Uma mulher transexual foi agredida e roubada e outra atacada com um pedaço de madeira. Em um dos casos, PM teria desprezado vítima e a chamado de ‘traveco’
O município de Jundiaí, a cerca de 60 km de São Paulo, registrou dois casos de violência contra mulheres trans em menos de 24 horas entre um e outro, nesta semana, conforme informa o Cais (Centro de Apoio e Inclusão Social de Travestis e Transexuais) da região.
Por questões de segurança e privacidade, as vítimas preferem não falar com a reportagem. Por isso, as informações são centralizadas no Cais, que as repassa por meio de sua presidente, a ativista Samy Fortes, também mulher trans.
De acordo com Samy, o primeiro caso aconteceu na quarta-feira (24/03), no centro da cidade, e vitimou a garota de programa identificada como Natasha. Segundo a ativista, o ataque foi em um dos poucos momentos em que a vítima ficou desacompanhada das colegas de trabalho.
“A orientação que passamos para as meninas, tanto trans como cis [que se identifica com gênero de nascença], é que não fiquem sozinhas, e fiquem sempre em companhia uma da outra para que não passem por assaltos, agressões, e outras coisas negativas”, explica Samy.
Natasha e as demais colegas seguem as orientações e, juntas, perceberam, no início da noite do ataque, que duas motociclistas circulavam na área onde concentra diversas garotas de programas e ficavam perguntando pelos valores dos programas.
Samy afirma que, desde o início, as mulheres desconfiaram dos motociclistas, mas não havia nenhum indício de violência até o momento que Natasha precisou deixar o local para ir buscar cigarro em um hotel.
“Quando ela estava subindo uma das ruas do centro, uma das motos apareceu do nada, na contramão, parou próximo dela e o rapaz desceu com uma faca enorme. Em seguida, agrediu, pegou a bolsa e o celular, a ameaçou e saiu. Como estava de capacete, não deu para identificar nada”, diz a presidente do Cais.
No dia seguinte, quinta-feira (25/03), a vítima foi Alicia, também na região central de Jundiaí, por volta das 17h.
“Ela saiu para pagar algumas contas no centro, e quando estava voltando para casa parou para atender o seu telefone. Enquanto parou, um Ford Ká branco se aproximou e duas mulheres que estavam no carro avisaram para ela tomar cuidado. Ela se assustou e olhou para trás para ver o que estava acontecendo, e viu um homem com pedaço de madeira vindo na direção dela”, conta Samy.
Alicia foi agredida na cabeça e no ombro antes de conseguir começar a se defender, segundo a presidente do Cais. Em seguida, ela lutou contra o agressor e se desvencilhou, derrubando e imobilizando o homem o tempo suficiente para que as outras pessoas do local acionassem a Polícia Militar.
Quando a PM chegou, ainda de acordo com Samy, iniciou o procedimento para registrar a ocorrência e o telefone de um dos policiais tocou. “O policial se afastou um pouco, mas deu para escutar ele falando que não era nada grave, somente um traveco que apanhou no centro”, diz a ativista.
A Ponte questionou a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo sobre as agressões sofridas pelas duas mulheres trans e a possível postura do policial militar no atendimento do ataque contra Alicia, mas não recebeu retorno até a publicação desta reportagem.
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