligar para alguns amigos, dentre eles um advogado, para pedir apoio. Também conversou com um zelador do local, com quem mantém bom relacionamento e é amigo de policiais e dos moradores que estavam enfurecidos, e o homem auxiliou para amenizar a situação momentaneamente. 

Castor afirma que alguns amigos dormiram no apartamento dele, e notou que os GCMs que ficam à porta do prédio ficaram o tempo todo olhando para cima. Ele deixou o prédio com família na manhã deste domingo (29/05) para se refugiar em um lugar seguro.  

Ainda na manhã deste domingo, uma outra moradora mandou no grupo que está com “vontade de dar uma surra nesse cara”. Castor registrou um boletim de ocorrência eletrônico relatando as ameaças e intimidações. 

Outro lado 

Questionada pela Ponte, a Secretaria Municipal de Segurança Urbana disse que “afastou os agentes flagrados em atos inaceitáveis e que não representam o padrão de atuação da Guarda Civil Metropolitana”. A prefeitura informou ainda que instaurou uma sindicância “para apurar os fatos e aplicar as punições cabíveis”.

Com relação a fala de moradores sobre a retirada de guardas do local caso as denuncias continuassem, “a GCM esclarece que permanecerá atuando na região regularmente, tanto desempenhando policiamento comunitário quanto em apoio aos outros agentes públicos que ofertam acolhimento social e terapêutico aos usuários de drogas, além das equipes de zeladoria”.

A reportagem também questionou a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo sobre a apuração das intimidações ao Caio Castor, mas não teve retorno até esta publicação.

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