5ª edição do FALA! discute jornalismo dos povos originários e desafios da COP 30 na Amazônia

Festival, que aconteceu entre 22 e 24 de agosto em Belém (PA), destacou os riscos e oportunidades para as mídias independentes e exaltou a cultura da região

Na ordem: Erisvam Guajajara, Catarina Barbosa, Isabelle Maciel e Geneci Flores | Foto: Hugo Chaves/Divulgação

Durante três dias — de 22 a 24 de agosto — jornalistas, lideranças de povos tradicionais, estudantes e pesquisadores reuniram-se em Belém (PA) para discutir e celebrar as vozes e a produção artística local. A 5ª edição do FALA! Festival de Comunicação, Culturas e Jornalismo de Causas teve como plano de fundo este ano a Conferência das Organizações das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP 30), que ocorrerá na capital paraense em 2025.

A Ponte, ao lado de entidades como Alma Preta, Marco Zero Conteúdo e Papo Reto, é uma das organizadoras do festival. A edição deste ano ocorreu na Universidade da Amazônia (Unama).

Ameaças ao jornalismo

O fazer jornalístico sob ameaça foi um dos pontos abordados pelos debatedores. Mídias independentes como a Tapajós de Fato falaram da importância de seu trabalho, que noticia a destruição da floresta amazônica, o cotidiano dos povos ribeirinhos e suas expressões culturais, e os riscos que ele implica.

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A editora-chefe do portal, Isabelle Maciel, participou da mesa “Povos Originários e Movimentos Sociais: O papel da Comunicação na Defesa dos Territórios e na Luta por Justiça Climática”.

Ela contou que manter ativo o trabalho do Tapajós de Fato tem sido desafiador e que a equipe recebe ameaças constantes. Por segurança, a organização não cobrirá as eleições municipais deste ano. A decisão veio após jornalistas serem alvo de ataques e tentativas de intimidação. O veículo também deixou de ter sede para trabalho presencial em uma tentativa de inibir as hostilidades.

Erisvan Guajajara, do coletivo Mídia Indígena, também destacou os riscos que o grupo enfrenta. Integrantes do coletivo já tiveram de deixar suas casas por questão de segurança. Mesmo estando no alvo, Erisvan destacou a importância de representantes dos povos tradicionais terem voz ativa na produção de conteúdos sobre a vida cotidiana e os problemas que os afetam. O coletivo divulga notícias e produz documentários e conteúdo para mídias sociais com seu ponto de vista. “É fundamental a existência desse tipo de mídia”, afirmou.

Diversidade e comunicação

O Fala! destacou também as diversas formas de comunicar. Brena Correia, pesquisadora musical, percussionista e secretária-geral do Centro de Estudo e Defesa do Negro (CEDENPA), refletiu sobre a importância da diversidade nas formas de comunicação. A música, defendeu, também é uma forma de denúncia.

Nessa toada, além das mesas e rodas de conversa, o festival contou com apresentações de artistas da cena cultural de Belém.

Maria Flor apresentou a invenção Mulamba. Misturando música e poesia, a artista falou sobre a violência contra pessoas trans no país e da importância da construção da autoestima LGBTQIA+. Em 2023, 155 mortes contra essa população foram registradas no Brasil, segundo a Associação Nacional de Travestis e Transexuais do Brasil (Antra). “Se fosse escolher, eu nascia assim de novo”, disse Maria Flor.

Pelé do Manifesto | Foto: Hugo Chaves/Divulgação

Outra apresentação de destaque foi a do rapper Pelé do Manifesto. O músico paraense trouxe seus versos sobre violência e racismo. “Não é frescura não me diz ai quem consegue/Toda vez que entro no shopping o segurança me segue/Todo mundo percebe todo mundo repara/ As câmera me persegue a polícia sempre me para”, diz a letra de Sou Neguinho, lançada por Pelé em 2020.

Outros grupos a se apresentar foram as bandas Tambores do Pacoval, MC Íra e Negrabi, Layse e os Sinceros com Mestre Curica e Mestre Solano. 

COP 30

Discussões sobre a COP 30 estiveram no centro do festival. Belém está em obras para receber autoridades, comitivas e demais visitantes que devem comparecer ao evento, que ocorre no próximo ano. Pontos turísticos como o mercado Ver-o-Peso passam por mudanças na estrutura e pelo menos 20 bairros têm obras em andamento.

Os participantes da festival ressaltaram os temas da conferência, que dizem impacto à vida das pessoas que vivem na região Amazônica, onde rios cheios de mercúrio com peixes infectados deixam de ser opção para alimentação de famílias indígenas e ribeirinhas.

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Samela Sateré Mawé, bióloga e embaixadora da WWF Brasil, criticou a dificuldade de obter credenciais para o evento para representantes dos povos originários. Ela participou da mesa “Como vamos cobrir a Conferência do Clima 2025?”. 

Influenciadora digital, Samela produz conteúdo explicativo sobre questões climáticas. Por meio desse trabalho, contou, sua mãe aprendeu, entre outras coisas, o que é um projeto de lei. A COP, sustenta a ativista, é o momento de usar essas habilidades de comunicação. E uma oportunidade de fazer com que as lideranças entendam que a crise climática afeta de forma dramática a vida de muita gente.

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