Em carta divulgada pela Ponte, homem diz ter comido cascas de banana sujas de fezes para sobreviver dentro do Centro de Detenção Provisória II de Pinheiros, em São Paulo
Ativistas dos direitos humanos participaram, na noite deste domingo (09/01), de uma conversa virtual organizada pela página da organização ABC Contra o Golpe, no Facebook, para discutir o caso do preso Washington Moraes dos Santos, de 47 anos.
Nesta semana, a Ponte divulgou uma carta escrita por ela, na qual relatava que foi obrigado a comer cascas de banana sujas de fezes para sobreviver dentro do Centro de Detenção Provisória II de Pinheiros, na zona oeste da cidade de São Paulo.
O evento deste domingo teve a participação do irmão do Washington, o ativista do movimento negro Carlos Wellington, além da vereadora de São Paulo Luana Alves (PSOL), da advogada e integrante da Rede de Proteção e Resistência contra o Genocídio Jacque Cipriany, do professor e membro do Comitê em Defesa dos Presos e Condenados pelo Sistema Judicial Brasileiro Aldo Santos e da ativista Clara Souza. A mediação foi feita pelo filósofo José Burato.
O evento começou com Wellington contando a história do irmão, e dizendo sobre o descaso do Estado no caso, e que a família chegou a pensar que o homem estava morto devido às burocracias criadas para impedir que alimentos e materiais de higiene sejam enviados ao detento.
“O que está acontecendo é extremamente triste e revoltante. O meu irmão tem muita dignidade, eu falei para ele que tenho muito orgulho dele. Agora, quem não tem que ter vergonha é o secretário, o governador”, disse o irmão, emocionado.
Washington foi condenado a 12 anos de prisão pela morte de um homem em uma briga motivada por drogas, e em uma saída de Natal, não retornou à prisão. Estava foragido há oito anos. Ele voltou para trás das grades no ano passado, para terminar de cumprir sua pena. Ele havia sido aconselhado por lideranças comunitárias com quem trabalhava no Rio de Janeiro a se entregar. Os policiais se surpreenderam com a atitude, e o atenderam de forma digna. Não havia, no entanto, um mandado de prisão em aberto para que ele pudesse ser preso novamente. Ele precisou retornar no dia seguinte.
Na conversa virtual, a vereadora Luana se solidarizou com o irmão de Washington, e destacou a importância de casos como esse serem expostos, para que outros semelhantes também sejam combatidos. No entanto, ainda segundo ela, esses casos são reflexos do “sistema carcerário que é uma extensão da escravidão no Brasil”.
“Para gente mudar a questão do sistema carcerário, que é tão perto da raiz do racismo brasileiro, é preciso mudar a estrutura do país, que pune negros e pobres”, disse Luana. “O mandato está atuando para que a família consiga ao menos levar o jumbo, mas o que vai conseguir mudar a situação do Washington é dar visibilidade para o caso e constranger o governo”.
O professor Aldo também ressaltou que o caso do Washington simboliza um problema mais amplo no país e, em especial, em São Paulo. “Estamos no estado que massacrou 111 pessoas encarceradas, então temos que estar preocupados com a vida do companheiro que está preso e em situação de risco. Precisamos também colocar esse caso na agenda mais ampla que luta pela justiça”.
O evento teve duas horas e meia de duração, e os ativistas se comprometeram a seguir acompanhando a situação de Washington, para que os alimentos enviados pela família possam chegar ao preso, e ele não sofra represálias por ter a situação exposta publicamente.