Escrivão alegou que dupla de assaltantes mirou revólver em sua direção quando os perseguia, na Cidade Tiradentes; Gabriel Soldo, 19, foi baleado e suposta arma não consta em boletim de ocorrência
Um jovem de 19 anos foi morto por um policial civil na tarde desta segunda-feira (3/1) na região de Cidade Tiradentes, na zona leste da cidade de São Paulo. Vídeos mostrando o corpo de Gabriel Soldo dos Santos Silva foram divulgados em grupos de WhatsApp enquanto era socorrido após ter sido baleado.
No boletim de ocorrência, o caso é narrado pelos policiais civis Celso dos Santos e Carlos Eduardo Capeto, mas não fica claro se ambos participaram ou não da ação. Informam que, por volta das 12h25, souberam que dois indivíduos armados haviam roubado pertences e um carro Gol branco de uma pessoa na Rua Bernardino Luin e as equipes do 44º DP (Guaianases) passaram a fazer diligências para encontrar os assaltantes.
Diz o documento que a viatura dirigida pelo escrivão William Cervantes dos Santos se deparou com o veículo roubado na altura do número 59 da Rua dos Pedreiros e que ele “acionou os sinais luminosos e a sirene, pedindo para os ocupantes parassem”. No entanto, a dupla teria fugido e, em determinado momento, “estava passando um ônibus” e, “como a rua é estreita”, o Gol não teria conseguido passar e os dois desceram do carro correndo. Um deles teria apontado um revólver para Cervantes, que diz ter efetuado três disparos em direção a eles. Gabriel foi atingido, mas o registro não detalha em que região do corpo nem por quantos tiros. Sobre ele, é apenas descrito que tinha passagens anteriores por roubo e furto. O outro suspeito teria fugido.
Gabriel foi levado ao Hospital Geral de Cidade Tiradentes, mas não é informado se foi o Samu ou o Corpo de Bombeiros que foi acionado. Com ele, foram apreendidos seu celular e um boné. Por volta das 16h30 do mesmo dia, o irmão do jovem foi à delegacia comunicar que ele não tinha resistido e que estava no Hospital Geral de Guaianases. A Ponte tentou contato com familiares, mas não teve resposta até a publicação deste texto.
A vítima do roubo, um funcionário de uma empresa de tecnologia, disse que os assaltantes chegaram dizendo “perdeu, perdeu, passa o celular e a chave do carro” e um deles ainda teria pressionado um revólver preto contra seu peito. Ele reconheceu Gabriel por fotografia como o que pressionou a arma com violência e que o outro ficava simulando ter uma arma por baixo da camiseta. O boletim de ocorrência não detalha as características físicas dos suspeitos.
A única arma que consta como apreendida no registro é a do escrivão, uma pistola .40, com 14 cartuchos íntegros. O Gol branco foi devolvido.
O delegado Vanderlei Aparecido Cavalcante, do 44 DP, entendeu que Gabriel cometeu o roubo. Ele encaminhou o inquérito para a Divisão de Homicídios do DHPP (Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa) da Polícia Civil para apurar o caso. A Corregedoria da corporação também foi oficiada.
O que diz o governo
A reportagem encaminhou os vídeos e questionou a Secretaria da Segurança Pública sobre o caso cuja assessoria terceirizada, a In Press, reiterou o conteúdo do boletim de ocorrência por meio de nota.
Também procuramos as secretarias de Saúde: a Estadual, que é responsável pelo Hospital de Guaianases, e a municipal, sobre ter ocorrido ou não atendimento do Samu e por ser responsável pelo Hospital Cidade Tiradentes.
A Secretaria Municipal de Saúde informou que o Samu realizou atendimento na Rua dos Pedreiros, às 12h44, na data mencionada, e que a vítima foi atendida e encaminhada ao Hospital Municipal Cidade Tiradentes. “Ressaltamos que às imagens dos vídeos em questão não se tratam do atendimento do Samu”, disse a nota.
A pasta estadual informou, por telefone, que nenhum paciente identificado como Gabriel deu entrada no Hospital Geral de Guaianases, o que pode ter sido um erro na grafia do boletim de ocorrência.
Reportagem atualizada às 12h21, de 5/1/2022, para incluir posicionamento da SSP.
Atualização às 13h24, de 5/1/2022, após retorno da Secretaria Estadual da Saúde.