‘Viramos alvo fácil’: ataques atingem policiais penais e PMs na Baixada Santista (SP)

Nos dias 25 e 26, ataques mataram um policial penal e um ex-policial militar e feriram outros dois. Presidente do sindicato suspeita de ação do crime organizado, mas governo Doria não vê ligação entre os crimes

Centro de Detenção Provisória de São Vicente (SP), em 2011: três vítimas trabalhavam ali | Foto: Manuel Montenegro/ Agência CNJ

Quatro ataques atiros, desferidos no final de semana do Natal, atingiram dois policiais penais, um policial militar e um ex-PM nas cidades de São Vicente, Praia Grande, Peruíbe e Guarujá. Duas das vítimas morreram.

O presidente do Sindicato dos Funcionários do Sistema Prisional do Estado de São Paulo (Sifupesp), Fábio Jabá, lançou um alerta para a categoria e levanta a possibilidade de os crimes serem parte de uma ação do crime organizado. “Foram quatro crimes que a gente ainda está tentando entender o que está acontencendo na região. A gente sabe que existe o crime organizado em São Paulo e que nada acontece sem que eles saibam”, afirma.

Já a Secretaria da Segurança Pública, do governo João Doria (PSDB), afirma que até agora não encontrou indícios de ligação entre os crimes. “A Polícia Civil informa que ambos os casos citados são investigados e diligências, como busca por imagens e testemunhas, são realizadas a fim de esclarecer os fatos e identificar a autoria. A Instituição esclarece que não há indícios que apontem, neste momento, relação entre as duas ocorrências”, afirmou a SSP em nota.

Os ataques

No sábado (25/12), pela manhã, o policial penal Rogério Pinheiro foi atingido por cinco disparos de arma de fogo quando chegava em casa, após deixar o plantão do Centro de Detenção Provisória (CDP) de São Vicente, onde trabalhava. Socorrido para um hospital na cidade vizinha de Santos, passou por cirurgia e não corre risco de morte.

O policial penal Ronaldo, morto na Praia Grande | Foto: Reprodução

Horas depois, no início da tarde do mesmo dia, outro policial penal, Ronaldo Soares dos Santos, foi atender a campainha da sua residência, na Praia Grande, e, ao abrir a porta foi alvejado por uma série de tiros dados por homens encapuzados que saíram do local em dois carros. Morreu ao ser socorrido. Ele e Rogério trabalhavam na mesma unidade prisional.

À noite, um policial militar foi atacado a tiros na rodovia Padre Manoel da Nóbrega, em Peruíbe, ao retornar do trabalho em sua motocicleta. Homens não identificados em outra moto fizeram uma série de disparos contra o PM, que caiu em uma vala e conseguiu revidar os tiros. Os suspeitos fugiram do local. A identidade do PM, que sobreviveu, não foi revelada.

Já era madrugada de domingo (26/12) em Guarujá quando quatro homens dentro de um automóvel Fox dispararam tiros de fuzil contra um ex-policial militar que estava em outro automóvel com um amigo. O ex-PM morreu na hora e o amigo ficou ferido. Na fuga, um dos envolvidos no crime foi morto por policiais militares e outros três fugiram a pé após abandonarem o veículo em que estavam.

‘Alvo fácil’

Em 1º de dezembro deste ano, o agente penitenciário Eduardo Godinho foi assassinado na cidade de São Vicente. Ele também era funcionário do mesmo CDP de Rogério e Ronaldo. “Demos alguns alertas para os companheiros que trabalham na Baixada Santista para tomarem mais cuidado e a SAP nos chamou de irresponsável”, disse o presidente do Sifupesp, Fábio Jabá, em uma live no YouTube. “Estamos esperando uma resposta da SAP desde a morte do Godinho e nunca recebemos um retorno”, afirmou à Ponte.

Para o sindicalista, a não regulamentação da transformação dos agentes penitenciários em policiais penais é um dos motivos que deixam os profissionais em situação de vulnerabilidade. “Segundo a Organização Internacional do Trabalho, nós somos a segunda profissão mais perigosa do mundo. Os próprios presos nos veem como policiais, mas para o governo de São Paulo não somos nada, somos apenas números. A gente não tem estrutura dentro do nosso trabalho e, quando saímos para rua, viramos um alvo fácil.”

Em nota publicada no Facebook da pasta, a Secretaria de Administração Penitenciária (SAP) de São Paulo disse lamentar profundamente as ações contra os dois servidores no dia de Natal. “A SAP presta todo apoio às forças de segurança para identificação e prisão dos autores dos crimes ao tempo em que presta solidariedade às famílias”, diz um trecho do comunicado.

O que diz o governo

Procurada, a Secretaria da Administração Penitenciária afirmou, por meio de sua assessoria de imprensa, que é “a maior interessada no esclarecimento” da morte do funcionário Eduardo Godinho e que “acompanha a investigação que está sendo realizada pela Polícia Civil e presta solidariedade aos familiares do agente, dando todo apoio e suporte necessários”.

A respeito das críticas feitas pelo sindicalista Fábio Jabá, a SAP afirma que o Sifupesp !não é o único representante da categoria” e que “há outros três sindicatos que representam os servidores desta Pasta”.

“A decisão de transformar agentes penitenciários em policiais penais está de acordo com texto aprovado pelo Grupo de Trabalho que teve participação de servidores de várias áreas e de todos os sindicatos, inclusive do mencionado pela reportagem. O projeto atualmente aguarda inclusão na pauta na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo para votação”, afirma a nota da SAP. A pasta destaca, ainda, que convocou 1.034 agentes de um concurso de 2014, que estão sendo treinados para se juntar aos demais funcionários.

Atualizado em 28/12, às 16h30, para inserir o posicionamento da Secretaria da Administração Penitenciária.

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