Jacira Melo, do Instituto Patrícia Galvão, rebate as afirmações do Secretário da Segurança de São Paulo de que casos de estupro estariam relacionados à crise econômica
“Estupro não é consequência de desemprego ou da ingestão de bebidas alcoólicas, é uma das mais graves violações dos direitos humanos das mulheres, uma violência que agride e aliena uma pessoa do que ela tem de mais íntimo – o seu próprio corpo”, afirma Jacira Melo, diretora executiva do Instituto Patrícia Galvão, rebatendo as declarações do recém-empossado secretário de Segurança Pública de São Paulo, Mágino Alves Barbosa Filho.
Em entrevista ao jornal “Estado de S. Paulo”, ao comentar ao altos índices de estupro em São Paulo, Barbosa disse que “esse crime, como outros, é um pouco da consequência dessa crise que estamos vivendo”. Questionado sobre qual a relação da violência sexual com a situação econômica do país, Barbosa respondeu: “O camarada perdeu o emprego. Ele começa a se desesperar, começa a beber. Um monte de gente, que nunca cometeria qualquer tipo de crime, hoje está praticando o pequeno ilícito e, às vezes, até esses crimes mais graves. O crime de estupro atualmente é um tipo mais aberto – aquele beijo forçado, uma situação de uma carícia imprópria configura o crime de estupro”.
Jacira afirma que se a raiz do problema fosse o desemprego ou a condição social, “não teríamos que combater violências como o assédio sexual, não só em transporte público, mas em grandes empresas, os estupros em cursos de elite nas universidades ou cometidas por pessoas de fama e poder, como no caso do Bill Cosby nos EUA ou do médico Roger Abdelmassih no Brasil”, pontua.
De acordo com ela, é a “expressão da grave desigualdade de gênero que alimenta crenças, estereótipos e expectativas desiguais para os papéis sexuais. Em sociedades machistas as mulheres acabam sendo responsabilizadas por dominar ou suprimir os seus próprios desejos e, ao mesmo tempo, zelar pelo desejo dos homens que cruzam o seu caminho – lógica que não só perpetua a violência sexual, como reforça ainda a culpabilização e revitimização de quem a sofreu, quando o seu comportamento é que é botado em questão”.
A feminista acredita que as autoridades públicas precisam passar mais tempo efetivando as políticas públicas que conquistamos arduamente nas últimas décadas, consultando e respeitando quem atua nessa área, e menos tentando inventar a roda.
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