Projeto “Mães enterradas, mães que enterram”, da fotojornalista Beatriz Orle, conta com fotografias histórias de mães que perderam os filhos em ações policiais
O projeto fotográfico “Mães enterradas, mães que enterram”, da fotojornalista Beatriz Orle, retrata as histórias da família das primas Emily Vitória e Rebecca Beatriz, crianças de 4 e 7 anos, que foram mortas a tiros em 4 de dezembro do ano passado, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense (RJ), durante uma operação policial.
O ensaio com a família das meninas Emily e Rebecca é o primeiro do projeto de Beatriz, que pretende recontar histórias de mães que perderam os filhos para a violência policial. Iniciado neste ano, o projeto foca em histórias de vítimas do estado do Rio de Janeiro.
De acordo com reportagem do G1, a morte das primas segue sem solução e o inquérito que apura o caso sequer foi concluído. A Polícia Civil diz que as investigações estão próximas do encerramento, mas ainda não concluiu se os tiros que acertaram as crianças partiram da polícia ou de criminosos.
“Resolvi usar da fotografia como um instrumento para buscar por justiça para esses casos, para que não fiquem invisibilizados e não caiam no esquecimento. A minha proposta é fazer um trabalho de preservação da memória, lembrar quem são as pessoas e em quais situações elas morreram”, conta Beatriz.
As fotos do ensaio com a família de Emily e Rebecca e as histórias que devem ser retratadas no projeto podem ser vistas no Instagram da fotojornalista.
Nesse primeiro ensaio, a fotojornalista foi à casa onde as meninas foram mortas, e registrou em fotos o local do crime e detalhes que resistem mesmo um ano depois do trágico episódio. “Essa é a parte mais difícil, quando entro no lugar onde aconteceu e ouço os depoimentos das mães que seguem sensibilizadas”, diz.
O ensaio com a história de Emily e Rebecca parte da rua onde aconteceu o crime e segue para a intimidade das mães, onde as meninas viviam. A fotojornalista ainda busca fazer com que as imagens retratem de forma fiel os depoimentos prestados.
“Quero despertar o sentimento de tristeza, dor, sensibilidade e empatia com esses casos. Para que as pessoas deixem de tratar como uma estatística, uma fatalidade, ou naturalizar o que acontece nas comunidades. Busco mostrar que essa é uma política, o modus operandi da polícia, de entrar com truculência nas favelas”, afirma a fotojornalista.
Beatriz conta que decidiu iniciar esse projeto porque os direitos humanos e violência policial sempre foram questões que a sensibilizaram, “dado a maneira truculenta que a polícia entra nas comunidades e executa as operações, matando crianças e jovens em circunstâncias completamente questionáveis”.
Além da família de Emily e Rebecca, a fotojornalista atua na seleção de novos casos que devem ser retratados em ensaios de seu projeto. “Os critérios que eu utilizo para esse trabalho são famílias que tenham perdido o ente em circunstâncias extremamente questionáveis, quando os depoimentos e maior parte da estrutura da investigação aponta para culpa do Estado e da polícia”, explica.