Policiais detiveram ontem 39 grevistas no estado. Em Pinheiros, manifestantes deprederam bancos e restaurante “Senzala”
A greve geral convocada nesta sexta-feira (28/4) por movimentos sociais reuniu cerca de 70 mil pessoas, segundo os organizadores, e parou a cidade de São Paulo por um dia. O dia amanheceu com raras opções de transporte público em toda região metropolitana, com parte dos comércios fechados e muita gente na rua.
Às 7h, já havia relatos de tiros de bala de borracha e bombas de gás lançadas nos primeiros focos de agrupamento de manifestantes, que tentavam bloquear vias de acesso ao centro de São Paulo.
O principal ponto de encontro foi no Largo da Batata, em Pinheiros, zona oeste de São Paulo, onde se juntaram diversos movimentos sociais, como Povo Sem Medo, Frente Brasil Popular, Frente Única da Cultura SP, além de grupos do movimento negro, secundaristas e anárquicos, partindo de diferentes pontos da cidade.
A concentração foi marcada para as 17h e, por volta das 19h, a multidão saiu em caminhada em direção à casa do presidente Michel Temer (PMDB), em Alto de Pinheiros. Após cerca de uma hora, os manifestantes chegaram ao destino final. Na rua Capepuxis, uma praça foi previamente tomada pela Polícia Militar, que colocou uma cerca impedindo os manifestantes de se aproximarem da residência de Temer.
Com gritos, faixas e até fogos de artifício, manifestantes começaram a fazer pressão em frente à grade e ao cordão de isolamento da polícia. Foi então que os primeiros tiros de bala de borracha e bombas de gás lacrimogêneo foram disparados, causando intensa correria entre milhares de pessoas, que se espalharam pela Avenida Professor Fonseca Rodrigues, que dá sequência à Avenida Pedroso de Moraes. A partir daí, os manifestantes começaram a revidar com pedras, rojões e barricadas de lixo nas ruas.
Na Praça Panamericana, o clima de tensão aumentou. O efetivo da polícia foi ampliado, com presença da “tropa do braço” e da Tropa de Choque, que perseguiam e cercavam grupos que tentavam resistir.
O restaurante Senzala, constantemente criticado pelo nome, visual e cardápio em referência à época da escravidão, foi depredado por um grupo de manifestantes. Agências bancárias também tiveram suas vidraças quebradas na avenida Pedroso de Moraes. Em transmissão ao vivo, a Ponte Jornalismo flagrou a polícia militar atirando bombas de efeito moral dentro de um restaurante fast-food McDonald’s.
Tiros e bombas foram ouvidos durante todo o restante da noite, com a PM reprimindo qualquer possibilidade de reagrupamento de manifestantes. O protesto teve seus últimos atos novamente no Largo da Batata, para onde os cercos da polícia induziam os remanescentes, agora em número bem reduzido.
Outro lado
A Polícia Militar informou, em nota que deteve 39 pessoas em todo o Estado durante as manifestações por conta da greve. “Destas, 26 foram responsabilizadas por delitos”, diz a nota.
Em nota no site oficial, o Major Adriano Aranão comemorou o sucesso do ato e pediu confiança à instituição:
“Hoje, mais uma vez, a Polícia Militar demonstrou que está ao lado da democracia e que é amiga do cidadão de bem.
O exercício do direito de greve e de manifestação são constitucionalmente conferidos a todos os cidadãos, pouco importando a orientação político-ideológica. À Polícia incumbe garantir o exercício deste direito, desde que exercido dentro dos limites democráticos. E foi exatamente isso que a Polícia Militar fez hoje.
Durante todo o dia centenas de manifestações foram realizadas em vários locais do Estado de São Paulo e em cada um deles ali estava presente a Polícia Militar para garantir o exercício democrático dos direitos dos cidadãos, de todos os cidadãos”.