‘Vocês vão terminar de matar ele mesmo?’: morte pela Rota revolta comunidade em SP

Vídeo mostra ferido levado por PMs ‘como se fosse um saco de lixo’; para presidente do Tortura Nunca mais, PMs podem ter ‘socorrido’ cadáver para atrapalhar investigação. Homem foi morto em São Bernardo do Campo no dia 3 de setembro

Cerca de uma dúzia de policiais da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar), da Polícia Militar de São Paulo, saem de uma viela carregando uma pessoa. Imediatamente o corpo, que está envolto por um pano vermelho. é jogado no porta-malas da viatura 91218. Um PM entra no compartimento da viatura, junto com o baleado.

A cena é acompanhada por moradores indignados. “Vocês vão terminar de matar ele mesmo?”, questiona a pessoa que filma a ação policial.

A cena foi registrada em 3 setembro, uma sexta-feira, por volta das 12h30, na Rua do Cruzeiro, na comunidade do Areião, periferia de São Bernardo do Campo (Grande SP). O homem colocado no carro foi identificado apenas como Cléber por testemunhas ouvidas pela reportagem e teria por volta de 25 anos. 

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A Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo diz, em nota, que a Polícia Militar foi ao local após receber denúncia de tráfico de drogas e que os policiais “foram recebidos pelo suspeito com a arma apontada para os PMs”.

Os vizinhos contestam a versão do governo. “O que a gente soube é que ele estava dormindo e a polícia atirou nele na frente da filha pequena”, comentou uma moradora da região, que preferiu não ser identificada.

Ação irregular

Ao levar o homem baleado na viatura, os PMs descumpriram a resolução SSP 05, de 7 de janeiro de 2013, que proíbe a PM de socorrer feridos e estabelece que o resgate deve ser feito pelo Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência).

Para Ariel de Castro Alves, advogado, especialista em direitos humanos e segurança pública pela PUC- SP e presidente do Grupo Tortura Nunca Mais, o vídeo mostra que os policiais já sabiam que Cleber estava morto antes mesmo de colocar o corpo do homem dentro da viatura. “As imagens mostram que eles carregam o corpo como se fosse um saco de lixo. Se estivessem socorrendo não teriam transportado daquela forma, mas manteriam ele com a coluna reta. Pelo visto, já sabiam que a pessoa estava morta e retiraram para não preservar o local do crime e dificultar as apurações da Polícia Civil, da Corregedoria da PM e a atuação dos peritos”, diz.

O ouvidor das Polícias de São Paulo, Eliseu Soares Lopes, defendeu a atitude dos policiais, afirmando que os policiais retiraram o corpo do local por não haver unidades de resgate nas proximidades. “A indicação padrão é para que seja acionado o Samu para atendimento no local. No entanto, não havia unidade do Samu na área, havendo necessidade de transporte direto”, respondeu.

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“Um policial foi junto, na medida em que estava com a câmera,  justamente para dar mais lisura à condução do ferido. As versões deste caso serão confrontadas, todavia a versão apresentada pela PM possui gravações por câmeras operacionais, havendo conjunto probatório para a resolução adequada do caso”, afirma o ouvidor.

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