Parentes de Wesley Evangelista da Silva só souberam do falecimento do jovem quatro dias após ele ter morrido na região da Praça da Sé
Grupos que trabalham com crianças e adolescentes em situação de rua na região da Sé, no centro da cidade de São Paulo, junto com familiares de Wesley Evangelista da Silva, morto em 10 de março deste ano, proimoveram um protesto nesta terça-feira (29/3) para reivindicar que o caso fosse apurado pelas autoridades e alertaram a falta de políticas públicas para o grande número de pessoas que vivem em um dos espaços mais movimentados da capital paulista.
O jovem de 16 anos deu entrada na AMA da Sé a 0h52 do dia 10 de março deste ano, levado por policiais militares na viatura M-07403, do 7º Batalhão de Polícia Militar / Metropolitano, por ter sido agredido ou levado um choque, segundo consta no prontuário eletrônico emitido pela unidade de saúde ao qual a Ponte teve acesso. A família de Wesley não sabe informar qual o estado de saúde do jovem quando ele foi atendido pelos médicos.
A avó do rapaz, Maurina Evangelista dos Santos, de 60 anos, só soube da morte do neto quatro dias depois do ocorrido. Ela explica que desde criança Wesley deixava a casa da família no bairro do Jaçanã, na zona norte da cidade, para ficar nas ruas do entorno da Praça da Sé.
“Era normal ele passar dias e até semanas sem voltar para casa. Ele morreu numa quinta-feira e a gente só veio saber que ele morreu no domingo. Um rapaz que fazia o acompanhamento de aqui na Sé disse que fazia três dias que não tinha notícia dele. Saímos a procura dele em hospitais e delegacias e recomendaram que a gente fosse ao IML e foi lá que a gente soube, através de uma foto, que ele estava morto”, disse a avó do rapaz.
Pessoas em situação de rua que frequentam a região da Sé e conheciam o Wesley divergem sobre a forma que o rapaz foi morto. Uma das hipóteses é que ele teria sido abordado por PMs e sido espancado, a outra é que ele teria se envolvido em uma confusão com outros garotos e tomado uma surra. Wesley sofria de epilepsia, segundo os seus parentes. Até o momento a família do rapaz não registrou um boletim de ocorrência na Polícia Civil.
“Wesley era um menino muito amoroso e de bom coração. Durante a pandemia ele passou a ficar mais tempo em casa, mas era só alguém chamar que ele saia correndo para esse inferno de lugar. Ele tinha voltado a estudar, estava indo bem na escola. Queremos saber quem fez isso com ele e que se faça justiça”, relata Maurina Evangelista.
Para a educadora social da Fundação Projeto Travessia, Danielle Pallini, que conhecia o rapaz, a situação dos garotos que vivem na região da Praça da Sé é a da convivência diária com a violência no local e desamparo por parte do poder público.
“Há vários relatos de violência policial e tem também os casos do pessoal da limpeza urbana que retira os pertences e barracas de quem vive aqui neste espaço. A ausência de políticas públicas acaba gerando casos como a morte do Wesley”, define a educadora.
Ataíde França é educador social do Centro de Defesa da Criança e do Adolescente da Sé (Cedeca-Sé) e convive com os garotos que estão em situação de rua na região central de SP. Ele lembra que o caso de Wesley Evangelista não é o primeiro a ocorrer naquela área.
“Esse é o quarto ato que estamos fazendo para lembrarmos de garotos que foram mortos aqui. Desde 2014 há um número excessivo de mortes aqui, é quase um genocídio e esses casos nunca são investigados. Esses jovens só viram notícia quando cometem algum ato infracional, mas a sociedade não olha quando eles são vítimas dessa violência”, desabafa França.
Outro lado
A Ponte procurou a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo para entender se há alguma investigação sobre a morte de Wesley mais não teve resposta até a publicação deste texto.