Família realizou protesto na rodovia Raposo Tavares, na zona oeste de SP, na tarde deste domingo (19), para dizer que jovem foi preso injustamente
O dia sequer tinha amanhecido ainda, na quinta-feira (16/9), mas o casal Jairo de Jesus Silva, de 24 anos, e Thamires Souza, de 27, já estavam acordados se preparando para sair para trabalhar. Ela estava terminando de lavar louça, e ele ia colocar a marmita na bolsa, quando policiais da Divisão Antissequestro, da Polícia Civil de São Paulo, chegaram na casa, que fica na região da comunidade do Sapé, zona oeste da capital paulista, estouraram o cadeado do portão e prenderam o servente de obras.
Eles não entenderam nada do que estava acontecendo. Thamires afirma que sequer conseguiu levar a filha do casal, de um ano e quatro meses, para a sogra. Os policiais apenas diziam que Jairo estava preso. “Não esperaram nem abrir o cadeado, quando viram meu marido só disseram que ‘é você mesmo, neguinho’, puxaram ele e jogaram no chão como se fosse um lixo”, conta a esposa.
A Polícia Civil foi à casa de Jairo para cumprir um mandado contra ele, por volta das 5h20. O servente é apontado como integrante de um grupo criminoso que pratica sequestros-relâmpago na cidade de São Paulo. A família do jovem contesta essa acusação e diz que ele é inocente.
A esposa afirma ter sido informada que o servente foi reconhecido por meio de fotografias apresentadas pela Polícia Civil para vítimas de um sequestro que teria acontecido no feriado de 7 de setembro. No entanto, Thamires lembra que no feriado eles saíram de casa juntos, à tarde, foram a um bar ficar com amigos e retornaram para casa à noite. Esse é o programa comum do casal durante as folgas.
Thamires acredita que a foto de Jairo tenha sido apresentada para as vítimas de sequestros porque ele já foi preso por tráfico de drogas. “Meu marido errou no passado, sim, mas já tem dois anos que está na rua, trabalha registrado há sete meses, e não está mais fazendo coisas erradas”, diz.
O advogado Augusto Luiz, da Rede de Proteção e Resistência contra o Genocídio e que atua na defesa de Jairo, destaca que investigação principal está sob segredo de Justiça, o que, para ele, “é um problema importante, porque ainda não conseguimos auditar se há motivos para tal prisão ou se foi uma busca aleatória, como tudo indica, e é muito grave”.
Em busca de provar a inocência do marido, Thamires foi atrás de câmeras de segurança que mostrasse que os dois foram ao bar no dia quando ocorreram os crimes atribuídos ao Jairo. Mas as imagens de dois locais que poderiam mostrar o casal já haviam expirado quando o mandado de prisão foi executado.
No início da tarde deste domingo (19/9), a esposa do servente contou com apoio da Rede de Proteção e Resistência contra o Genocídio para realizar um protesto na região da rodovia Raposo Tavares, próximo de onde o casal mora, para “mostrar que o Jairo é inocente”, conforme diz Thamires.
A Ponte pediu para Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo informações sobre o sequestro atribuído ao Jairo, que o levou para a prisão, mas a pasta, que é comandada pelo general João Camilo Pires de Campos, disse que só poderá atender essa solicitação na segunda-feira.