Jovem com deficiência é baleada dentro de casa em ação da PM

PM do Rio de Janeiro diz que policiais foram atacados enquanto acompanhavam técnicos de energia elétrica no Complexo do Alemão. Família questiona versão de troca de tiros

Vanessa Martins foi atingida dentro de casa no Complexo do Alemão, Rio de Janeiro, nesta terça (5) | Foto: Reprodução

Vanessa Martins, 28 anos, estava dormindo em sua casa, no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, por volta das 10h desta terça-feira (5/10), quando foi atingida por tiros durante uma ação da Polícia Militar do Rio de Janeiro na comunidade. Pessoa com deficiência, a jovem deu entrada na Unidade de Pronto Atendimento da Estrada do Itararé e foi transferida para o Hospital Getúlio Vargas, onde passou por três cirurgias para retirada das balas. De acordo com a família, os médicos garantiram que o quadro dela é estável.

A residência de Vanessa foi alvejada por três tiros. Dois atingiram a jovem, um nas nádegas e outro na barriga. “Ela estava no quarto dormindo. Minha tia ouviu os barulhos, mas não percebeu nada. Já tinha passado um tempo quando ela entrou no quarto e viu a minha prima sangrando. Ela até chegou a pensar que fosse um furúnculo ou algo do tipo, quando percebeu que a filha estava baleada”, conta Raíssa Martins, prima de Vanessa.

Segundo a assessoria de imprensa da Polícia Militar do Rio de Janeiro, PMs estavam dando apoio para técnicos da companhia de energia elétrica e foram confrontados por traficantes da região. “Policiais militares da UPP Alemão que prestavam apoio a equipe em serviço de manutenção para restabelecimento de energia elétrica, próximo à base AfroReggae, foram atacados por disparos de armas de fogo. Houve confronto. Após estabilizado o terreno, a ocorrência foi registrada na 22ªDP”, informou a nota da corporação.

A versão de que houve um confronto dentro da comunidade é questionada pela família da jovem baelada. “Que confronto foi esse que só deu três tiros e todos na casa da minha tia?”, indaga Raíssa.

A PM afirma que “posteriormente, os policiais militares da UPP Alemão foram acionados ao Hospital Estadual Getúlio Vargas, para verificar a chegada de uma vítima de disparo de arma de fogo, que deu entrada na unidade de saúde após ser ferida no interior de sua residência, na localidade da Grota. A ocorrência também foi comunicada à 22ªDP”.

Segundo dados da plataforma Fogo Cruzado, neste ano já ocorreram 1.161 tiroteios na Zona Norte do Rio de Janeiro, onde está localizado o Complexo do Alemão, deixando 181 pessoas mortas e 174 feridas.

“É revoltante. A gente está cansado de todo dia ter tiroteio e operação. Mas que operação é essa que não prende ninguém, não apreende arma ou droga? Essas operações se resumem a balear morador. Movem não sei quantos policiais não apreendem nada e ainda dão tiro em trabalhador. A Vanessa é deficiente, não faz mal a ninguém e estava na casa dela. A gente está cansado de pedir socorro e ter que ficar explicando essas coisas”, desabafa Raíssa.

O ativista Raull Santiago, um dos primeiros a denunciar a ação, critica a postura da PM diante do caso: “O resultado da ação por si só ja responde muitas coisas. O saldo final é uma pessoa com deficiência atingida por dois disparos. Olha o nível e gravidade desse absurdo. É inaceitável, mas por ser na favela, se torna apenas mais um caso”.

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Para ele, a resposta do governo é burocrática e insuficiente. “A polícia pode usar a resposta ‘copia e cola’ que sempre responde para tudo, diminuindo a gravidade e a responsabilidade onde durante uma ação da corporação, algo tão grave ter acontecido. É culpa da forma como a polícia atua na favela, é culpa de como a sociedade enxerga a favela. Como menos, com um território menos importante, onde ‘está tudo bem’ uma pessoa levar dois tiros, dentro de casa, numa pandemia. Será que se fosse no Leblon ou na Faria Lima, teríamos essa resposta sem qualquer menção à vítima?”, questiona.

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