Após festas de fim de ano, polícia faz operação para tirar faixas que ameaçavam ‘motociclistas bagunceiros’

    Comunicado supostamente da facção criminosa PCC proibia “tirar de giro e chamar no grau” nas comunidades, e os transgressores estariam “sujeitos a cacete”

    Faixas apreendidas em operação da polícia com a prefeitura de Osasco, na Grande SP | Foto: Divulgação/Polícia Civil

    As festas de fim de ano em bairros das periferias de São Paulo foram diferentes em 2021. Desta vez, as recorrentes motos barulhentas e manobras arriscadas não tiveram força graças às faixas colocadas em diversos bairros ameaçando os motociclistas que não se comportassem. 

    As faixas, supostamente colocadas a mando da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital), traziam a mensagem de forma contundente: “proibido tirar de giro e chamar no grau; sujeito a cacete; não aceitamos isso na nossa comunidade”. 

    Além de cidades paulistas, há registros do comunicado em outros estados, como o Espírito Santo, onde a organização criminosa também tem forte atuação. 

    Embora as faixas tenham sido colocadas clandestinamente, moradores de bairros que receberam a suposta ordem do PCC consideraram o resultado do comunicado positivo. 

    “A gente sempre tinha esse problema com os motoqueiros bagunceiros, e nunca adiantava morador falar, porque eles continuavam botando a vida das pessoas em risco com essas bagunças. Mas esse ano quase não vimos nada disso, quem fazia era um ou outro, e rapidinho parava”, conta o comerciante Gilberto Alves, de 46 anos, morador da região do Grajaú, periferia da zona sul de São Paulo. 

    Durante o período festivo, sobretudo na semana entre o Natal e Ano Novo, a fiscalização clandestina sobre o cumprimento das ordens também intensificaram. Diversos vídeos circularam em grupos de WhatsApp com motociclistas dizendo ter se arrependido em desobedecer a comunicado, e sugerindo que todos respeitassem as novas regras antibagunça. 

    Um estudante de 22 anos da zona sul paulistana, que pediu para não ser identificado, disse que costumava fazer parte do grupo, adaptando até o escapamento de sua moto para “tirar de giro” — que é quando acelera muito o veículo até provocar pequenas explosões no escapamento —, mas neste ano decidiu ficar mais quieto. “Mesmo curtindo fazer isso, a gente entendeu que é preciso respeitar os moradores mais velhos que só querem ficar tranquilos, então não podemos atropelar a ordem que foi passada”, conta. 

    Mesmo em comunidades que não receberam a faixa, como é o caso da Favela da Ilha, na periferia da zona leste de São Paulo, a ordem estava dada e também havia a fiscalização clandestina. “Não tinha escrito em lugar nenhum, mas aqui não teve ninguém fazendo barulho com moto, e o único que presenciei tirando de giro foi rapidamente interrompido por um rapaz que mora aqui, ouviu um monte, e saiu tremendo”, conta um morador da Ilha, que também não quis se identificar.

    Faixa colocada no Grajaú, zona sul de São Paulo | Foto: Reprodução/Redes sociais

    Operação policial 

    Depois de ter passado as festas de fim de ano, que é quando fica mais intenso essa movimentação de motociclistas nas comunidades, a Polícia Civil de São Paulo realizou uma operação para identificar supostos responsáveis por colocar as faixas. 

    De acordo com a Secretaria de Segurança Pública paulista, em Osasco, na Grande São Paulo, um homem de 25 anos foi preso e um adolescente apreendido durante essa operação. Ainda foram atribuídos a eles drogas, dinheiro e um rádio comunicador apreendidos no bairro Rochdale. A operação no município contou com apoio da prefeitura, que retirou as faixas. 

    A reportagem questionou sobre a realização da operação na capital e em outras cidades paulistas, e perguntou especificamente sobre as faixas supostamente colocadas pelo PCC, mas a secretaria não respondeu. 

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