PM usou cassetetes e gás lacrimogêneo contra manifestantes armados apenas com gritos, cartazes, apitos e tamborins
(*) Sheila Calgaro, especial para a Ponte
Cinco horas da tarde, cruzamento da rua Teodoro Sampaio com avenida Henrique Schaumman, em Pinheiros, zona oeste da cidade de São Paulo. Um grupo de mais de 100 estudantes, a maioria da escolas estaduais Fernão Dias Paes e Godofredo Furtado, protesta contra o plano do governo Geraldo Alckmin (PSDB) que prevê o fechamento de 92 escolas.
Algumas horas antes, o Tribunal de Justiça de São Paulo determinou a reintegração de posse da Fernão Dias, que deveria acontecer em 24 horas. O protesto é realizado de forma pacífica por estudantes de 12 a 18 anos, além de apoiadores que não são estudantes: suas armas são apenas gritos, cartazes, apitos e tamborins. Alguns vestidos de palhaço, outros sentados em cadeiras escolares dispostas na faixa de pedestres, uns entoando hinos e segurando o cartaz “hoje a aula é na rua”. A maioria dos pedestres que passa por ali dá apoio à luta – raros foram aqueles que reclamam da “baderna” que os estudantes estariam fazendo.
Antes das seis da tarde, os estudantes já começam a abrir caminho aos motociclistas, às ambulâncias e aos torcedores de futebol liberando pistas que dão acesso ao Hospital das Clínicas e ao Estádio Allianz . Neste momento, a polícia militar ainda observa. Menos de 30 minutos depois chega a Tropa de Choque da PM, com poucas tentativas de diálogo. Ao me aproximar para conversar com os estudantes que resistem, pergunto quais palavras foram aquelas trocadas rapidamente com a PM, que abriu apenas alguns segundos de conversa. “Nada, não deu tempo de conversar nada. Acho que vão vir com tudo!”, responde um dos jovens líderes do protesto, Heudes Cássio de Oliveira. Outra estudante, mais assustada, apenas comenta: “Moça, melhor se afastar, agora tá tudo muito tenso por aqui”. Do outro lado da rua, um PM que se aproxima de mim tenta justificar: “eles só precisam abrir a pista!”.
A polícia exige o pedido de liberação da pista que dá acesso ao Hospital das Clínicas ou irá usar de violência. Lembrando: o acesso ao HC já havia sido liberado. Sem diálogos, nem conversa, rapidamente a Tropa de Choque se posiciona em formação do outro lado do cruzamento, na Teodoro Sampaio. Em menos de cinco minutos, começa a violência.
Assim que um cordão de proteção aos estudantes – formado não só por alunos, mas pela população que apoia o protesto – se forma, a PM lança várias bombas de gás lacrimogênio, de uma só vez. Conseguem a dispersão rapidamente e marcham em direção aos estudantes, munidos de seus escudos e cassetetes, subindo a Teodoro Sampaio em direção ao Hospital das Clínicas.
A PM se mostra mais violenta com os manifestantes mais velhos. No meio do caminho, uma mulher que aparentava pouco menos de 30 anos questiona os policiais por tamanha violência e outra discussão se forma. Sem esperar, a PM a agride violentamente. Ao mesmo tempo, um homem é detido e levado à delegacia por “obstruir a via”, pois estava sentado à frente da viatura. Mais adiante, dois PMs param um ônibus que subia em direção à Lapa para enfrentar um homem, que estava sentado à janela, questionando-o “quem é o valentão aqui?”. A PM entra e começa a desafiá-lo, mesmo com todas as outras pessoas pacificamente sentadas ali, que nem haviam participado do protesto.